Uma grande concentração de aguapés voltou a cobrir o Rio Tietê entre Botucatu e Barra Bonita, no interior de São Paulo. Nesta terça-feira, 18, os tapetes de plantas formavam oito manchas ao longo de 60 km do rio e seus afluentes. No fim de semana, barcos que levavam turistas em passeios pelo Tietê não conseguiram transpor a eclusa da Usina Hidrelétrica de Barra Bonita por causa das plantas aquáticas.
Além do turismo, o lazer e a pesca são afetados. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) orienta a população a “não nadar, pescar ou praticar esportes náuticos nessas áreas”.

De acordo com a Cetesb, a proliferação de plantas e o fenômeno de floração de algas que causa o esverdeamento da água do rio são resultados da presença de matéria orgânica e nutrientes. Sua formação ainda é favorecida pelas condições locais, com águas paradas e intensa luminosidade natural e calor excessivo.
A companhia diz que o monitoramento feito nesta época do ano mostra que o fato não está relacionado a lançamentos irregulares de efluentes líquidos (esgotos) ou outros produtos na água.
A Auren Energia, que assumiu recentemente a operação da UHE da Barra Bonita, diz que monitora periodicamente a presença e quantidade de macrófitas no reservatório de suas usinas hidroelétricas. “A presença é decorrente de fatores externos, como a variação de temperaturas e disponibilidade de nutrientes, além de características do ambiente”, diz.
A empresa ressalta também que a proliferação da espécie segue ciclos de oscilação de densidades ao longo do ano e não está relacionada à geração de energia pela usina de Barra Bonita.

Área equivalente a 500 campos de futebol coberta de aguapés
As plantas flutuantes se acumulam nas margens e alguns pontos cobrem toda a largura do Tietê e seus afluentes, como os rios Lambari e Piracicaba. Na manhã desta terça-feira, 18, o monitoramento feito por uma empresa contratada pela hidrelétrica apontava oito áreas de acumulação e quatro de proliferação do vegetal entre os municípios de Anhembi e Barra Bonita.
Apenas no lago formado pela barragem, uma área equivalente a mais de A planta ocupava 13% de toda a extensão do lago, de quase 4 mil hectares.
O jornalista Carlos Nascimento, que opera um navio de turismo em Barra Bonita, conta que no domingo, 16, os barcos não conseguiram passar pela eclusa, a principal atração do passeio, devido ao acúmulo de plantas. “A navegação de turismo na Barra é feita potencialmente aos fins de semana. Neste último, os barcos entraram na eclusa e saíram a ré, ou seja sem concluir a transposição. Uma embarcação de turismo conseguiu concluir a eclusagem, mas sob o risco de ficar retida nos aguapés.”

As plantas se acumulam em enseadas, curvas, pontes e afluentes e se deslocam de acordo com o volume de água da chuva e a direção do vento. No domingo, banhistas que se dirigiram à prainha do bairro Rio Bonito, no Rio Tietê, em Botucatu, conhecida por suas águas límpidas, não conseguiram se refrescar, devido ao excesso de plantas.
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2,9 milhões de pessoas afetadas
O Grupo de Trabalho (GT) Macrófitas Hidrovia Tietê-Paraná, criado em 2022, para discutir soluções para o excesso de plantas aquáticas, diz que o problema está afetando direta e indiretamente 109 municípios do Médio e Baixo Tietê, e uma população estimada em 2,9 milhões de pessoas. O grupo é integrado por empresários, ambientalistas, pesquisadores, associações de pesca e representantes das prefeituras e do governo estadual, além de especialistas no manejo dessas plantas.
O GT estima que o excesso de aguapé causa um prejuízo superior a R$ 50 milhões por mês à região. Só os pescadores têm perdas de R$ 30 milhões mensais com a interrupção da pesca, danos em barcos e redes. A prefeitura de Barra Bonita estima perda de R$ 10 milhões mensais com o turismo e outras atividades.
Segundo o GT, embora o excesso de plantas possa ser retirado com dragas e outros equipamentos, a única operação que está sendo realizada no momento é o “vertimento controlado” das plantas aquáticas acumuladas na barragem de Barra Bonita.
A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do Estado diz que o Programa Rios Vivos, gerido pela SP Águas e responsável por promover ações de recuperação ambiental em cursos d’água, atendeu o município de Botucatu no primeiro ciclo (encerrado em 2023), com investimento de R$ 1,5 milhão e com a retirada de 17,8 mil metros cúbicos de sedimentos, inclusive plantas.
Diz ainda que a SP Águas está à disposição para receber as solicitações de prefeituras interessadas em participar do terceiro ciclo do programa, que terá início ainda neste trimestre de 2025.