Qual é a diferença da água do Tietê de acordo com a cidade? Veja se você consegue descobrir

Em Barra Bonita, memorial possui amostras desde a nascente, em Salesópolis, até a foz, em Itapurá

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Foto do author João Ker
Atualização:

Com mais de 1.100 quilômetros de extensão, o Rio Tietê nasce em Salesópolis, próximo à capital paulista, e corta a maior parte de São Paulo antes de desembocar no Rio Paraná, próximo à fronteira com o Mato Grosso do Sul. Mas apesar da cor escura, do fedor e do excesso de poluição que exibe quando passa pela região metropolitana, ele chega ao interior do Estado com águas límpidas e quase irreconhecíveis. Em Barra Bonita, o Memorial do Tietê mostra exatamente essa evolução com amostras de águas coletadas em cinco pontos do seu curso.

Distante cerca de 300 quilômetros da capital e no centro-oeste do Estado, a história de Barra Bonita está ligada à do Rio Tietê desde que o município foi oficialmente fundado em 1883. No século seguinte, os passeios rio acima e abaixo começaram ainda dois anos antes de a cidade inaugurar uma eclusa em 1971, hoje a sua principal atração turística com um passeio que é pioneiro desse tipo na América Latina (veja mais no vídeo abaixo).

“Meu pai era amigo dos tripulantes de navios a vapor. Acho que ele começou isso por saudosismo”, lembra Hélio Palmesan. Hoje, aos 67 anos, ele mantém viva não só a tradição navegante que seu pai, Raphael Palmesan, iniciou em 1971, mas também o cuidado e empenho pela preservação e recuperação do Rio Tietê.

Amostras da água do Rio Tietê em diferentes pontos do percurso: no primeiro pote, a clareza da nascente, em Salesópolis; no terceiro, a poluição da região metropolitana de São Paulo Foto: Tiago Queiroz

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Em 1999, Hélio criou a Mãe Natureza, uma organização não-governamental que surgiu como extensão do Movimento de Defesa do Rio Tietê, iniciado por ele mesmo quando se deparou com o rio coberto por peixes mortos, em 1981. “O sonho e a luta da minha vida é ver o rio limpo”, diz.

Com o objetivo de incentivar a preservação, o desenvolvimento sustentável e a educação ambiental de Barra Bonita, Hélio fundou o Memorial do Tietê. Desde o ano 2000, o espaço no centro da cidade guarda a história do principal rio de São Paulo desde a sua colonização, com mapas, imagens, relatos e, o mais chocante, amostras de águas coletadas em seis pontos diferentes do seu percurso: Salesópolis, Mogi das Cruzes, São Paulo, Porto Feliz, Barra Bonita e Itapurá.

Em Salesópolis, na nascente do rio, a água é límpida e potável Foto: Divulgação

Na nascente de Salesópolis, a água do Rio Tietê ainda é cristalina e transparente, algo que começa a mudar já em Mogi das Cruzes. A amostra de São Paulo, como era de se esperar, é a mais suja de todas, com a coloração escura e cheia de resíduos. À medida que as cidades vão se afastando da capital, ela volta a clarear aos poucos e quase atinge o mesmo nível de limpeza da nascente quando chega a Itapurá.

“Mesmo em Salesópolis, o rio vai recebendo sua primeira carga de poluição naquela região, apesar de muito menor por serem cidades pequenas e agropecuárias. Mas já tem muito agrotóxico”, explica o biólogo Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios da SOS Mata Atlântica. “É em Mogi das Cruzes que o negócio fica feio, porque ali já tem atividades industriais. Aí pega o esgoto de Guarulhos, a segunda maior cidade do Estado, e o de São Paulo, que ainda tem desafios enormes no saneamento”, acrescenta.

A degradação do Tietê começa em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana Foto: Divulgação

O Tietê só volta a se oxigenar quando começa a passar por Salto, onde o curso da água muda de regime lêntico para lótico, até chegar às corredeiras de Santana do Parnaíba. “Até ali tem pouca descaída, sem grandes movimentações de água, com o rio vindo lento e sem cachoeiras. A matéria orgânica demora mais a se decompor porque tem menos oxigenação e, portanto, é um ecossistema sem vida”, diz o biólogo.

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“Esse aumento da correnteza acaba fazendo que haja troca de oxigênio com a atmosfera. Isso ajuda os organismos do rio, que também vai ficando maior”, completa Veronesi, explicando como é possível o Tietê sair imundo de São Paulo e chegar limpo a Barra Bonita, a ponto de ser conhecido como “a praia” da cidade e própria para banho.

Na capital, nem mesmo as obras de recuperação do Projeto Tietê foram capazes de tornar o rio limpo Foto: Divulgação

O biólogo defende que o Tietê receba a mesma atenção que tem sido destinada à despoluição do Rio Pinheiros. “Salvar um é salvar o outro”, diz. E, apesar de reconhecer que o projeto de limpeza do maior rio de São Paulo é um processo de anos, ele não perde a esperança: “Acho que é possível. Luto pra isso. É algo que quero ver ainda em vida e que a geração atual também veja”.

Serviço:

  • Memorial do Tietê

Endereço: Av. Pedro Ometto, 467 - Centro, Barra Bonita - SP, 17340-000

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Mais informações: https://barrabonita.sp.gov.br/turismo/pontos-turisticos/memorial-rio-tiete

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