Pantanal tem recorde de queimadas em 22 anos no MS; alta é de 530% em 6 meses no MT

Incêndios florestais destruíram, em duas semanas, 35 mil hectares de vegetação nativa; desde o início do ano, foram registrados 3.415 focos de incêndio, maior número desde 1998, quando o Inpe passou a monitorar queimadas

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Foto do author José Maria Tomazela

SOROCABA E SÃO PAULO – Os incêndios florestais destruíram, em duas semanas, 35 mil hectares de vegetação nativa no Pantanal de Mato Grosso do Sul, um dos principais ecossistemas brasileiros. Em todo o bioma, desde o início do ano, foram registrados 3.415 focos de incêndio, maior número desde 1998, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) passou a monitorar as queimadas.

Cerca de 180 bombeiros foram deslocados para a região, mas as chamas continuam se espalhando. Nesta quinta-feira,  23, um comitê formado pela Defesa Civil e Corpo de Bombeiros pediu apoio de aeronaves ao governo federal para ampliar as frentes de combate aos focos.

Incêndios em áreas de mata do Pantanal, em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Região tem recorde de queimadas em 22 anos. Foto: CBMS/Divulgação

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O Pantanal abrange áreas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, e se estende aos territórios da Bolívia e do Paraguai. Em todo o bioma, o número de queimadas disparou de janeiro a julho deste ano, com aumento de 189% em relação ao mesmo período de 2019.

Na porção do bioma no Mato Grosso, o cenário também é dramático. No primeiro semestre deste ano, houve um aumento de mais de 530% nas queimadas, na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo um levantamento feito pelo Instituto Centro de Vida (ICV). A organização criou uma ferramenta interativa para monitorar os focos de calor no Estado durante o período de proibição de queimadas.

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O governo federal publicou um decreto no último dia 16 proibindo por 120 dias as queimadas no bioma e também na Amazônia. O Mato Grosso, porém, tem uma lei própria valendo desde o dia 1º de julho. A análise mostrou que nos primeiros 15 dias do mês, o Estado como um todo teve um aumento de 12% nas queimadas, em relação ao mesmo período de 2019. Na semana passada, o Greenpeace tinha alertado que a porção de Floresta Amazônica que cobre o MT também estava em chamas. 

De janeiro a junho, segundo o levantamento do ICV, foram registrados 6.747 focos de calor em todo o Mato Grosso, cerca de 300 a mais que nos primeiros seis meses do ano passado. Por bioma, 60,93% dos focos foram na porção de Floresta Amazônica, 30,95% no Cerrado e 8,12% no Pantanal.

Mas na comparação com o ano passado, o Pantanal no Estado está queimando mais neste ano. Foram 548 focos de calor de janeiro a junho, ante 87 neste período em 2019, aumento de 530%.

No Mato Grosso do Sul, as chamas atingem principalmente o município de Corumbá, considerado a capital pantaneira. A cidade lidera o ranking nacional de queimadas dos últimos cinco anos, com 2.423 focos, bem à frente da segunda colocada, Poconé (MT), com 544. Corumbá também é líder no ranking dos últimos cinco meses e dos cinco últimos dias.

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Na cidade, de 92 mil habitantes, as unidades de saúde registraram aumento de 20% na procura por pacientes com doenças respiratórias causadas pela fumaça. O problema é agravado pela baixa umidade do ar decorrente da estiagem. A neblina cinzenta encobre a área urbana e obriga os moradores a manterem portas e janelas fechadas.

Bombeiros combatem incêndios em áreas de mata do Pantanal, em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Região tem recorde de queimadas em 22 anos. Foto: Governo do MS/Divulgação

À noite, as queimadas se tornam visíveis do outro lado do Rio Paraguai. Na manhã desta quinta, 15 bombeiros e brigadistas combatiam uma grande queimada na região do Itajiloma, entre Corumbá e Ladário, outro município do Pantanal.

De acordo com o Corpo de Bombeiros de Corumbá, embora não seja possível precisar a origem dos incêndios, muitos resultam de ação humana. Nesta época, fazendeiros usam o fogo para renovação de pastagem e abertura de áreas para lavoura, porém, em muitos casos, a queimada foge do controle. Conforme a corporação, não chove há meses e áreas normalmente alagadas estão secas.

“Nesta época do ano, a região está com farta biomassa e muito propensa a ocorrências dessa natureza”, informou. Os bombeiros e a Defesa Civil pediram ao governo federal o envio de aeronaves para o transporte de equipes e ajuda direta no combate às chamas.

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Não chove há meses e áreas normalmente alagadas estão secas no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Foto: Governo do MS/Divulgação

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que está disponibilizando equipes e recursos para o combate às chamas, através da brigada do Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo), em Corumbá.

No ano passado, os incêndios florestais queimaram um milhão de hectares de matas, lavouras e pastagens no Mato Grosso do Sul. Foi montada uma operação de guerra, com apoio de bombeiros e brigadistas de outros estados, para fazer frente à destruição.

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