Natal sustentável: uso de recicláveis e energia limpa na decoração são apostas para atrair turistas

Materiais reaproveitados e energia solar são utilizados pelas prefeituras de Salvador, Curitiba e Socorro nas atrações do fim de ano

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Por Beatriz Bulhões
Atualização:

Entre o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda, dois dos maiores cartões postais de Salvador, uma estrutura feita com garrafa PET chama a atenção. Trata-se de uma árvore de Natal de 22 metros feita com 27 mil peças que seriam descartadas. A iniciativa levou à capital baiana o selo de “maior árvore sustentável do País” desde 2021, segundo o RankBrasil, sistema brasileiro de homologação de recordes similar ao Guinness Book.

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No interior de São Paulo, outra estrutura pretende alcançar recordes: na cidade de Socorro, no Circuito das Águas Paulista, é um Papai Noel de 12 metros que chama a atenção. Também feito com garrafa PET, a cidade espera conseguir, no futuro, superar o bom velhinho de Águeda, em Portugal, tido como o maior Papai Noel do mundo.

Além de árvores e Papais Noéis, outro ponto essencial desta época do ano são as luzes. Pensando nisso, a Prefeitura de Curitiba utiliza a energia da Pirâmide Solar, uma usina solar que, desde a sua instalação, em março, já gerou cerca de 2.048,985 MWh de energia, o suficiente para o consumo mensal de 12 mil residências. Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, ela é mais que suficiente para compensar o consumo dos 47 dias da programação do Natal na cidade.

Árvore iluminada na Escola de Sustentabilidade, em Curitiba Foto: José Fernando Ogura/SMCS de Curitiba

As três cidades investiram em uma decoração sustentável, causando menos danos ao planeta e trazendo um chamariz que pode fazer diferença no turismo de fim do ano.

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Árvore que não voa nem afunda

Para o artista Gilson Cardoso, criador da mega árvore baiana, a maior preocupação era que o vento levasse a estrutura, visto que ela seria leve, por conta das garrafas PET. Somado a isso, a localização escolhida fica a poucos metros do mar. “Há três anos atrás me falaram: ‘Gilson, vamos fazer uma árvore grande?’ e eu disse ‘eu topo!”, relembra o representante da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF).

Conforme o baiano, ele e a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) foram atrás de engenheiros para saber se a árvore se manteria de pé. Após algumas conversas, o artista concebeu uma escultura vazada, permitindo que o vento passasse por ela sem levar a obra para longe.

A Limpurb se juntou ao trabalho da decoração de Salvador em 2013, reforçando o uso de materiais de reaproveitamento. Neste ano, foi inaugurada a Vila de Natal Sustentável, na Praça Ana Lúcia Magalhães, no bairro da Pituba.

Lá, toda a decoração, guirlandas, trenós e a casa do Papai Noel são feitos apenas com materiais recicláveis. A árvore principal é feita com garrafas de água sanitária, material que não costuma ser reciclado por conta dos agentes químicos presentes no líquido. “Para o presépio, eu fiz o boi com isopor e papel; o burrinho com resto de isopor, papel, garrafa pet, caixote e resto de madeira; a manjedoura com papel, resto de madeira e também com saco de aniagem; e Maria e José com isopor e resto de tecido”, explica o criador da obra.

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No espaço, grupos artísticos se apresentam para as crianças seguindo a programação. “Duas meninas que estavam lá vieram falar comigo. Uma com cerca de seis anos disse ‘tio, a gente não faz isso na minha casa, joga tudo fora’. A outra respondeu: ‘na minha escola a gente faz, a professora ensinou a fazer coleta, reciclar’. Eu fiquei feliz por despertar isso nelas, afinal o futuro é delas”, lembra Gilson.

Outra aposta para 2023 foi a maior árvore flutuante de material reciclado colocada no mar. A estrutura, também feita com garrafa PET, já tinha sido usada no ano passado na Praia da Preguiça, próxima ao Museu de Arte Moderna da Bahia. Este ano, a estrutura aumentou e se consolidou como atração, boiando nas ondas da Baía de Todos os Santos.

Árvore de Natal feita com garrafas PET em Salvador Foto: Otávio Santos/Secom PMS

Os materiais recicláveis são arrecadados durante o ano todo, em parceria com os catadores, mas apenas por volta de setembro começam a ganhar forma nas mãos de Gilson e sua equipe, composta por cerca de dez pessoas. “A cada ano mais pessoas ficam admiradas com tudo que é possível ser feito com a união da arte com a sustentabilidade. São todos materiais retirados do dia a dia de nossa cidade, da nossa convivência, do que produzimos”, reforça Omar Gordilho, presidente da Limpurb.

Ao final do período festivo, alguns materiais são reaproveitados para o ano que vem, enquanto os que não poderão ser usados novamente são devolvidos à cooperativa, para que vendam ou reutilizem de uma nova maneira.

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Papai Noel gigante e retorno maior ainda

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Os dados da Prefeitura de Socorro indicam que, a cada flor confeccionada, cinco garrafas PET deixam de ser descartadas no meio ambiente. Considerando os 20 espaços decorados da cidade, o órgão estima que, nos 12 últimos meses, foram coletadas cerca de 500 mil unidades que poderiam estar no lixão.

