THE WASHINGTON POST - Com o desafio de tentar apoio no Congress, o governo Joe Biden (Estados Unidos) orquestrou uma nova proposta de grandes organizações filantrópicas e empresas para um sistema de comércio de carbono que canalize dinheiro privado para o desenvolvimento de energia limpa a países em desenvolvimento.
Buscando aproveitar esse financiamento para uma transição que governos ricos se recusaram a “entrar”, o grupo espera atrair mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 518 bilhões) até o fim da década, cortando de 1,3 bilhão a 2,3 bilhões de toneladas de poluição climática, segundo a consultoria Climate Advisers.
A coligação, que inclui o enviado climático da Casa Branca John Kerry, revelou seu plano na Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU) em Sharm el-Sheik, no Egito, conhecida como COP-27, e rapidamente enfrentou críticas. Nesta cúpula controversa, os países em desenvolvimento criticaram as nações ricas por não ajudarem a resgatá-las dos piores impactos de um planeta em aquecimento.
“Países ricos estão aumentando seu apoio - mas ainda não o suficiente. Nosso governo está trabalhando o máximo que pode para entregar”, disse Kerry ao anunciar o programa. “Espero que hoje seja o começo disso para que entreguemos benefícios reais e duradouros para os países em desenvolvimento.”
Apoiadores - como o Departamento de Estado junto à Rockefeller Foundation, Bezos Earth Fund e empresas como PepsiCo e Microsoft - dizem que a proposta pode ser a maneira mais eficaz de financiar energia limpa e fechar usinas de carvão na ausência de cooperação global.
“A única maneira de evitar a catástrofe climática é nos unirmos de novas maneiras e correr atrás de inovações, como os mercados de carbono”, disse Raj Shah, presidente da Rockefeller. A partir de dezembro, a Bezos e a fundação do diretor fornecerão recursos iniciais para apoiar futuras negociações.
Muitos no Egito responderam ao anúncio de Kerry com algum ceticismo, opinando que as empresas dos EUA deveriam se concentrar em reduzir sua própria poluição de carbono antes de pagar pelos cortes de emissões nas nações em desenvolvimento. “Agora não é hora de mercados voluntários de carbono, é hora de reduções”, disse um funcionário de alta cúpula europeu.
O anúncio também ocorre um dia após a ONU divulgar um relatório especializado sobre compromissos de neutralidade do elemento, que alertou que tais promessas representam o risco de serem vistas como “banho verde” - apropriação de virtudes ambientalistas por parte de organizações ou pessoas com técnicas de marketing - se não forem apoiadas por planos robustos para realmente reduzir as emissões.
A capacidade de reivindicar menor produção de poluentes por meio de compensações pode permitir que as empresas evitem reduzir seu próprio carbono, disse o relatório.
“A ausência de padrões, regulamentos e rigor nos mercados voluntários é profundamente preocupante”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, na terça-feira. “As metas devem ser alcançadas por meio de cortes reais.” / TRADUÇÃO DE FABIO TARNAPOLSKY
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