Pirarucu gera renda no interior da Amazônia

Milhares de pescadores protegem os rios amazônicos, além de viver deles

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Por Maurício Oliveira
Atualização:

Quando o ciclo econômico da borracha perdeu força na Amazônia, na década de 1970, boa parte dos trabalhadores até então envolvidos nessa cadeia passou a se dedicar à pesca. O pirarucu, em especial, proporcionava o mais rápido retorno financeiro, pois cada exemplar frequentemente passava de 100 kg.

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Depois de algum tempo de exploração desmedida, a espécie entrou em ameaça de extinção. Uma série de providências foram tomadas, incluindo a interrupção da pesca por três anos. Ao final desse período, estabeleceu-se que a captura do pirarucu precisaria seguir regras.

Surgiram projetos de manejo – ou seja, a organização dos próprios pescadores em torno de normas de controle. Um marco nesse sentido foi a fundação, em 1999, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que se Manejo da pesca evitou a extinção do peixe conhecido como ‘gigante amazônico’ tornou referência na região do Médio Solimões, no Estado do Amazonas.

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Desde então, o número de manejadores de pirarucu envolvidos nos projetos do instituto saltou de 42 para mais de 1.500. Nesse mesmo período, a população estimada de pirarucus nas áreas assessoradas pelo instituto passou da casa de 2,5 mil exemplares para cerca de 155 mil.

No Médio Solimões, o número de manejadores de pirarucu saltou de 42 para 1.500 em duas décadas Foto: Bernardo Oliveira

O método de contagem dos peixes é, a propósito, um belo exemplo da combinação bem-sucedida entre ciência e conhecimento tradicional. Quando os pesquisadores se depararam com a missão de estimar a população de pirarucus, foram apresentados a uma metodologia adotada localmente, baseada apenas na observação. Para a surpresa de muitos, os resultados foram confirmados pelos estudos científicos.

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Uma das ações mais recentes do Mamirauá no projeto do pirarucu foi a formação de 17 multiplicadores, pessoas que possam captar os principais aspectos das experiências e aplicá-los em seus respectivos locais de origem. O curso incluiu uma vivência imersiva de 11 dias.

“Disseminar esses princípios é fundamental, pois um dos nossos maiores desafios atuais é enfrentar a concorrência do pirarucu ilegal”, diz Jonas da Silva Batista, coordenador do Programa de Manejo de Pesca do Mamirauá. Enquanto trabalha pela conscientização dos pescadores que atuam irregularmente, o instituto pede uma fiscalização mais eficaz. “Como vamos conseguir cobrar um preço melhor e elevar a remuneração dos nossos produtores se o mercado está sempre abastecido?”

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