Se forem consideradas todas as decorações desde 2013, quando a prefeitura resolveu apostar neste tipo de material, o número estimado é de 7,5 milhões de garrafas já reutilizadas ao longo dos anos. A cidade no interior paulista, que já é famosa pelo ecoturismo e pelas atividades radicais, também quer se tornar referência em decoração natalina sustentável.

A inspiração veio de Gramado, cujo Natal Luz é considerado um dos principais destinos turísticos em dezembro. “A gente tem atraído cerca de 500 mil turistas e estimamos uma injeção na economia de cerca de R$ 100 milhões”, garante o Secretário de Cultura do município, Acácio José Zavanella.

Conforme o tempo foi passando, a fama do natal da cidade foi se fortalecendo e as expectativas também: o Papai Noel de 12 metros, por exemplo, deve aumentar em 2024. “Na verdade, a gente começou querendo fazer o maior Papai Noel do mundo, superar o de Portugal. Mas foi mais complicado do que pensávamos, não conseguimos fazer, então fizemos o menor, de 12 metros. Mas vai crescer sim, se Deus quiser”, brinca o gestor.

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Além da obra gigante, diversas árvores, túneis luminosos, e outras decorações feitas de material reaproveitado ocupam a cidade, em tamanho habitual. “A gente montou um galpão onde a gente fabrica os enfeites, contratamos empresas metalúrgicas e de energia para fazer a estrutura que será coberta pelas garrafas”, detalha.

Pisca-pisca com energia solar

Na capital paranaense, os enfeites feitos com materiais recicláveis são ensinados à população. Todo sábado e domingo, na Escola de Sustentabilidade, acontece uma oficina aberta ao público dividida em duas turmas, às 16h e às 18h.

Apesar da decoração da cidade não estar focada nesse tipo de material, Curitiba inovou no uso de fontes de energia renováveis. Todas as luzes e pisca-piscas se alimentam da pirâmide solar instalada no antigo aterro sanitário do Caximba, desativado em 2010.

A decoração do Natal de Curitiba, incluindo o Caminho de Luz do Parque Barigui, as 30 árvores ornamentadas e o Circuito Natalino do Parque Náutico, utiliza em sua grande maioria lâmpadas de baixo consumo, com maior eficiência energética. “Toda a energia que será gasta nestes 47 dias de festa (até janeiro) já foi, de certa forma, compensada pela pirâmide, se pensarmos no quanto de energia solar utilizamos de março até agora”, pontua a presidente do Instituto Municipal de Turismo, Tatiana Turra.

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A energia renovável também está presente em um ônibus elétrico exclusivo que foi disponibilizado para transportar turistas e moradores até o Parque Barigui, palco principal das celebrações. “Nós já vínhamos trabalhando com essa vertente da sustentabilidade e neste ano isso ganhou ainda mais força com a chegada da pirâmide”, comemora.

Outra opção para visitar a decoração é fazer o passeio de bicicleta. Todas as terças-feiras, a partir de 21h, carros são proibidos e há uma espécie de excursão pelos pontos iluminados. Conforme a secretária, já foram registradas mais mil bikes em um único dia. “O nosso natal tem eficiência, na adoção de práticas sustentáveis, mas também tem algo de educativo, como a oficina, e essa sensação de pertencimento da cidade”, completa.

Os passeios, que podem ser feitos com a própria “magrela” ou nos pontos de aluguel, são divididos em níveis. No iniciante, com cerca de 6 km, o grupo inicia no Largo da Ordem, pedala pela Rua São Francisco até o Passeio Público, onde você pode admirar a decoração especial com árvore de Natal, bola gigante, portais e a ponte da Ilha do Poetas iluminados contornados de luzes. Contorne o parque, siga pela Rua Presidente Carlos Cavalcanti. Na Rua Conselheiro Laurindo, visite a feira da Praça Santos Andrade e aproveite para recarregar as energias com as delícias vendidas nas barraquinhas. Retorne pela Alfredo Bufren, conecte-se às ciclovias da Mariano Torres e Sete de Setembro, chegando à Praça Afonso Botelho onde estão as atrações da Ligga Arena.

No nível intermediário, de 8,5 km, o início é no Carrossel do Passeio Público. Passe pela Rua Mariano Torres em direção à rodoferroviária, que está decorada com mantos de luzes. Vire na Avenida Presidente Affonso Camargo, contornando o Jardim Musical Ademicon no Jardim Botânico, e não deixe de vislumbrar a beleza da estrela de Belém gigante ou ainda aproveitar o espetáculo de cores e sons no Jardim Musical Ademicon, que acontece no entorno da estufa de vidro todos os dias às 19h30. Ou então, retorne ao Passeio Público e aproveite para conferir o Auto de Natal, que acontece de quinta a domingo, às 19h30, até 23 de dezembro.

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Para os que toparem pedalar por 17,5 km no nível avançado, a saída também é do Passeio Público, pela Praça Gibran Khalil, atravessando o Centro Cívico para admirar a árvore de Natal. Siga pela ciclovia até o Parque São Lourenço, passando pelo Bosque João Paulo II. Continue até o Parque das Pedreiras, visite a Floresta Encantada na Escola de Sustentabilidade. Conclua o desafiante trajeto no Parque Tingui, apreciando o Memorial Ucraniano e a linda árvore de Natal que fica ao lado da réplica da antiga capela de São Miguel, da Serra do Tigre, município de Mallet (PR), com sua cúpula dourada, construída em madeira, em estilo bizantino, onde há uma exposição permanente de pêssankas (ovos pintados à mão), ícones e bordados.

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