A Nasa – a agência espacial norte-americana – lançou um alerta nesta quinta-feira, 9, de que a temporada de fogo neste ano na Amazônia pode ser particularmente intensa em razão do aumento das temperaturas na superfície do mar no tropical Oceano Atlântico Norte.
As condições climáticas devem piorar um cenário já crítico criado pelos seres humanos. Com os altos índices de desmatamento na região, há muita matéria orgânica no solo. Queimadas intencionais, para a limpeza de terreno, poderão ser intensificadas com o clima mais quente e seco.
De acordo com cientistas da Nasa e da Universidade da Califórnia, em Irvine, estão maiores os riscos de incêndios no sul da Amazônia. Esse aquecimento das águas também torna as condições mais propícias para furacões.
“As águas superficiais mais quentes próximas ao Equador atraem a umidade para o norte e para longe do sul da Amazônia, favorecendo o desenvolvimento de furacões. Como resultado, a paisagem do sul da Amazônia se torna seca e inflamável, tornando os incêndios humanos usados para agricultura e limpeza de terras, mais propensos a crescer fora de controle e propagação”, aponta a Nasa em nota divulgada em seu site.
Em agosto do ano passado, quando a região atingiu o maior número de focos de incêndio para o mês desde 2010, o governo se apressou em dizer que era uma situação normal por causa da temporada seca. Mas cientistas brasileiros e a própria Nasa divulgaram análises mostrando que o clima não estava tão seco e que a responsabilidade pelo problema era humana, motivada pela alta do desmatamento. Agora as condições ficam piores. Veja ensaio de fotos que mostram o nível de destruição.
"A previsão para a estação de fogo é consistente com o que vimos em 2005 e 2010, quando as temperaturas quentes da superfície do mar no Atlântico provocaram uma série de furacões graves e provocaram secas recordes no sul da Amazônia que culminaram em incêndios florestais na Amazônia", afirmou na nota Doug Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas da Nasa.
Morton é co-criador de sistema de previsão para a temporada de incêndios na Amazônia que funciona há 9 anos. Ele também foi o autor das análises sobre as queimadas do ano passado. Para o pesquisador, a temporada terá de ser observada com mais cautela porque os Estados brasileiros com a projeção de risco de incêndio projetado nesta temporada – Pará, Mato Grosso e Rondônia – foram os que mais desmataram no ano passado e que também registraram o maior número de focos de incêndio na bacia amazônica desde 2010.
"É uma tempestade perfeita: seca, o recente aumento do desmatamento e novas dificuldades para o combate a incêndios (por causa da pandemia de covid-19)", disse Morton. "2020 está programado para ser um ano perigoso para incêndios na Amazônia." Entenda como o fogo destrói a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo.
Risco maior já era previsto
Esse risco já havia sido levantado por pesquisadores do Inpe no fim de maio. Em nota técnica, eles revelaram preocupação com o impacto que os cortes recentes poderão ter sobre as queimadas deste ano. "Sabemos que essas áreas desmatadas são posteriormente queimadas, e em um clima mais seco, podem causar incêndios descontrolados", escreveu o grupo liderado pelo pesquisador Luiz Aragão.
Os cientistas afirmaram na ocasião que, nos primeiros meses deste ano, o Oceano Atlântico apresentou um aumento de temperatura acima da média histórica, o que pode causar mais secas na região sudoeste da Amazônia e intensificar processos de queimadas.
"Este ano o desmatamento nos Estados amazônicos explicou 50% da ocorrência de queimadas no início do ano, quando são mais escassas. De agosto de 2019 a maio de 2020, detectaram-se 78.443 focos de queimadas na Amazônia, maior quantidade que no mesmo período de 2018-2019", escrevem.
O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) também divulgou uma nota técnica no início de junho alertando que a vegetação derrubada e não queimada desde o ano passado – em uma área que pode superar 4,5 mil km² – deveria produzir queimadas intensas já a partir daquele mês. De fato, junho já teve o maior número de focos dos últimos 13 anos.
Isso pode aumentar ainda mais os riscos de um aumento expressivo das internações por problemas respiratórios, aumentando a pressão sobre os sistemas de saúde da região, já impactados pela covid-19.
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