Nos vales do centro do Chile, terra de castas de uva como Carmenere, Cabernet Sauvignon ou Merlot, os produtores de vinho colhem à noite, recorrem ao esterco de cavalo e resgatam técnicas antigas para enfrentar a falta de água e as mudanças climáticas.
Após mais de uma década de seca, os vinicultores dos vales de Colchagua e Cachapoal, localizados em uma das regiões que mais produzem vinho no Chile, aprenderam a conviver com quantidades menores de água.
“Estamos retomando práticas que provavelmente tínhamos antes, mas em uma escala maior e de forma sistemática”, disse à agência AFP Soledad Meneses, chefe de comunicação da Viña Conosur, subsidiária da Concha y Toro, maior produtora da América Latina.
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A última colheita de março, no final do verão, foi uma das mais quentes já registradas na região. Caso as temperaturas continuem aumentando, a cor, acidez e teor alcoólico do vinho podem mudar no Chile, o quarto produtor mundial desta bebida.
Estas temperaturas elevadas obrigaram os produtores a migrarem para regiões mais frias, como a ilha de Chiloé, 1.200 quilômetros ao sul de Santiago, onde a Viña Montes instalou seu primeiro vinhedo experimental, ou a Patagônia, onde já estão sendo produzidos vinhos após os termômetros registrarem entre 14 e 32ºC no verão.
Agricultura regenerativa
As videiras do vale de Apalta da Viña Montes crescem protegidas por uma cobertura vegetal que reduz a erosão e a compactação do solo, favorecendo a proliferação de organismos naturais que combatem as pragas. O funcionamento acaba reduzindo o uso de fertilizantes e água.
Este solo “mais esponjoso” retém mais água no inverno e “contribui para baixar a temperatura, reduzir a transpiração e evaporar menos água” no verão, explicou Rodrigo Barría, gerente agrícola da Viña Montes.
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As vinhas diminuíram de tamanho (passaram de 1,20 metro para 80 cm) e crescem entre a vegetação rasteira do local, onde o consumo de água foi reduzido em 15%. Como resultado, as uvas são menores, mas de melhor qualidade.
“Apesar de um ano quente como o que aconteceu, tivemos frutos muito bons”, acrescenta Barría.
Em Peralillo, o vinhedo La Playa utiliza fertilizantes compostos de esterco de cavalo e vaca, além de resíduos orgânicos do hotel que funciona no local. Além disso, centenas de ovelhas pastam nos campos para afastar as ervas daninhas que também crescem entre as uvas e outras árvores frutíferas. A técnica permite economizar herbicidas e contribui para a qualidade do vinho.
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Já no vinhedo de Conosur, em Chimbarongo, as bombas que irrigam o local são alimentadas por uma usina fotovoltaica, que, somada a outras ações, reduziu em 38% o consumo de energia. Também foram construídos corredores com espécies nativas que cultivam na sua própria estufa e que ajudam a conter os frequentes incêndios florestais.
A vinha Vik, em Millahue, por sua vez, realiza colheitas à noite e de forma manual para garantir uma maior qualidade da fruta. O vinhedo também desenvolveu uma arquitetura sustentável, com um impressionante teto d’água que resfria naturalmente os barris e a adega, que está integrada a uma exclusiva galeria de arte de seu hotel.
“É uma enologia que não existe e que tenta fazer esse processo romântico de circular o vinho: tudo sai da natureza e volta para a natureza”, diz Cristián Vallejo, enólogo-chefe da Vik, que tem o Brasil como principal mercado. / AFP