A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, responsável pelas mudanças climáticas, atingiu níveis recordes em 2022, uma tendência crescente que não parece se reverter, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira, 15.
No ano passado, as concentrações médias globais de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa, ultrapassaram pela primeira vez em 50% os índices pré-industriais. No caso do CO2, a concentração só pode ser comparada ao registrado há 3 a 5 milhões de anos, quando a temperatura era de 2 a 3 graus mais alta e o nível do mar estava entre 10 e 20 metros mais elevado. Tudo indica que essa tendência continuou este ano e deve persistir no futuro próximo, de acordo com novos dados divulgados hoje pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o braço científico das Nações Unidas.
O boletim anual de gases de efeito estufa é divulgado duas semanas antes da grande conferência anual da ONU sobre o clima, a COP28, de 30 de novembro a 12 de dezembro em Dubai.
As concentrações de metano e os níveis de óxido de nitrogênio também atingiram níveis recordes em 2022 e registraram o maior aumento anual já observado.
“Apesar de décadas de advertências por parte da comunidade científica (...), continuamos na direção errada”, afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
O objetivo do Acordo de Paris, de 2015, é limitar o aquecimento global a menos de 2 graus Celsius desde a era pré-industrial, e a 1,5ºC, se possível.
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Segundo um relatório anterior da ONU, a temperatura média do planeta em 2022 já estava 1,15ºC acima da da era pré-industrial.
“O nível atual de concentrações de gases de efeito estufa nos leva a um aumento das temperaturas muito acima das metas do Acordo de Paris até o final do século”, alertou Taalas.
Em paralelo a esse aumento de temperaturas, haverá mais fenômenos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações, derretimento de glaciares e elevação e acidificação dos oceanos, explicou o meteorologista finlandês que liderou a OMM nos últimos oito anos e que passará o cargo para sua sucessora nas próximas semanas, a argentina Celeste Saulo.
“As condições meteorológicas se tornarão mais extremas e testemunharemos um forte aumento nos custos socioeconômicos e ambientais”, acrescentou o responsável da OMM.
“Não há solução mágica”
Em 2022, a concentração atmosférica de dióxido de carbono foi de 417,9 partes por milhão (ppm), a de metano foi de 1.923 partes por bilhão (ppb) e a de óxido nitroso, de 335,8 ppb, um aumento de 150%, 264% e 124%, respectivamente, em comparação com o ano de 1750.
O dióxido de carbono, responsável por cerca de 64% do efeito de aquecimento do clima, provém principalmente da queima de materiais fósseis e da produção de cimento, segundo a OMM.
Enquanto as emissões continuarem, o CO2 continuará se acumulando na atmosfera e causando um aumento na temperatura global.
Levando em consideração a vida útil do CO2, o aquecimento já observado persistirá por várias décadas, mesmo que as emissões líquidas sejam reduzidas rapidamente a zero.
“Não há uma varinha mágica para remover o excesso de dióxido de carbono da atmosfera”, disse Taalas, que considera “urgente reduzir o consumo de combustíveis fósseis”.
O metano, que contribui com 16% para o aquecimento global, é um poderoso gás de efeito estufa que permanece na atmosfera por cerca de dez anos.
Sua taxa de crescimento no ano passado foi ligeiramente inferior à taxa recorde observada entre 2020 e 2021, ao mesmo tempo em que foi significativamente superior à taxa de crescimento anual média dos dez anos anteriores.
Quanto à taxa de aumento do óxido nitroso no ano passado, responsável por cerca de 7% do aquecimento, “nunca foi tão alta nos tempos modernos”. / AFP e EFE
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