Novo método aponta risco de incêndio na Amazônia em tempo real: ‘Como previsão do tempo’

Modelo desenvolvido por pesquisadores do Acre leva em conta indicadores como umidade relativa do ar e velocidade do vento

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Por Clara Marques
Atualização:

Pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) avaliaram a ligação entre mudanças climáticas, alterações no uso da terra e o crescente aumento dos incêndios florestais na capital Rio Branco e desenvolveram um novo modelo de previsão de incêndios florestais.

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Esse novo modelo, chamado FIRERBR (Rio Branco Fire Índex), observou as condições climáticas e ambientais nos meses de junho, julho e agosto, entre 1961 a 2020. Essa época do ano é a mais suscetível a queimadas no Estado do Acre.

“O FIRERBR consegue produzir mapas temporais e espaciais de curto prazo, podendo ser implementado em tempo real, como uma previsão do tempo”, explica o professor Rafael Coll Delgado, orientador da pesquisa e professor do Centro de Ciências Biológicas e Naturais da UFAC.

Combate aos incêndios florestais no Acre tem se intensificado nos últimos meses. Foto: Neto Lucena/Secom

Os resultados da pesquisa indicam um aumento de riscos de incêndios, principalmente em áreas agrícolas, impulsionado pela redução das chuvas e da umidade relativa do ar, que torna o ambiente mais seco e ainda mais propenso à combustão.

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Método pode ser ampliado para a região amazônica

A partir da pesquisa envolvendo o case de Rio Branco, o estudo propõe a aplicação do modelo para previsão de riscos de incêndios, especialmente em áreas agrícolas de outras regiões amazônicas, com características climáticas semelhantes.

Os indicadores levados em conta no novo modelo podem auxiliar as ações da Defesa Civil, monitorar áreas de risco e prevenir futuros incêndios. Ele aplica as variáveis “Umidade relativa do ar às 13:00 (RH 13h)”; “Precipitação” e “Velocidade do vento”. Combinadas, elas representam os principais fatores meteorológicos que influenciam a ocorrência e propagação de incêndios florestais.

O artigo apresenta como o desmatamento, realizado para atividades como agricultura e pecuária, remove a cobertura florestal natural e a substitui por áreas mais suscetíveis à queima. O cultivo de soja e milho também pode influenciar o risco de incêndios, já que essas culturas geralmente envolvem o uso de fogo para preparar a terra para o plantio, o que aumenta o risco de incêndios florestais, especialmente durante a estação seca.

Segundo os autores, a vegetação nativa é naturalmente mais resistente ao fogo devido à alta umidade e a substituição dessas áreas por plantações e pastagens cria um ambiente mais seco e inflamável. Outro ponto de alerta discutido na publicação é que o desmatamento em grande escala pode levar a mudanças climáticas regionais, incluindo a redução da precipitação e a mudança do regime local de chuvas.

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Estado do Acre tem sido bastante impactado pelas mudanças climáticas; seca severa aumenta o risco de incêndios florestais. Foto: Neto Lucena/Secom

Ampliação de dados meteorológicos

Diferentemente dos modelos já existentes, o FIRERBR não se baseia apenas por dados meteorológicos, mas amplia esses dados, correlacionando-os com informações testadas e validadas em diferentes ambientes de vegetação.

O modelo trabalha com a análise da floresta, dividindo-a em uma espécie de rede imaginária sobre a área de interesse, examinando a região em pequenas células, lembrando um jogo de xadrez. Cada célula tem um ponto específico que é definido por suas coordenadas de latitude e longitude.

A partir daí, entram em jogo as variáveis “Umidade relativa do ar às 13:00 (RH 13h)”; “Precipitação” e “Velocidade do vento”. Aproximando (ou interpolando) as informações das células analisadas e as variáveis, criam-se mapas e gráficos de como os fenômenos mudam ao longo do tempo, em diferentes escalas.

“Isso confere maior confiabilidade para questões envolvendo a região amazônica”, diz o professor Rafael Coll.

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Ação antrópica amplia ocorrências e proporção dos incêndios florestais

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“Devido ao aumento do período de secas, as mudanças climáticas, intensificadas pela ação humana, favorecem a ocorrência e intensificam incêndios florestais. A queima da floresta libera gases de efeito estufa, agravando ainda mais o problema”, aponta a pesquisadora Karina Bruno Lima, doutoranda em Climatologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O Estado está em estado de calamidade após chuvas catastróficas, fruto das mudanças climáticas.

O estudo realizado pela UFAC considerou os anos de El Niño, La Niña e períodos neutros, testando o modelo criado em diversos cenários e possibilidades climáticas que possam aumentar os incêndios florestais na região.

Com apoio do governo federal, os pesquisadores esperam que o modelo FIRERBR seja aplicado como ferramenta de monitoramento em tempo real para toda a região amazônica.

“A vantagem do modelo de risco de incêndios proposto para Rio Branco é que, além de ser um modelo de código aberto, ele poderá auxiliar na tomada de decisões em áreas de maior risco de incêndios na Amazônia”, diz o professor Rafael Coll.

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Floresta impactada por mudanças climáticas

O Estado do Acre tem sido bastante impactado pelos impactos das mudanças climáticas, com eventos hidrológicos cada vez mais extremos. Em 2015, a capital Rio Branco passou pela maior cheia histórica, com o Rio Acre chegando a subir 40 cm. No ano seguinte, o extremo oposto, com a seca mais severa, com o rio alcançando apenas pouco mais de 1 m de profundidade.

As projeções do estudo indicam que o ano de 2026, especialmente, será marcado por incêndios florestais. Os indicadores apontam que este ano será de grandes secas e é justamente nesses períodos que os incêndios florestais são mais recorrentes.

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