BRASÍLIA - O assessor especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, disse nesta terça-feira, 28, que os americanos vão participar do financiamento de programas ambientais previstos no Fundo Amazônia, entre outros acordos de proteção à região. O valor exato do repasse dos americanos para a iniciativa, porém, ainda não foi divulgado.
Kerry sinalizou que, apesar da vontade do governo americano, é preciso que o assunto passe, antes, pelo crivo do Congresso dos EUA. ““Teremos uma luta legislativa para aprovação da transferência para o Fundo Amazônia”, afirmou.
Em encontro com a ministra do Meio Ambiente e Mudança no Clima (MMA), Marina Silva, John Kerry elogiou a condução do assunto pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o presidente Joe Biden trata do tema como pauta central de sua gestão.
“A preservação da floresta é crítica e essencial. O presidente Joe Biden está profundamente envolvido com essa questão. Temos compromissos de trabalhar com Fundo Amazônia, com outras entidades, novas possibilidades”, comentou Kerry.
O assessor do governo americano disse que pretende voltar ao Brasil nos próximos meses, para fazer uma visita in loco à Amazônia, ao lado de Marina Silva. Kerry destacou o papel de protagonismo do Brasil sobre a preservação ambiental e disse que o País “estará à frente da definição dessa jornada”, uma vez que a manutenção da Amazônia “é o teste de toda a humanidade”.
Ao lado de Kerry, Marina Silva destacou o papel de parceria entre o Brasil e os EUA. “Há uma compreensão dos nossos países, naquilo que foi manifestado pelo presidente Lula e o presidente Biden. Temos um grande desafio para resolver, um grave problema da humanidade, que é o problema da mudança climática. A questão é como combater as consequências, os efeitos negativos dessa mudança do clima, sem que a gente venha a criar prejuízos, em termos de ganhos econômicos sociais que melhorem a vida das pessoas”, disse Marina.
A ministra do MMA afirmou que um grupo de trabalho de alto escalão vai trabalhar nas pautas bilaterais sobre o assunto. Marina disse que EUA vão se mobilizar para prover seus recursos, mas que o país tem a “complexidade deles”.
Segundo Marina, além da questão financeira, os Estados Unidos têm um peso político a desempenhar sobre o assunto. “Estamos todos muito agradecidos com o empenho do governo americano em dar consequência a essa agenda. Discutirmos um tema que, para nós, é muito importante e que já foi anunciado pelo presidente Lula e o presidente Biden, em relação aos Estados Unidos fazerem parte do Fundo Amazônia. Essa é uma cooperação que já vem acontecendo em relação a Noruega a Alemanha, e que conta com a filantropia global. Celebramos que os Estados Unidos também esteja imbuído desse propósito.”
Nesta terça-feira, 28, as delegações dos dois países fazem reuniões de trabalho no MMA. Ontem, Geraldo Alckmin afirmou que os Estados Unidos não fixaram valor para doação ao Fundo Amazônia, mas se comprometeram a enviar “recursos vultosos” à iniciativa que visa a preservar e combater o desmatamento do bioma. Alckmin se reuniu com o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, em Brasília.
“O enviado John Kerry não definiu valor, mas colocou que vai se empenhar junto ao governo, ao Congresso americano e junto à iniciativa privada para termos recursos vultosos, não só no Fundo da Amazônia, mas como também em outras cooperações”, disse o vice-presidente a jornalistas após o encontro ocorrido no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.
O presidente Lula esteve em Washington (EUA) neste mês e, após o encontro com o presidente Joe Biden, o governo americano anunciou a intenção de contribuir com o Fundo Amazônia. O valor, no entanto, ainda não foi divulgado.
Alckmin afirmou que os Estados Unidos não exigiram contrapartida do Brasil para anunciar os recursos e destacou que os americanos entendem o compromisso do atual governo com a questão climática. “O compromisso do Brasil já ficou claro na presença do presidente Lula no encontro com o presidente Joe Biden. O compromisso do Brasil de ser protagonista no combate às mudanças climáticas. É uma questão grave, e esse é o momento. Não podemos deixar passar esse momento”, defendeu.
O Fundo Amazônia ficou parado entre 2019 e 2022, após países suspenderem os repasses por contrariedade com a política ambiental conduzida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A iniciativa foi reativada em janeiro deste ano por determinação do presidente Lula. Desde a retomada do Fundo, Noruega e Alemanha - principais doadores - anunciaram a liberação de recursos. A União Europeia também já informou que pretende fazer repasses.
Preocupação com o desmatamento. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, apontam que os alertas de desmatamento na Amazônia Legal identificados entre os dias 1 e 17 de fevereiro já representam o pior índice para mês desde o início da série histórica, iniciada em 2015.
Segundo as informações do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), o volume de desmatamento chegou a 209 km² no período, ante 199 km² verificados no mês de fevereiro do ano passado. O volume é quase do dobro da área desmatada em fevereiro de 2015, por exemplo, quando o sistema captou 115 km² de devastação.
Em janeiro, o número do desmatamento tinha registrado forte queda em relação ao mesmo mês dos anos anteriores. Foram 167 km² em janeiro de 2023, diante de 430 km² em janeiro de 2022. Os especialistas apontam que fatores como forte incidência de chuvas podem ter influência nos dados, além das ofensivas contra os crimes que assolam as florestas. Especialistas apontaram a necessidade de pelo menos quatro meses para avaliar o efeito das ações anunciadas pelo governo nas taxas de devastação florestal.
Os alertas do sistema Deter servem como bússola para a questão do desmatamento, apontando áreas mais devastadas e orientando ações de órgãos como o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).
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