BRASÍLIA - O governo federal deu início às ações de repreensão ao crime e de retirada dos garimpeiros da terra indígena Yanomami, em Roraima. Entre a segunda-feira, 6, e o início da noite de terça-feira, 7, foram destruídos um helicóptero, um avião, um trator de esteira e estruturas de apoio logístico ao garimpo. Foram apreendidas ainda duas armas e três barcos, com cerca de 5 mil litros de combustível.
A ação foi liderada por agentes do Ibama, com apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Força Nacional de Segurança Pública.
Ibama e Força Nacional instalaram uma base de controle no rio Uraricoera, principal rota fluvial da região, para impedir o fluxo de suprimentos para os garimpos. Além de gasolina e diesel, os barcos apreendidos carregavam cerca de uma tonelada de alimentos, freezers, geradores e antenas de internet.
Todos os suprimentos serão usados para abastecer a base de controle. Nenhuma embarcação com carregamento de combustível e equipamentos será autorizada a seguir daquele ponto de bloqueio em direção aos garimpos.
A instalação de bases de controle será estendida para outras áreas da terra indígena. A estrutura logística é fornecida pela Funai, com o apoio dos próprios indígenas nesta fase da operação.
A ação aérea é realizada pelo Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) do Ibama, que monitora pistas de pouso clandestinas na região. Sobrevoos para identificar e destruir a infraestrutura do garimpo, como aviões, helicópteros, motores e instalações, serão mantidos. O trator destruído era usado para abrir “ramais” na floresta.
O Ibama também fiscaliza distribuidoras e revendedoras responsáveis pelo comércio irregular de combustível de aviação que abastece os garimpos.
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O objetivo principal da operação é inviabilizar linhas de suprimento e rotas que abastecem e escoam a produção do garimpo, além de garantir a permanência das equipes de fiscalização por prazo indeterminado.
As ações foram acompanhadas pela Procuradoria Nacional de Defesa do Clima e do Meio Ambiente, da Advocacia-Geral da União (AGU).
Cerca de 350 indígenas estão internados nos hospitais de Roraima. Mulheres e crianças são as mais atingidas. “A área Yanomami virou campo de concentração”, disse o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba.
O hospital da base Surucucu ainda está em montagem dentro do plano de contingência e a Casai, que é o hospital de atendimento indígena, abriga 281 Yanomamis, sendo mais de 50 crianças em quadro grave de desnutrição. Segundo Tapeba, o polo de referência do Surucucu estava sem água, internet, telefone e energia.
Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que foram identificadas 75 pistas clandestinas próximas do território indígena Yanomami. A região possui uma profusão de rotas aéreas clandestinas, com atividade dentro e fora do território nacional, mantida pelo crime organizado para extrair ouro e cassiterita.
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Desde a semana passada, a Força Aérea Brasileira (FAB) aumentou o controle do espaço aéreo na região, com o objetivo de neutralizar o tráfego de aeronaves relacionadas à mineração ilegal, em um trabalho de estrangulamento logístico do crime que reúne cerca de 25 mil garimpeiros na floresta.
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“Temos 840 pistas clandestinas, só perto das terras Yanomami são 75. Não é possível não enxergar isso. Quem permitiu isso tem de ser responsabilizado”, escreveu o presidente, no Twitter. Na segunda-feira, a FAB anunciou a abertura parcial do espaço aéreo nas terras indígenas Yanomami, com a criação de três corredores de voo para viabilizar a saída de garimpeiros da região. Os mineradores, que têm pedido ajuda às autoridades para sair do território, terão uma semana para aproveitar a alternativa oferecida pela FAB, uma vez que os corredores vão ficar ativados até a próxima segunda-feira.
Mai sobre a crise Yanomami
O governo estima que 15 mil garimpeiros ilegais estejam na região, mas que “milhares” já começaram a sair por conta própria antes do início de uma operação policial coercitiva, programada para apreender e destruir equipamentos e pistas clandestinas, e efetuar prisões em flagrante. A expectativa é de que 80% dos garimpeiros saiam do território ao longo desta semana.
Nos últimos dias, mineradores e mulheres gravaram vídeos pedindo socorro às autoridades e ajuda para conseguirem sair da região. Eles relatam dificuldades para deixar a área indígena e que pessoas doentes estão ilhadas no local.
No último dia 20, o Ministério da Saúde declarou emergência em saúde pública de importância nacional para a situação vivida pelo povo Yanomami. A medida foi tomada porque o território, com mais de 30 mil indígenas, tem sofrido com casos de insegurança alimentar, desnutrição infantil, doenças e falta de acesso da população à saúde.