Ilhas são ícone da conservação

Arquipélago dos Alcatrazes foi onde Sylvia iniciou visita; parceria com Marinha foi  essencial para proteção,  afirma João Lara Mesquita

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Sylvia e o vice-almirante Antonio Carlos Guerreiro, em Alcatrazes Foto: JULIO CARDOSO/PROJETO BALEIA À VISTA

Sylvia Earle começou sua visita ao Brasil por um dos lugares mais simbólicos da conservação marinha no Brasil: o Arquipélago dos Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo. Dotado de uma beleza pré-histórica, Alcatrazes passou quase 30 anos fechado à visitação pública, sendo usado como área de treinamento de guerra da Marinha do Brasil. 

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Até que, em agosto de 2016, militares e ambientalistas entraram em acordo. O arquipélago foi declarado área protegida federal – mais especificamente, um Refúgio de Vida Silvestre, ou Revis.

Estudos mostram que Alcatrazes abriga a maior biodiversidade de peixes da costa brasileira. E a presença da Marinha, apesar dos conflitos, ajudou a preservar – e recuperar – grande parte dessa riqueza biológica, que vinha sendo depauperada pela pesca, diz o jornalista, ambientalista e navegador João Lara Mesquita.

Nos anos 1960, ainda criança, ele testemunhou a abundância da vida marinha do arquipélago, vendo seu pai, um ávido pescador, tirar anchovas e mais anchovas de lá. Nos anos 1980, viu essa riqueza diminuir drasticamente. Agora, recentemente, voltou a mergulhar no local e se surpreendeu com a quantidade e variedade de vida que viu.

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Ao manter os pescadores afastados, a Marinha permitiu que a vida marinha florescesse de novo no arquipélago. “Essa é a grande mensagem da Sylvia: Ainda dá tempo. Apesar de todo o estrago que a gente causou, ela é otimista”, diz Mesquita, um grande admirador da cientista americana. “O livro dela abriu meus olhos para muita coisa.”

Evidências. A história de Alcatrazes, diz ele, é prova de que Sylvia está correta ao defender a criação de áreas protegidas como “paraísos” para reverter a perda da biodiversidade marinha. “É só dar um tempo que a vida volta.”

E para isso, no Brasil, a parceria com a Marinha é essencial, afirma Mesquita – ressaltando que a corporação sofre com a falta de recursos financeiros e humanos. “Se a gente quiser o oceano brasileiro bem protegido, precisamos de mais recursos para a Marinha.”

Risco de um tiro pela culatra

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Durante a entrevista, João Lara Mesquita se mostrou particularmente preocupado com boatos que vinham da reunião no México, o World Ocean Summit 2018, com a presença da delegação brasileira, de que a Marinha teria exigido que a ilha de Trindade e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo fossem completamente excluídos da zona de proteção integral das áreas protegidas. Se isso acontecer, disse ele, será um tiro pela culatra do governo Michel Temer. No lugar de aplausos, ele ganhará vaias. E quando se tornar público, reiterou, a situação do presidente e do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, ficarão insustentáveis.  Tal desfecho, segundo Mesquita, seria uma enorme frustração imposta aos milhares de brasileiros que assinaram cartas e e-mails pedindo a proteção real dos dois arquipélagos.

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