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Moradores de Ribeirão Preto, no interior de SP, veem avanço do fogo e da fumaça e relatam medo

Região é uma das mais atingidas do Estado, que passa por um recorde de focos de incêndio. Prefeitura e governo estadual dizem atuar para conter as chamas

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Foto do author Marco Antônio Carvalho
Foto do author Caio Possati
Atualização:

Moradores de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, enfrentaram um sábado marcado por fogo e fumaça. A região é uma das mais atingidas do Estado, que viu o número de focos de incêndio disparar a partir desta sexta-feira, 23. Às 18h, a prefeitura local relatou que 14 focos seguiam ativos em diferentes áreas da cidade e que atuava para conter as chamas. Eventos ao ar livre foram cancelados e o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) classificou a situação como “fora do comum”.

Nuvem de fumaça encobre bairros de Ribeirão Preto neste sábado Foto: Guilherme Veiga

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Para a influencer Mariana Pires, de 24 anos, o que ela viu e viveu neste sábado foi como um “filme de terror”. Ela é moradora de um condomínio residencial em Ribeirão Preto que teve que ser evacuado temporariamente por conta da proximidade das chamas. Em 2017, outro ano de muitos incêndios, a influencer lembra que quase chegou a perder a casa por conta de uma forte queimada que atingia uma área verde do outro lado do muro de sua residência.

Dessa vez, disse Mariana ao Estadão, a situação foi muito mais preocupante. Ela conta que uma nuvem preta, densa, que cobriu Ribeirão Preto, fez a cidade “anoitecer às 17h30″. “Por volta das 17h, estava um tempo de neblina, de queimada. De repente, umas 17h30, eu estava me preparando para sair, quando, de repente, um breu, uma nuvem preta que chegou do nada, como se fosse um filme de terror, vindo em direção ao Alphaville (condomínio residencial onde mora)”.

Nesse momento, ela estava a caminho de casa, vindo de um hospital. “Quando cheguei no condomínio, eu entrei em desespero porque eu nunca tinha visto isso. Já tiveram alguns incêndios algumas outras vezes antes. A gente já esperava, mas não imaginava algo tão forte”, diz.

Segundo Mariana, nenhuma casa foi atingida diretamente pelo fogo, mas os moradores receberam a recomendação de evacuarem por conta da fumaça. “Vieram caminhão-pipa, polícia, bombeiro e até moradores ajudaram a controlar esse fogo para que não entrasse no condomínio”.

O que mais assusta, diz Mariana, é que não é o primeiro incêndio. Ela, inclusive, já viveu o risco de ter a casa quase tomada pelas chamas em 2017, ano de muitas queimadas em Ribeirão Preto.

“Todo ano acontece isso. Esse ano foi muito grande e a gente está muito preocupado porque o que eu soube é que esse incêndio não veio de perto, veio de muito longe. Só que o vento está muito forte. E o que o bombeiro nos falou é que e o fogo estava piorando por conta deste vento.”

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“O mais tenso é escutar barulho da árvore queimando. Faz um estralo muito forte e às vezes a gente até escuta animais gritando de madrugada. Às vezes eles não conseguem nem fugir”, lamenta a influencer. “Amanhã (domingo) vai estar assustador”.

Moradora da cidade, a jornalista Beatriz Borghini, de 24 anos, conta desde quinta-feira sente dificuldade para respirar em razão da baixa umidade do ar e do cheiro de queimado forte que chega até sua casa. Nascida e vivida em Ribeirão Preto por muitos anos, ela diz que é comum ter estiagens em agosto, mas afirma que o que está sendo presenciado este ano é algo “atípico” e diferente das temporadas anteriores.

“Normalmente, eram alguns pontos de incêndios que eram registrados. Mas, desta vez, são vários (a prefeitura informa que são 14 focos). E eu tenho família que é de Jardinópolis (30 minutos de Ribeirão Preto), e o que nós sabemos é que as estradas de lá estão bloqueadas, as pessoas estão isoladas, não estão conseguindo sair”, diz à reportagem.

A jornalista diz que não tem sido muito afetada pelos incêndios como outros moradores da cidade, e afirma que está em segurança. Relatou que sua casa teve quedas de energias durante o sábado e que o elevador do prédio ficou sem funcionar por alguns períodos.

Morador mostra área residencial sendo cercada por queimada de grande proporção em Ribeirão Preto Foto: Reprodução/X via @Caiotombi

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“Nós estamos em segurança em casa, mas já ouvimos que tem pessoas sem água também. (Os incêndios) É algo esperado para quem é daqui em Ribeirão, a gente sempre presencia essa seca nessa época, mas as proporções que tomaram este ano foi realmente assustador”, diz.

