SÃO PAULO - Professores da USP envolvidos na realização do plano de manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Tietê divulgaram na última sexta-feira (24) uma manifestação contrária ao secretário estadual do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a quem apontam “desrespeito e absoluta falta de ética profissional”.
A nota se refere a comentários feitos por Salles ao justificar alterações realizadas pela secretaria no plano e que hoje são questionadas pelo Ministério Público. Por essas mudanças, que teriam reduzido o grau de proteção ambiental de parte da área para supostamente privilegiar mineração e indústria e assim foram aprovadas pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), Salles está sendo investigado por improbidade administrativa.
Em entrevista coletiva à imprensa no dia 14 deste mês, Salles afirmou que foram alterados seis mapas que definem o zoneamento da APA porque eles continham erro. É o caso de tanques de tratamento de água e esgoto de Barueri que teriam sido registrados como lagos. Se assim o fossem, o entorno teria de ser classificado como área de preservação permanente. Do contrário, essa proteção não seria necessária.
“O que fizemos foi corrigir esse erro crasso e evidente no mapa proposto pela FUSP (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, que elaborou o plano de manejo) com apoio do MP”, afirmou. Em outro mapa, diz, um canal de circunvalação foi confundido com o Rio Tietê.
Numa tentativa de ridicularizar o trabalho, Salles afirmou que foi feito por “uma faculdade de artes” da USP. Ele se refere, porém, à USP Leste, cujo nome oficial é Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH). O plano de manejo foi elaborado dentro do departamento de geografia.
“O tal estudo foi feito pela faculdade de artes da USP. Na gestão do governo (Alberto) Goldman (abril de 2010 a janeiro de 2011, que assumiu quando José Serra renunciou – ambos são do PSDB) foi contratada a faculdade de artes da USP para fazer um estudo de R$ 1 milhão que não soube reconhecer sequer uma lagoa de tratamento de esgoto em Barueri”, disse.
Na carta, Neli Aparecida de Mello Théry, que coordenou a primeira fase do plano, Cleide Rodrigues, coordenadora da segunda fase, e Jurandyr Luciano Ross, coordenador da fase final – os três com doutorado em geografia –, escrevem: “Nos causou espanto e muita indignação o teor das notícias veiculadas, devido ao grau de desconhecimento, de desrespeito e de absoluta falta de ética profissional demonstrado pelo senhor secretário em suas declarações recentes à mídia, principalmente no que diz respeito à qualificação profissional dos docentes e pesquisadores da EACH-USP e Geografia-FFLCH-USP, bem como dos documentos elaborados no plano de manejo”.
Eles dizem que não vão fazer nenhuma manifestação de natureza técnico científica específica sobre os mapas antes do desenrolar do inquérito do M. O o órgão informou que vai checar possíveis discrepâncias dos mapas in loco.
Mas os pesquisadores ressaltam que o mapas e textos submetidos ao Consema “passaram pelo crivo de mais de 20 docentes e pesquisadores de diversas especialidades desta Universidade juntamente com pesquisadores também de diversas especialidades da própria Fundação Florestal da SMA-SP”.
Segundo eles, “65 tipos de mapas temáticos e quase 700 páginas de textos analíticos foram objeto de discussões e ajustes a partir das contribuições vindas das mais de 10 oficinas participativas, 13 reuniões do Conselho Gestor da APA VRT e pela própria CTBio, ou seja, em todas as instâncias democráticas que antecedem o Consema”.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente disse que não iria se manifestar sobre a carta dos pesquisadores.
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