Governo vê risco de seca isolar Manaus, discute estocar suprimentos e teme pirataria

Situação foi discutida entre técnicos nesta segunda-feira, 2, no Palácio do Planalto. Polícia Federal participou do encontro

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Foto do author Caio Spechoto

BRASÍLIA – O governo federal vê risco de a seca que atinge a Amazônia baixar o nível dos rios a ponto de isolar Manaus do ponto de vista logístico – ou seja, deixar impossível o transporte de mercadorias por via fluvial até a capital do Amazonas, de 2,3 milhões de habitantes. A situação foi discutida entre técnicos nesta segunda-feira, 2, no Palácio do Planalto. Segundo apurou o Broadcast Político, foi apresentada uma projeção de que esse nível pode ser atingido dentro de 22 dias.

A principal preocupação é com a estocagem de combustíveis – outros itens essenciais, mas menos volumosos, como remédios, poderiam ser transportados de avião em caso de emergência. Uma possibilidade seria levar combustíveis até Itacoatiara (AM), que fica mais próxima da foz do Amazonas que Manaus e tem acesso à capital do Estado por via terrestre. O trajeto do mar até a cidade pelo rio teria menos chances de ficar comprometido do que até a capital do Estado.

Barco navega no Rio Negro, em Manaus, em meio a fumaça oriunda de queimadas na região Foto: Edmar Barros/AP - 27/8/2024

O governo se preocupa com a atividade de piratas na região. Um aumento no movimento de cargas no local poderia ser um chamariz para os criminosos. Esse foi um dos motivos de a Polícia Federal estar representada na reunião técnica desta segunda-feira, na Casa Civil, que também teve a participação do Ibama e outros órgãos.

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Além disso, foi discutida a situação de navegabilidade de outros rios amazônicos, como o Madeira. O nível da água em alguns locais está tão baixo que, na avaliação de fontes ouvidas pela reportagem, nem dragagens seriam suficientes para normalizar o tráfego.

Atualmente, o problema ambiental que mais mobiliza as principais autoridades do Palácio do Planalto são os incêndios na Amazônia, no Pantanal, em São Paulo e outros lugares. Havia a expectativa de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reunir governadores na semana passada para discutir o assunto. O Broadcast Político apurou que, até aquela data, não havia sido fechada uma proposta federal para apresentar aos chefes de governo estadual.

O tema continuou sendo debatido, mas em esferas de poder mais baixas. Há a expectativa de o tempo ficar mais seco nas próximas semanas, deixando o cenário ainda mais favorável para queimadas.

Solimões vê seca recorde

O Rio Solimões chegou ao menor nível da história no trecho que passa pela cidade de Tabatinga, no Amazonas, de acordo com relatório divulgado pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB) na sexta-feira, 30. O nível medido do rio na data foi de -94 cm. Antes, o nível mais baixo registrado nesse trecho havia sido de -86 cm, em 2010.

O número negativo não significa que o rio esteja sem água, explica o SGB. Na realidade, o índice indica que a água está abaixo do nível de referência definido em cada estação de medição. No caso do trecho em questão, também foi registrado um número negativo em 2023, com -72 cm.

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“O Solimões chegou às cotas mais baixas de maneira antecipada”, afirmou o gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Superintendência Regional de Manaus (SUREG-MA), Andre Martinelli, em comunicado do SBG. “Nas duas únicas vezes em que observamos cotas negativas, 2010 e 2023, a mínima foi atingida somente em outubro. Por essa análise, e diante da previsão de chuvas abaixo do esperado para as próximas duas semanas, as projeções indicam que o cenário pode se agravar”.

A situação crítica no Solimões pode influenciar outros rios da região, pois o rio está na cabeceira da Bacia do Amazonas. De acordo com o boletim hidrológico, os rios Acre e Madeira também registraram medições particularmente baixas.

Segundo especialistas, o aquecimento global vai tornar os extremos climáticos cada vez mais graves e frequentes. A floresta tem enfrentando estiagens severas, o que a torna mais suscetível a queimadas. No primeiro semestre, a Amazônia bateu recorde de focos de incêndio.

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