Sabemos que o potencial do Brasil em energia eólica é hoje estimado em cerca de 300 GW a 400 GW, que são empreendimentos de rápida implantação e não têm impacto social de grande monta. Um dos benefícios da inserção da geração dessa energia no parque gerador brasileiro decorre do fato de ela complementar a geração hidrelétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN). Por exemplo, de junho a setembro, quando a vazão no Rio São Francisco diminui, ocorre maior incidência de ventos no vale do rio. Logo, a complementaridade poderá contribuir para aumentar a segurança do abastecimento energético, principalmente na Região Nordeste.
A capacidade instalada mundial de energia eólica alcançou em 2009 157,9 GW, um crescimento de 31% em relação a 2008. Em termos absolutos, os EUA têm a maior capacidade de geração eólica (35,1 GW); seguidos por Alemanha, 25,7 GW; China, 25,1 GW; Espanha, 19,1 GW; e Índia, 10,9 GW.
A energia da cana-de-açúcar, além do etanol, pode propiciar-nos nos próximos anos, por meio do bagaço da cana, 12 GW somente com as atuais usinas. Ou seja, uma nova Itaipu. No caso da biomassa de cana, a tecnologia já está dominada e seu contínuo desenvolvimento já se dá de forma natural. No caso das eólicas, há uma tendência de ampliação de sua competitividade na medida em que as indústrias se desenvolvam, tornando o Brasil uma plataforma de produção com domínio tecnológico dos aerogeradores e componentes.
No caso da biomassa, há problemas para o seu avanço como importante geradora de energia. Por exemplo, a conexão das usinas ao SIN, que poderia ser resolvida com a transmissão sendo levada até as usinas; e a não existência de leilões por fonte e por submercados. Em São Paulo a rede da CPFL, por exemplo, não está dimensionada para transportar produção, mas para suprimento da carga, uma realidade insustentável.
Está sendo elaborada uma regulamentação que permita estabelecer redes coletoras para interligar as usinas ao SIN. A solução seria planejar uma rede coletora de geração distribuída (GD) composta por ramais de rede básica (>230kV) e uma subestação coletora de GD localizada no centro de gravidade da GD (bioeletricidade, PCHs, UTEs) e “no pé de torre” da rede básica existente, com mínimo custo global.
O fato novo e que chamou a atenção no último leilão de energia foi o desempenho da energia eólica. A complementaridade com as UHE’s é biunívoca, seja eólica no Nordeste, seja biomassa no Sudeste. Necessita-se, com urgência, definir a energia assegurada dessas fontes por certificadora independente. Essa definição é fundamental, na medida em que teremos os preços dessas energias próximos à realidade de cada uma e, ao mesmo tempo, impediremos que produtores, no afã de ganhar leilões, forneçam fatores de carga que nunca serão alcançados. A atual assimetria da regulamentação da transmissão está fazendo com que as vantagens dessas fontes sejam transferidas ao preço de produção.
É necessário aplicar às fontes eólica e biomassa, o quanto antes, o mesmo conceito do Mecanismo de Realocação de Energia aplicável às hidrelétricas para ampliar o chamado “efeito portfólio”.
ADRIANO PIRES É DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE).
ABEL HOLTZ É ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.