Pelas redes sociais, os moradores também relataram um cenário marcado por céu encoberto por fumaça e a aproximação do fogo em propriedades, o que levou medo à vizinhança. “De acordo com os registros mais recentes, os principais pontos de atenção incluem incêndios em terrenos urbanos e áreas de mata, com destaque para os focos registrados na Rua Leda Vassimon, no Jardim Nova Aliança, e na Mata do Ribeirão Verde, onde as equipes já estão atuando para extinguir o fogo”, informou a gestão municipal.

A situação levou a uma maior busca por atendimentos médicos, segundo a prefeitura. “Devido à fumaça gerada pelos incêndios, o sistema municipal de saúde tem registrado um aumento na procura por atendimentos relacionados a problemas respiratórios, operando com 60% de sua capacidade”, detalhou. “Todas as pessoas que necessitaram de atendimento estão sendo prontamente assistidas pelas equipes de saúde”, acrescentou.

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Em entrevista ao Estadão, o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) classificou a situação como “fora do comum”, mas afirmou que os planos de contingência elaborados em anos anteriores, justamente para o enfrentamento de episódios de seca e queimadas, ajudaram a cidade a mitigar os efeitos do fogo que chegaram com intensidade ao município.

“Foi totalmente fora do comum. Foi a maior quantidade de incêndio em 20 anos de série histórica”, disse Nogueira. “A gente já vinha enfrentando situações de recrudescimento de seca nos anos anteriores e, há dois anos, implantamos um plano de contingência com os residenciais da cidade. Isso ajudou a mitigar problemas que poderiam ser maiores na ocorrência do dia de hoje”, disse.

Ribeirão Preto teve 14 focos de incêndio espalhados pela cidade, alguns bem próximos de residências como as localizadas no condomínio Alphaville, no distrito Bonfim Paulista. Há relatos de pessoas que tiveram que sair de casa em razão das proximidades das chamas.

O prefeito afirmou que os 14 pontos de incêndios “estão controlados”, inclusive o que atingiu o Alphaville. Disse também que nenhuma pessoa está desabrigada, e que moradores já voltaram para casa. “Esse focos foram controlados. Tivemos um jardim com coqueiro queimado, mas a residência ficou preservada. Mas todas as pessoas já estão em suas casas e não tivemos problema de desabrigados.”

Sobre quedas de energia e falta de água em algumas residências, Duarte explicou que, dos 120 poços artesianos que abastecem a cidade, 36 foram desligados na sexta-feira por conta da tensão elétrica da empresa responsável pela distribuição de energia elétrica na cidade, mas que já foram reativados.

“Hoje (sábado) tivemos mais 26 postos desligados porque tivemos interrupção de energia por conta de ventos de mais de 70 km/h; 17 ainda estão sendo religados”, afirmou o prefeito.

Recorde de incêndios em SP

O número de focos de incêndio registrados em agosto no Estado de São Paulo é o maior para qualquer mês nas cidades paulistas desde 1998, quando os registros começaram a ser computados pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os 23 dias de agosto somam 3.175 ocorrências, o que é quase o dobro do que foi registrado ao longo dos 12 meses do ano passado no Estado (1.666).

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Um número tão elevado de focos não era visto em São Paulo desde agosto de 2021, quando houve 2.277 casos. Antes da marca de 2024, a quantidade mais expressiva em agosto tinha sido vista em 2010, com 2.444 focos.

Fogo avança sobre rodovia na altura de Sertãozinho, no interior de SP Foto: Corpo de Bombeiros

Até agora em 2024, o registro de focos alcançou o número de 4.973 casos, o que também é a maior soma do período desde o início da série histórica. A média para agosto costuma ser a mais alta do ano. O cenário fez o governo estadual decretar emergência em mais de 45 cidades afetadas. Até a tarde deste sábado, focos continuavam ativos em ao menos 24 municípios, e um total de 41 se mantinham em alerta máximo.

O governo paulista informou que mais de 7,3 mil entre profissionais e voluntários estão mobilizados no combate às chamas e na orientação da população.

“O gabinete de pronta resposta, instalado ontem (23), permanece ativo no âmbito da Operação SP Sem Fogo, que integra especialistas da Defesa Civil do Estado e das secretarias da Segurança Pública (SSP), Agricultura e Abastecimento, e Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil)”, disse em comunicado.

Veja abaixo outros relatos de Ribeirão Preto divulgados nas redes sociais.

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