Por que mais de cem botos morreram em água a 40 ºC na Amazônia?

Pesquisadora de instituto ligado ao Ministério da Ciência diz que alterações climáticas e baixa profundidade têm causado problemas nos rios; floresta sofre com pior seca dos últimos anos

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Por Redação
Atualização:

Desde que a seca passou a atingir o Amazonas, 110 animais, entre botos e tucuxis, já morreram na região de Tefé, no Médio Solimões. Isso corresponde a cerca de 5% da população dessas espécies, de acordo com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A causa da morte desses animais ainda é desconhecida, mas os pesquisadores acreditam que a mortandade está ligada às altas temperaturas das águas.

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A Amazônia sofre com seca extrema, que tem baixado o nível dos rios e dificultado o abastecimento e o transporte na região. A estiagem deste ano é agravada pelo El Niño. O fenômeno climático se caracteriza pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico na região do Equador. Isso causa a interrupção dos padrões de circulação das correntes marítimas e massas de ar, o que leva a consequências distintas ao redor do mundo.

“A minha impressão é que tem algo na água, obviamente, relacionado à situação de seca extrema, baixa profundidade dos rios e, consequentemente, ao aquecimento das águas. A média histórica da temperatura da água no Lago do Tefé é de 32 graus e, na quinta-feira, nós aferimos 40 ºC até três metros de profundidade”, diz Miriam Marmontel, pesquisadora do Mamirauá.

Boto vermelho morreu no lago Tefé, no Amazonas – Foto: André Zumak/Instituto Mamirauá  Foto: André Zumak/Instituto Mamirauá

Equipes de apoio e resgate de cetáceos vivos chegaram a Tefé no fim de semana. Um barco com piscina está recebendo os animais resgatados com vida. Eles devem ser mantidos nela até que o resultado da análise dos estudos seja concluído.

“Se for um agente infeccioso, seria muito arriscado liberar os animais para o rio Solimões, pois terminaria infectando o resto da população. Aparentemente, é um evento isolado no Lago Tefé, e não há registro de algo semelhante acontecendo nas cidades do entorno”, afirma a pesquisadora.

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Especialista em mamíferos aquáticos, Miriam diz que a população de botos e tucuxis no Lago Tefé é estimada em 900 e 500 indivíduos, respectivamente. Ela pesquisa os animais da Amazônia há 30 anos. “Estamos enfrentando um evento de mortalidade incomum de botos amazônicos no Lago Tefé – uma situação muito preocupante e grave. Entre sábado, 24, e segunda-feira, 2, perdemos 110 animais entre botos-vermelhos e tucuxis”, afirma.

Investigação

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do Ministério do Meio Ambiente, informou no sábado, 30, que vai apurar as causas das mortes de botos. “Protocolos sanitários foram adotados para a destinação das carcaças. O ICMBio segue reforçando as ações para identificar as causas e, com isso, adotar medidas para proteger as espécies”, informou o ICMBio.

Ao todo, 18 municípios do Amazonas já estão em situação de emergência. Outros 37 estão em ‘alerta’ e mais cinco declararam situação de atenção, conforme a Defesa Civil do Estado.

Em foto de janeiro de 2018, boto morto na Baía de Sepetiba, no litoral sul do Rio de Janeiro. Foto: Wilton Junior/Estadão  

O diretor do Instituto Mamirauá, João Valsecchi, diz que a seca também tem causado transtornos para a população, como dificuldade de mobilidade, restrição de acesso a muitas áreas, e o aumento do custo de vida. “Escolas estão sendo fechadas, linhas de barcos deixam de funcionar, todos os produtos estão mais caros nas cidades e principalmente no interior e, neste ano, de forma muito atípica, estamos registrando a mortalidade de pescado e botos no Lago Tefé”, afirma.

No sábado, 30, em entrevista ao programa Viva Maria, da Rádio Nacional da Amazônia, um dos veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Miriam disse que esses animais acabam atuando como sentinelas da qualidade da água e são os primeiros a ser afetados com mudanças provocadas no ambiente.

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“Eles nos deram o alerta e agora tem de ficar atento a isso. A tendência, se não mudarmos nossos hábitos, esses eventos vão continuar, mais aquecimento global, mudança nos parâmetros climáticos”, disse.

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