Por que espécie exclusiva da Mata Atlântica pode deixar de ser considerada ameaçada

A partir de registros inéditos do sapinho-de-chifre-paviotii feitos pelo público, expectativa é de que situação do animal passe a ser classificada como ‘menos preocupante’

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Por Nathalia Pereira

Mais de 40 novos registros do sapinho-de-chifre-paviotii (Proceratophrys paviotii), um anfíbio exclusivo da Mata Atlântica e considerado quase ameaçado de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), deixaram animados pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma). Os registros foram feitos por dez “cientistas cidadãos”, como são chamadas pessoas de diferentes idades e regiões do Brasil, que interagem com pesquisadores, dentro do projeto “Cantoria de Quintal”, enviando imagens e gravações de som desses animais, colaborando com material inédito dessa espécie ainda pouco conhecida.

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“Contagiados por essa tendência e por habitarmos uma das regiões mais diversas e ameaçadas do planeta em relação aos anfíbios, o Inma decidiu criar o projeto, que tem como principal objetivo envolver pessoas de diferentes idades, localidades e realidades em projetos de ciência e conservação relacionados a esse grupo da fauna”, conta o pesquisador do Inma e coordenador do projeto, João Victor Lacerda

Com a contribuição do público, os pesquisadores descobriram que, ao contrário do que se pensava, o sapinho-de-chifre-paviotii não é tão raro quanto antes se imaginava. Ele foi registrado até mesmo em quintais e poças de chuva formadas em ruas calçadas.

“O sapinho-de-chifre-paviotii está classificado como quase ameaçado, indicando que a probabilidade da espécie passar a figurar entre as ameaçadas é alta. Mas, ao levar em conta os novos registros, consideramos bastante provável que, em avaliações futuras, ele passe a ser classificado como uma espécie menos preocupante em relação ao seu estado de conservação”, disse.

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Sapinho-de-chifre-paviotii é um anfíbio exclusivo da Mata Atlântica. Foto: João Victor A. Lacerda/INMA

Para Lacerda, mesmo não estando totalmente protegido de impactos diversos, como os decorrentes das alterações climáticas ou disseminação de doenças, é um alento constatar que a espécie não está tão em risco como se pensava.

O projeto “Cantoria de Quintal”, desenvolvido desde 2020 pelo Inma, em Santa Teresa, no Espírito Santo, já recebeu mais de 900 contribuições enviadas por 160 cientistas cidadãos. Esses dados ajudaram a registrar cerca de 40 espécies, algumas delas ameaçadas de extinção, raras ou pouco conhecidas pela ciência. A iniciativa também visa a incentivar o público a participar de outras fases da pesquisa, como a criação de guias fotográficos e textos científicos.

Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo na revista internacional PeerJ, em outubro, em colaboração com pesquisadores de diversas instituições, como a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e a Universidade Federal de Goiás (UFG).

Ciência Cidadã no Inma

A relação entre pesquisadores e o público surgiu com o Programa de Capacitação Institucional (PCI), criado em 2019, segundo contou a coordenadora do projeto de Ciência Cidadã no INMA, Natália Pirani Ghilardi-Lopes. “Foi quando iniciamos o ‘Conhecimento, conservação e desenvolvimento sustentável na Mata Atlântica’, um programa que forneceu bolsas para cientistas desenvolverem pesquisas estratégicas no Inma. Os pesquisadores eram especialistas em diferentes grupos taxonômicos, e aproveitamos essa expertise para incluir o público em monitoramento de biodiversidade”, relatou Natália.

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“Fizemos visitas às moradias de habitantes do entorno, fomos a escolas, conversamos com professores, e até com os visitantes do Inma. Criamos redes sociais, grupos de WhatsApp e plataformas como o iNaturalist para que as pessoas pudessem enviar fotos, vídeos e áudios. Um grande desafio foi garantir que todos os cientistas cidadãos estivessem familiarizados com essas tecnologias”.

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