O empreendimento social Madre Frutos não é apenas responsável por retirar pelo menos 7.200 jaqueiras da Mata Atlântica, uma espécie invasora no bioma. O programa também publica e divulga receitas que podem ser feitas com a jaca, com o objetivo de fomentar a economia local e incentivar o consumo da fruta. Os alimentos produzidos a partir do fruto vão desde bolinhos até quibes. E mais: a fábrica do projeto gera empregos na comunidade Santo Antônio, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, e se destaca por promover sustentabilidade financeira por meio de renda e retorno financeiro.
Funciona assim: após a colheita das jacas, antes do amadurecimento, os frutos são limpos com máquinas de lavagem a jato. Depois, eles são cortados e colocados em panelas de pressão, nas quais são cozidos. Por fim, as partes da jaca são separadas e embaladas, sendo estocadas em uma câmara fria. Dali, os frutos podem, por exemplo, ser enviados a restaurantes. Alternativamente, a jaca pode servir para o consumo interno ou para a venda no bairro de Xerém.
O Madre Frutos é parte do Instituto Sinal do Vale, centro de regeneração ambiental de 200 hectares fundado há 18 anos e que conta com projetos baseados na infraestrutura verde. A organização já plantou mais de 50 mil árvores e ainda administra um viveiro de 10 mil mudas de árvores nativas. Além disso, aproximadamente 50 hectares de terras degradadas estão prestes a serem regeneradas sob a administração do instituto.
O objetivo do Sinal do Vale para 2030 é ser um exemplo de uma nova economia local que possa trazer um tipo de produção que não implique destruição. Dessa forma, seria possível recuperar os ecossistemas sociais e naturais, promovendo a biodiversidade da região em questão.
“O consumo da jaca verde tem um papel importante para o meio ambiente, pois ela é uma alternativa à carne nas formas de ceviche, moqueca, etc. Assim, é possível diminuir o desmatamento e as emissões de metano que a produção da carne envolve”, explica Katie Weintraub, coordenadora de parcerias do Madre Frutos.
Justamente por ser uma espécie invasora e muito adaptável, a jaqueira pode ser vista como um obstáculo ao crescimento de outras árvores em determinadas regiões. Desse modo, o projeto é especialmente benéfico à natureza.
“A jaqueira tem um papel importante nos ecossistemas. Ela sofre preconceitos por ser uma árvore exótica, considerada invasora. No entanto, ela é essencial, pois captura carbono, impede erosão, cresce em locais difíceis para outras vegetações e providencia fruta para animais da área. Além disso, ela é resiliente, não exige herbicidas e pesticidas. É uma espécie muito importante para a segurança alimentar nesse contexto de árvores que não têm crescido tanto devido à mudança dos ecossistemas”, acrescenta Katie.
Os avanços do Madre Frutos e do Instituto Sinal do Vale são notáveis. Segundo a fundadora, Thais Corral, programas do tipo são essenciais para assinalar a possibilidade de pessoas de diferentes setores colaborarem em caminho a uma transição climática mais saudável.
“Os projetos são importantes para o mundo e para a sociedade porque são maneiras, ainda pontuais, de mostrar o caminho. Estamos em plena transição para formas de viver mais sustentáveis, e a economia tem de acompanhar isso. Não podemos mais produzir e criar benefícios financeiros para um grupo pequeno de pessoas gerando em contrapartida externalidades que afetam um número enorme de pessoas”, salienta Thais.
O Madre Frutos foi um dos vencedores do Prêmio Sustentabilidade da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). “Se não fossem aproveitadas pelo projeto, essas sementes continuariam se expandindo de forma desordenada”, diz Thiago Valente, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário. O Instituto Sinal do Vale participa do Viva Água, movimento idealizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para fortalecer soluções ligadas a negócios sustentáveis e qualidade de vida.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.