O Museu Paraense Emílio Goeldi divulgou nesta quarta-feira, 28, uma nota técnica em que rebate a possibilidade de plantio de cana-de-açúcar na Amazônia. A proposta está em projeto de lei do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e é alvo de críticas de ambientalistas e também de produtores de cana.
A instituição defende o cumprimento do Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar, de 2009, que determinou áreas e regras para licenciamento de novas usinas, excluindo expansões em qualquer tipo de biomas sensíveis, como Amazônia e Pantanal.
“O referido Projeto de Lei, se aprovado, poderá causar uma pressão por mais desmatamento na região. Estudos de pesquisadores da Amazônia demonstram que os efeitos das plantações de cana-de-açúcar sobre a biodiversidade se estendem das áreas cultivadas até as florestas adjacentes”, pontua o museu na nota.
O museu questiona também a principal alegação de Ribeiro de que a cana não vai derrubar uma árvore sequer porque o projeto prevê o plantio somente em áreas degradadas da Amazônia.
“É conhecido que a cana-de-açúcar é um cultivo com alta demanda de água. A maioria das áreas degradadas está próxima às bordas do bioma, onde a degradação já tem comprometido o fluxo de água. Esta é a principal razão pela qual as áreas degradadas da Amazônia necessitam ser restauradas: para prover serviços ecossistêmicos necessários ao aumento da capacidade produtiva e de melhoria da qualidade de vida das populações”, alerta na nota.
Outra preocupação colocada pelo Goeldi é com as queimadas que ainda são feitas na hora de colher a cana. “Correm o risco de se expandir facilmente nas áreas degradadas, que já não contam com a umidade do sistema florestal.”
O projeto de lei estava previsto para ser votado nesta terça-feira, 27, mas acabou sendo retirado da pauta. Deve ser reapresentado na semana que vem.
Na segunda, ambientalistas divulgaram uma carta apontando os riscos para o desmatamento e para o combate às mudanças climáticas. O setor, representado pela União da Indústria de Cana de Açúcar (Única) também rejeitou a proposta por considerar que ela pode manchar a imagem dos biocombustíveis e do açúcar brasileiros no mercado internacional.
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