BRASÍLIA – A reação dos garimpeiros do Pará contra as ações policiais que combatem a mineração ilegal no Estado conta com a atuação direta do deputado federal José Priante (MDB-PA), primo do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).
Na noite de terça-feira, 15, Priante esteve no Palácio do Planalto, para um encontro com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, com o objetivo de pedir o fim das operações iniciadas na segunda-feira, 14, e que tem destruído equipamentos utilizados pelo garimpo ilegal. Priante estava acompanhado do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões Júnior, e do prefeito de Itaituba, Valmir Climaco (MDB). A reunião teve ainda a participação do secretário de Meio Ambiente de Itaituba, Bruno Rolim.
Nesta quarta-feira, a operação da PF, que teve apoio de agentes do Ibama e Funai, contabilizou a destruição e apreensão de 17 escavadeiras hidráulicas na região, 26 motores-bomba, duas antenas de satélite, duas motos, um carro, uma balsa, três geradores e um trator esteira. Foram ainda destruídos 14 acampamentos e 39 mil litros de combustível.
Em vídeo divulgado pelo próprio Priante, o deputado afirma que o encontro teve o objetivo de “buscar respostas diante dos últimos acontecimentos de destruição de ativos, que poderiam ser convertidos em benefício da sociedade”. Segundo o parlamentar, “as cenas de destruição tem estarrecido a todos da região do Vale do Tapajos!”.
Como mostrou o Estadão, um grupo de garimpeiros se reuniu na madrugada desta quarta-feira, 16, em Itaituba, no Pará, para protestar contra a fiscalização ambiental e bloqueou a acesso à sede do Instituto Chico Mendes (ICMBio) no município. Em áudios que circulam em grupos de Whatsapp, os garimpeiros pedem que empresários e demais mineradores que se reúnam em frente à base do ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente responsável por cuidar das unidades de conservação, para protestar contra as ações de repreensão ao crime. Agentes da Força Nacional de Segurança Pública estão presentes na região. No município, houve registro de pontes de madeira que foram queimadas.
A destruição de máquinas é uma ação prevista em lei. A queima de equipamentos não apenas inviabiliza financeiramente o crime, como, em muitas ocasiões, é uma medida para garantir a segurança dos próprios agentes, dado que a remoção pode ser complexa e arriscada, com riscos de emboscada.
Na segunda feira, 14, a PF deflagrou a Operação Caribe Amazônico, nas proximidades da terra indígena Munduruku, do Pará. O objetivo das ações é reprimir atividades de garimpo ilegal no Rio Tapajós, por meio da apreensão de materiais e destruição de maquinários utilizados na prática ilegal, além da repressão de outros crimes ambientais que impactam na região de Alter do Chão.
Após a publicação desta reportagem, o deputado José Priante se manifestou sobre a situação envolvendo os garimpeiros e disse que esteve no Palácio do Planalto para protestar contra a destruição das máquinas. “Fui com o prefeito do MDB para fazer um registro de que estão tocando fogo, destruindo os equipamentos. É uma ação de pouca inteligência, destruir ativos que podem ser utilizados por prefeituras, é algo desinteligente”, comentou.
Segundo Priante, que é autor de um projeto de lei de 2017 que tenta impedir a destruição de bens apreendidos em ação criminosa, os fiscais fazem “algo espetaculoso” e que merece revisão. “Não estou defendendo o garimpo ilegal, mas a não destruição de equipamentos. Que coloquem para leilão, vendam. Fomos ao Palácio do Planalto para fazer um registro do que pensamos. Não dá para destruir.”
O deputado disse que o ministro Ciro Nogueira se comprometeu em levar o assunto ao presidente Jair Bolsonaro. “É um espetáculo que está sendo feito. Salvo o Greenpeace, qualquer pessoa se assusta com uma atitude dessa. É uma operação de guerra, uma ação hollywoodiana.”
Questionado sobre o bloqueio que manifestantes fizeram à sede do ICMBio, o deputado afirmou “violência gera violência”. “A gente ouve e sabe disso desde cedo. Tem entre 50 mil e 100 mil garimpeiros na região. Vai ser na base de bomba, de destruição? A forma com que a situação está sendo tratada está gerando reações”, disse. “É um desperdício destruir ativos. Eu sou a favor de que seja coibida a atividade irregular, mas estão criando um clima de guerrilha.”
José Priante disse que não defende o garimpo ilegal, que reconhece como ilegalidade, mas cobra o fim da destruição das máquinas. “Não estou defendo o garimpo ilegal, a irregularidade, mas afirmo que garimpeiro não é bandido. É desinteligente destruir o equipamento. Não tem ambientalista que me justifique isso.”
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