JABOATÃO DOS GUARARAPES, PAULISTA E IPOJUCA - Bermuda, galocha, camiseta ou regata, máscara e luva são as vestimentas e equipamentos padrão utilizados por integrantes do Exército e da Marinha na retirada de óleo de praias do Nordeste. Os itens não seguem, contudo, a orientação técnica para a remoção manual divulgada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que prevê o uso de macacão de polietileno e óculos de proteção e, no caso de trabalhos sobre pedras, também de capacete.
A situação se repete entre funcionários e empregados de empresas terceirizadas de prefeituras e, até mesmo, entre os apenados do Estado de Pernambuco que atuaram nas praias. No âmbito municipal, a reportagem flagrou trabalhadores manuseando o óleo sem camisa ou diretamente com as mãos.
A substância é considerada tóxica e, nos últimos dias, tem crescido o número de relatos de pessoas que tiveram náuseas, dor de cabeça, alergias e outras reações após terem contato com o petróleo. Os efeitos a médio e longo prazo ainda não estão claros.
O contraste entre os equipamentos utilizados por funcionários do Ibama e dos demais envolvidos era evidente nas praias pernambucanas visitadas pelo Estado na última semana. Com parte do corpo exposto, os integrantes da Marinha e Exército entravam na água e chegavam a ficar com a pele suja de óleo, enquanto, os membros do Ibama estavam de macacão ou calça e camisa compridas. A situação era ainda mais grave no caso dos voluntários.
A reportagem testemunhou esse tipo de situação em praias como Itapoama, em Cabo de Santo Agostinho, Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes, e Janga, em Paulista, todos municípios da região metropolitana do Recife. Nas demais praias visitadas, o Estado não encontrou representantes do poder público federal, mas viu, por exemplo, salva-vidas que utilizavam uniforme convencional (bermuda e regata) enquanto tiravam óleo de uma área próxima a corais.
O próprio site da Marinha traz dezenas de imagensde atividades de remoção de óleo em que seus integrantes aparecem de bermuda e regata e sem o uso de proteção ocular e macacão durante ações em Estados como Bahia e na Paraíba. Segundo a instituição, mais de 2,7 mil militares participaram de ações de combate às manchas de petróleo.
A recomendações de tipos de Equipamento de Proteção Individual (EPI) estão no site do Ibama, em uma publicação chamada “Orientações gerais à população sobre o derramamento de óleo”. Na parte sobre “remoção manual”, por exemplo, é destacado o uso de “EPI básico”, que lista “Tyvek” (tipo de macacão de polietileno), luvas, botas e proteção ocular. Outro arquivo, sobre “recuperação manual em áreas rochosas”, também inclui o uso de capacetes.
“Todos os trabalhadores devem usar EPI apropriados enquanto trabalham, incluindo proteção solar”, destaca a publicação. As mesmas recomendações foram reproduzidas no site da própria Marinha.
Em nota, a Marinha afirmou que "os militares envolvidos diretamente nas ações de limpeza utilizam o EPI apropriado". Já o Comando Militar do Nordeste afirmou, em nota, que "desde o 3º dia de atuação na retirada do óleo que atinge as praias do Nordeste, o Exército, após indicação dos especialistas em saúde, vem orientando seus militares para utilizarem, além das luvas, máscaras e botas de proteção, o uniforme camuflado com as mangas arriadas, a fim de proteger todo o corpo".
"Esse uniforme, segundo a orientação, propicia uma proteção semelhante ao macacão citado na reportagem. Ressalta-se, ainda, que a tropa empregada em uma jornada de um dia, é substituída por outros militares a fim de proporcionar descanso, físico e mental, essencial para quem teve contato, mesmo que leve, com o material tóxico. Por fim, o Exército colabora com as outras instituições e voluntários com a instalação de posto de lavagem do material, o que evita a condução de restos de óleo para locais dos mais diversos."
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