Diante do frio registrado neste último final de semana em São Paulo – no dia 17, o Centro de Gerenciamento de Emergências da prefeitura capital registrou a média de temperaturas mínimas de 8,5°C, recorde em 2023 –, muita gente imaginou que o inverno será ainda mais frio do que costuma ser. Os meteorologistas, no entanto, apontam o contrário: a estação mais fria do ano, que vai começar exatamente às 11h58 desta quarta-feira, 21, e se estende até as 3h50 do dia 23 de setembro, será menos fria do que a média.
O inverno não deve ser muito rigoroso no Brasil este ano, segundo as previsões climáticas. Em entrevista à Radio Eldorado nesta terça-feira, 20, a meteorologista Maria Clara Sassaki, da Climatempo, explicou que a expectativa para uma estação menos gelada está associada às influências do fenômeno El Niño, que vai deixar a atmosfera mais aquecida e diminuir a frequência e a intensidade das ondas de frio no País - com a exceção da região Sul.
“Por incrível que pareça, apesar do frio que a gente sentiu nos últimos dias, o inverno deste ano não será tão rigoroso na maior parte do Brasil”, afirmou Maria Clara. “Se comparar a temperatura média durante todos os meses de inverno de 2023, teremos, no final da estação, uma temperatura média acima do normal em todas as regiões do País. A única exceção será o Rio Grande do Sul, que deve registrar temperatura um pouco abaixo do normal”, disse a meteorologista.
As frentes frias que sobem pelo Brasil, explica meteorologista, vão se estacionar sobre o Estados do Sul, e não devem ultrapassar os limites do Paraná para alcançar as regiões do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. “Vai ter geadas no Sul, mas as ondas de frio não têm força para chegar ao Sudeste”, comentou. “Teremos ondas de frio, sim, mas elas serão de curta duração. Não teremos dias prolongados de temperaturas extremamente baixas, como abaixo dos 10 graus Celsius”.
Isso também se refletirá no regime de chuvas durante a estação. O inverno, que se caracteriza por ser mais seco, deverá ser mais úmido, com chuvas acima da média no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
“Nesses três Estados, acontece o bloqueio de frentes frias, que acabam ficando posicionadas na região Sul do Brasil e, por isso, a chuva (nesta região) deve superar a média climatológica do País”, comenta Maria Clara. “Agora, Sudeste, Centro-Oeste, Norte, Nordeste não chove mesmo, principalmente no interior do Brasil. Não tem previsão de chuvas significativas nestas regiões do Brasil”, completou a especialista.
O inverno menos rigoroso previsto para este ano deve destoar dos três últimos, quando o Brasil sofreu as influência do fenômeno La Niña. “Em maio do ano passado, tivemos o dia mais gelado em várias cidades do centro-sul do Brasil. As ondas de frio são antecipadas em anos de La Niña e agora, quando temos o fenômeno do El Niño atuando, temos ondas de frio chegando mais tarde, com menor intensidade e com menor duração.”
O El Niño se caracteriza pelo aumento anormal da temperatura da superfície do Oceano Pacífico, na região próxima à Linha do Equador. O La Niña é outro fenômeno climático, exatamente oposto ao El Niño: caracteriza-se pelo resfriamento anormal da temperatura desse mesmo oceano, também na região equatorial.O La Niña se instalou em 2020 e durou três anos, com um breve período de neutralidade em 2021. Terminou em fevereiro passado, como foi anunciado em março pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês).
Em abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertou para a formação do El Niño, o que foi confirmado recentemente pelo mesmo NOAA. Durante a vigência desse fenômeno, as águas do oceano Pacífico ficam pelo menos 0,5°C mais quentes do que a média, o que impacta nas condições climáticas em várias regiões do mundo. Não é possível prever quanto tempo vai perdurar essa situação, mas modelos matemáticos usados por centros de pesquisa climática indicam uma probabilidade acima de 90% de permanência do El Niño durante todo o inverno, com chance de se prolongar até a primavera.
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