Os resultados de uma COP, assim como dependem das ações dos governos nacionais e locais, também só darão resultados se eles forem abraçados pelo setor privado. Se o foco nos negócios precisa continuar, a questão ambiental também não pode mais deixar de ser protagonista, muito pelo contrário. É nessa linha que o estudo Boas Práticas Empresariais na Amazônia, realizado pelo Movimento Empresarial pela Amazônia (MEA), iniciativa do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) que promove o desenvolvimento sustentável da região, ajuda a entender o que vem sendo feito na maior floresta tropical do planeta. Os autores do trabalho se debruçaram sobre 143 iniciativas e detalharam 11 delas. Em vários casos, o protagonismo também é capitaneado pelas populações locais.
Um dos exemplos, segundo o documento elaborado com apoio do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), desenvolvido pela Amazon, TNC e Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (Icraf), tem como meta remover 9,6 milhões de toneladas de carbono da atmosfera em 30 anos. A iniciativa visa beneficiar 3 mil famílias e uma área total de 18 mil hectares. O essencial do plano é acelerar a recuperação de áreas degradadas ou improdutivas via sistemas agroflorestais. O resultado gera, na prática, um ganha-ganha. Por um lado, geram-se créditos de carbono e, por outro, impulsiona-se a renda, no caso, de agricultores que cultivam cacau e açaí.
“O material aponta para algumas estratégias e abordagens já consolidadas que geram impacto positivo e também traz modelos inovadores que servem como inspiração para outras empresas. Esse estudo prova que é possível desenvolver negócios mantendo a floresta em pé e envolvendo os mais diversos atores regionais”, afirma Marina Grossi, presidente do CEBDS.
De acordo com a executiva, o fato de a equipe que elaborou o trabalho ter se aprofundado em 11 projetos garimpados previamente é sintomático. “O objetivo era apontar iniciativas que fossem escaláveis e replicáveis. O conceito de escala na Amazônia é muito particular, por isso nosso grande propósito foi justamente dar luz às práticas positivas que já estão gerando impacto para atrair mais investimentos, bem como gerando lições que possam ser replicadas em outros territórios e contextos”, diz Marina.
Um fio condutor que emerge da análise reforça uma percepção que a equipe do MEA já tinha, confirma a presidente do CEBDS. “O estudo reforçou ainda mais a necessidade de incluir atores locais na execução dos projetos. Quaisquer iniciativas de sucesso na região têm necessariamente de ancorar sua atuação em instituições locais com forte presença na região”, explica. Mas o fato de haver exemplos de boas práticas em curso na Amazônia também não significa que os desafios que existem pela frente ainda não são grandes.
Um deles, segundo Marina, é a escassez de mão de obra especializada na região para determinadas demandas. Nesse sentido, explica a executiva, capacitação e assistência técnica são fundamentais, assim como a logística e o escoamento da produção local. “Temos também a falta de tecnologias adequadas à realidade da região e de monitoramento de impactos pelas atividades produtivas, que faz com que a região fique em desvantagem em relação às demais do País. Outro desafio é o de gerar renda sustentável com o envolvimento de comunidades longínquas e de difícil acesso a políticas públicas básicas”, avalia a presidente do CEBDS.
Mão na massa Alguns exemplos também mapeados
• No Estado do Amazonas, produtores locais fornecem borracha para quem precisa. Michelin, WWF-França, WWF-Brasil, Memorial Chico Mendes e Fundação Michelin estão envolvidas com o projeto que, no futuro, deverá beneficiar até 3,8 mil famílias de forma tanto direta quanto indireta.
• No Pará, mais especificamente no Tapajós, Baixo Tocantins e Médio Juruá, o principal objetivo de um programa que reúne vários parceiros, entre eles a Natura, a Conexus, o Projeto Saúde e Alegria e o Sebrae, é contribuir para o fortalecimento da floresta em pé. Além de estimular o empreendedorismo e o desenvolvimento territorial. Entre os principais impactos da ideia, está o investimento em mais de 20 cadeias da sociobiodiversidade local. O que deve beneficiar mais de 2 mil famílias e envolver 13 cooperativas das regiões.
• Melhoria da qualidade de vida dos produtores locais também é o objetivo de um programa desenvolvido pela Suzano nos Estados do Pará, Maranhão e Tocantins. Em termos de produtos promovidos pela iniciativa, que foca a gestão, a produção e a comercialização, existem várias frentes. Por exemplo, farinha de mesocarpo, óleo de babaçu, açaí em polpa, carvão, amêndoas e artesanato.
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