O número recorde de focos de incêndio no Pantanal está mobilizando cientistas, pesquisadores e empreendedores da região para mitigar os efeitos das queimadas na fauna e flora local. Nesta quinta-feira, 1º, o Estadão promoveu uma live no Facebook com Michelle Gahyva, gestora da Pousada Rio Claro, e Cátia Nunes da Cunha, professora titular da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Para elas, é importante pensar em protocolos para recuperação da vegetação e da vida silvestre do Pantanal. "A grande preocupação é manter a água no Pantanal. Que tenhamos as chuvas, porque isso é fundamental para manter as vidas. Se não temos essa disponibilidade, vai ser uma situação ruim para todos que vivem aqui. A falta de água é o nosso maior inimigo", comenta a professora Cátia.
Ela compara a situação atual ao longo período de estiagem de 1963, que afetou bastante a região. "Nossa memória é curta e nós não temos o costume de olhar os indicadores que a ciência nos mostra. De 1963 a 1973 passamos por um período onde também tinha a presença do fogo, mas a realidade do Pantanal era outra. Depois começamos a entrar em um período mais úmido, que fez o Pantanal se recompor", diz. "Agora, eu vejo que o fogo pegou todos nós desprevenidos. Nós, pesquisadores, tínhamos uma visão de que poderia acontecer, mas a gente não podia prever quando."
Os incêndios no Pantanal também afastam os turistas da região, que costumam ir em busca das belezas naturais e também para fotografar animais. Então se o setor hoteleiro já sofreu com a pandemia de covid-19, que diminuiu bastante o número de viajantes, agora estão sofrendo com as queimadas. Segundo Michelle, sua pousada fica no km 42 da rodovia Transpantaneira. "O fogo entrou em nossa propriedade e tivemos algumas áreas devastadas. Começamos a adotar alguns protocolos de segurança que a equipe de bombeiros nos orientou, mas não foi o suficiente", explicou.
Ela lembra que a situação é preocupante porque no início o ano de 2020 parecia muito promissor. "Nós tínhamos boas reservas e o nosso calendário estava cheio. De repente veio a pandemia e isso já quebrou um pouco a gente. Tivemos de lidar com cancelamentos porque o nosso público, em sua maioria, é de estrangeiros. Aí quando pensamos que tudo poderia melhorar, vieram os incêndios e isso foi mais devastador do que a pandemia. Digo isso porque mudou o nosso cenário e a perspectiva de quem buscava conhecer o Pantanal."
As duas garantem que é preciso fazer um planejamento de médio e longo prazo para que o bioma consiga se recuperar do número recorde de incêndios. "Agora, nós temos de fazer uma iniciativa na parte da vegetação para poder daqui dois ou três anos ter um pouco mais de tranquilidade, porque os animais precisam disso", avisa Michelle.
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