A Amazônia teve 20.238 km² de sua área degradada em setembro de 2024, maior número dos últimos 15 anos para o mês segundo o Imazon, instituto de pesquisa que monitora a degradação por imagens de satélite desde 2009.
Segundo a pesquisa, a maioria dos alertas esteve ligada à alta dos incêndios florestais. Diferentemente do desmatamento, em que há remoção total da cobertura vegetal de uma área, a degradação envolve danos ambientais decorrentes da exploração madeireira e das queimadas. Em nota, o Ministério do Meio Ambiente destaca os esforços para a queda do desmate (leia mais abaixo).
A escalada de focos de fogo na Amazônia, no Pantanal e em várias regiões, incluindo o interior de São Paulo, expôs as falhas da gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na prevenção dos incêndios. Neste ano, o País teve a estiagem mais grave das últimas sete décadas, quando começaram as medições federais, o que facilitou o espalhamento das chamas.
Os incêndios causam perda de biodiversidade, de produção de água e no estoque de carbono, mesmo quando parte da floresta segue em pé. O acumulado nos nove primeiros meses do ano (26.246 km²) também foi o maior da série histórica.
Segundo especialistas, a crise climática vai agravar esse tipo de problema. No próximo mês, será realizada no Azerbaijão a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-29), quando os países se reúnem para discutir as estratégias contra o aquecimento global.
O Brasil tem manifestado intenção de retomar o protagonismo das negociações climáticas globais após anos de enfraquecimento da agenda ambiental na gestão Jair Bolsonaro (PL), mas a explosão de incêndios neste ano elevou a pressão sobre o governo Lula para frear a destruição da floresta.
A área degradada só em setembro equivale a mais de 13 vezes a cidade de São Paulo. A degradação vinha aumentando nos últimos quatro meses, mas explodiu em setembro, quando costuma ser maior devido à seca.
Para a pesquisadora do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon Larissa Amorim, o pico de degradação é preocupante, especialmente quando se considera a situação crítica dos rios amazônicos e a seca generalizada da vegetação, o que pode ter aumentado a vulnerabilidade das florestas ao fogo.
Mesmo assim, ela enfatiza que a maioria das queimadas decorre de ação humana. “A intensificação das ações de fiscalização é urgente”, alerta Larissa.
Normalmente concentrada no Mato Grosso, a maior parte (57%) da área degradada no bioma em setembro deste ano está no Pará: 11.558 km², o que representa crescimento de quase 60 vezes em comparação com a degradação de setembro de 2023 no Estado.
O dano também atingiu áreas protegidas, com sete das dez unidades de conservação mais degradadas no mês localizadas no território paraense. Questionado pela reportagem sobre a degradação, o governo estadual não se manifestou. Belém será a sede da Cúpula do Clima no ano que vem.
Segundo a pesquisadora do Imazon, uma hipótese para o aumento da degradação no Estado é “que o aumento da fiscalização sobre as áreas de desmatamento esteja fazendo com que os desmatadores ilegais busquem outras formas de abertura de áreas, usando as queimadas para isso”, mas diz ainda é preciso observar os dados dos próximos meses para confirmar esse padrão.
Em seguida, os Estados de Mato Grosso (25%), Rondônia (10%) e Amazonas (7%) foram os que apresentaram maior área degradada no mês.
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente atribui o aumento da degradação florestal na Amazônia aos incêndios florestais, “intensificados pela mudança do clima e pela pior estiagem em 45 anos na região”.
A pasta diz monitorar a cicatriz de incêndio na Amazônia, trabalhando para “destinar toda área de floresta queimada, pública ou privada, para restauração e regeneração” e declarou atuar hoje com cerca de 1,5 mil profissionais no combate aos incêndios no bioma, o que inclui brigadistas do Ibama e ICMBio, servidores da Força Nacional de Segurança Pública e das Forças Armadas.
Governo destaca queda do desmate desde o início da gestão
Segundo o Imazon, o desmate também apresenta crescimento em setembro: foram 547 km² derrubados, o que equivale a 1.823 campos de futebol de floresta perdidos por dia. O aumento registrado nos últimos quatro meses vem após 14 meses consecutivos de redução da devastação na Amazônia Legal.
Assim como aconteceu com a degradação, o Pará também concentrou a maior parte do desmatamento em setembro de 2024, com 291 km² desmatados - o equivalente a 970 campos de futebol de floresta por dia.
No geral, o desmate ocorreu majoritariamente (61%) em áreas privadas ou que se encontram em estágios diversos de posse.
A área desmatada de janeiro a setembro foi de 3.071 km². Apesar de significativo, o número é o menor desde 2017.
O Ministério do Meio Ambiente destaca ter havido queda de 22% no desmatamento de janeiro a setembro de 2024 em comparação com o mesmo período de 2023, com base nos dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Segundo o órgão, a redução foi resultado “da retomada da governança ambiental e das ações de fiscalização desde 2023″, quando a área sob alertas de desmatamento na Amazônia já havia registrado queda de 50% em comparação com 2022.
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