Para vasculhar a Amazônia, quanto mais coleta, melhor

Pesquisadores paulistas tentam investigar o maior número de espécies

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Como encontrar em meio ao universo verde da Amazônia plantas que de fato tenham algum poder terapêutico? Uma solução pode ser coletar o maior número de espécies possível e depois testá-las nos mais diferentes modelos de doenças, como vem fazendo uma equipe de pesquisadores da Universidade Paulista (Unip) e do Hospital Sírio Libanês. Veja também: Especial completo sobre biodiversidade Biodiversidade, essa desconhecida Droga contra câncer em teste Estudos focam doenças tropicais Peixe venenoso pode render antiasmático para grávidas Múltiplas ações na vegetação paulista O duro caminho até a indústria Remédios que vêm das toxinas Reinventar relações respeitosas Proposta de nova lei segue sem acordo Natureza inspiradora Em meados da década de 90, o grupo, liderado pelos oncologistas Drauzio Varella e Riad Younes, começou a coleta botânica nas margens do Rio Negro. O objetivo era procurar substâncias que fossem capazes de combater células tumorais e bactérias resistentes a antibióticos. Entre 1997 e 2002 e de 2006 para cá foram selecionados cerca de 2.200 extratos de plantas. Pouco mais da metade, 1.220, já foram testados in vitro para os dois grupos de células, e apenas 10% mostrou alguma atividade: 70 foram capazes de matar células de tumor (de mama, próstata, pulmão, cólon, cérebro e leucemia) e 50 destruíram bactérias ligadas a infecções hospitalares, a doenças bucais e diarréias. A pesquisa, no entanto, ainda é inicial e ilustra bem a dificuldade de fazer bioprospecção. "Mostramos que os extratos são capazes de inibir a divisão celular dos tumores e bactérias, mas nem sabemos ainda quais são as moléculas de fato responsáveis por isso, nem se elas também pode causar danos a células humanas", explica a farmacêutica Ivana Suffredini, chefe do laboratório de extração da Unip. Só agora, com a entrada do Sírio no projeto, com laboratórios e investimento de R$ 1 milhão, é que os extratos serão purificados para a identificação dos princípios ativos. O forte desse trabalho, até o momento, é seu tamanho. A extratoteca é provavelmente a maior do gênero no Brasil e ainda pode ser muito explorada. De acordo com Younes, que levou o projeto para o Sírio, onde é diretor clínico, novas frentes de pesquisa estão sendo abertas e os extratos serão testados para outros modelos de doenças. "Alguns parecem ter papel anticoagulante, outros apresentaram potencial antioxidativo. Essa característica pode ser interessante para proteger pacientes que ficam muito tempo em UTI e acabam com o pulmão fragilizado pelo aumento de oxidação. E também vamos incluir outros modelos de tumores, em especial o de bexiga", diz Younes. "É uma pesquisa gigantesca e queremos continuar coletando e testando mais e mais espécies. Se em 10 mil extratos acharmos um realmente eficiente para alguma doença, já teremos feito nossa parte", afirma.

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