Morte de botos avança por outro lago do Amazonas; mais 70 carcaças são encontradas

Suspeita é de que evento tenha se disseminado em áreas mais isoladas em meio à seca histórica e recorde de queimadas

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Por Waldick Junior
Atualização:

Pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, encontraram mais 70 carcaças de botos e tucuxis, desta vez no lago Coari, no município de mesmo nome, a 363 quilômetros de Manaus. O novo número se soma a outras 154 carcaças de botos e tucuxis encontradas no município vizinho, Tefé (AM), em meio à seca histórica que atinge a Amazônia.

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Líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, a oceanógrafa Miriam Marmontel afirmou que há suspeita de que as mortes de botos e tucuxis estejam mais frequentes na região.

O Amazonas tem sofrido com a estiagem e o recorde de queimadas nas últimas semanas, o que eleva a pressão sobre a gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, admitiu ao Estadão que a estrutura de combate ao fogo tem sido insuficiente. O governo, porém, não apresentou novos reforços imediatos para a força-tarefa anti-incêndio.

“Dependemos um pouco da colaboração da população local para enviar informações e fotos para que, se necessário, possamos também dar apoio em outros locais. Estamos finalizando parcerias para fazer sobrevoo em lagos do entorno de Coari para verificar a presença de carcaças”, disse.

Pesquisadores ainda buscam determinar as causas das novas mortes no lago Coari Foto: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá

Segundo ela, ainda não é possível determinar as causas das novas mortes no lago Coari, mas a suspeita é que seja um desdobramento do mesmo evento registrado no lago Tefé, em função das altas temperaturas registradas na água. Apesar disso, ela ressalta haver diferenças entre as duas ocorrências.

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“Vários animais morreram, mas em Coari são poucos por dia. Nunca houve o boom de Tefé (19 mortes e depois 70). Nos dois locais, são botos e tucuxis, mas em Coari, ⅔ são tucuxis, ao contrário de Tefé, onde a maior mortandade ocorreu com botos”, afirmou.

Outro ponto divergente entre os locais é a temperatura da água em Coari, que não foi registrada pelos pesquisadores acima dos 40 °C, como foi visto em Tefé. “Mas não monitoramos o evento desde o início, como em Tefé. Entretanto, em Coari existe a mesma dramática amplitude de variação de temperatura, cerca de 10 °C ao dia”, comentou.

Há suspeita de que as mortes de botos e tucuxis estejam mais disseminadas no Amazonas Foto: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá

Para além da temperatura, outra hipótese menos provável é que as mortes possam ter a ver com a maior proliferação registrada da alga Euglena Sanguinea nos lagos de Tefé e Coari, que tem potencial ictiotóxico e pode causar morte de peixes.

No entanto, segundo boletim do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que também acompanha o caso, ainda não há evidências de que as toxinas da alga estejam relacionadas às mortes.

“Continuamos aguardando a finalização das análises das amostras de Tefé, encaminharemos material adicional de Coari aos parceiros para termos ideia da situação em geral, dado que são duas localidades sofrendo o mesmo evento único de mortalidade de golfinhos de rio amazônicos”, explicou a oceanógrafa do Instituto Mamirauá.

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O lago Tefé, formado pelo rio de mesmo nome, é um afluente da margem direita do rio Solimões, um dos principais corredores aquáticos do Amazonas. De acordo com dados da Praticagem Ocidental dos Rios da Amazônia (Proa), o nível do rio Solimões em Tabatinga (AM), município brasileiro na fronteira com Peru e Colômbia, subiu 49 centímetros nos últimos três dias, até sexta-feira, 10. A recuperação do nível da água já é considerada como o fim da estiagem deste ano.

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