CALI, Colômbia — Mais de um terço das espécies de árvores do mundo estão ameaçadas de extinção, de acordo com a primeira avaliação abrangente de árvores feita pela maior autoridade científica do mundo sobre o status das espécies.
As descobertas, anunciadas pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, são especialmente preocupantes, dada a quantidade de vida que as árvores sustentam. Incontáveis espécies de outras plantas, animais e fungos dependem de ecossistemas florestais. As árvores também são fundamentais para regular a água, os nutrientes e o carbono que aquece o planeta.
“As árvores são essenciais para sustentar a vida na Terra por meio de seu papel vital nos ecossistemas, e milhões de pessoas dependem delas para suas vidas e meios de subsistência”, disse Grethel Aguilar, diretora-geral da União Internacional para a Conservação da Natureza, em um comunicado.
A avaliação de árvores é considerada abrangente porque inclui mais de 80% das espécies de árvores conhecidas. No total, 38% foram consideradas em risco de extinção. Mais de 1.000 especialistas de todo o mundo contribuíram.
A biodiversidade das ilhas é particularmente vulnerável, em parte porque essas espécies geralmente têm populações pequenas que não existem em nenhum outro lugar, e as árvores das ilhas foram responsáveis pela maior proporção de árvores ameaçadas de extinção. Em Madagascar, por exemplo, inúmeras espécies de jacarandás e ébanos estão ameaçadas. Em Bornéu, 99 espécies da família de árvores chamada Dipterocarpaceae estão em perigo. Em Cuba, restam menos de 75 indivíduos maduros da Harpalyce macrocarpa de flor vermelha, conhecida em espanhol como sangue de donzela.
Em todo o mundo, as maiores ameaças às árvores são a agricultura e a exploração madeireira, seguidas pela urbanização, disse Emily Beech, chefe de priorização de conservação da Botanic Gardens Conservation International, um grupo sem fins lucrativos que liderou a pesquisa agora incluída na Lista Vermelha.
Para regiões temperadas, pragas e doenças são grandes ameaças às árvores. A mudança climática é uma ameaça emergente, disse Beech, e não está claro como o aquecimento afetará a maioria das espécies de árvores.
O grupo anunciou as descobertas em Cali, Colômbia, onde representantes do governo e outros participantes de países do mundo todo se reuniram para a conferência sobre biodiversidade das Nações Unidas, que é realizada a cada dois anos. Agora em sua segunda semana, as negociações estão atoladas em tensões sobre como os países que são mais pobres economicamente, mas frequentemente mais ricos em biodiversidade, vão pagar para conservar e restaurar a natureza em vez de extrair recursos.
O desmatamento é devastador para o clima e a biodiversidade, mas o mundo tem lutado para pará-lo. Em 2021, mais de 140 países, incluindo Brasil, China, Rússia e Estados Unidos, prometeram acabar com o desmatamento até 2030. Tantos países assinaram que o acordo cobre cerca de 90% das florestas do mundo.
Em termos de ação, porém, “as notícias são bastante sombrias”, disse Erin Matson, consultora sênior da Climate Focus, uma empresa que lidera uma avaliação anual do progresso em direção às metas florestais globais. Ela descobriu que, em 2023, a taxa global de desmatamento era 45% maior do que deveria ser para estar no caminho certo para interromper o desmatamento até 2030.
“Há um enorme ponto cego em termos de compreensão e priorização do valor das florestas em pé”, disse Matson. “Os governos são frequentemente afetados tanto pelo lucro quanto as empresas privadas, e é muito mais fácil ganhar dinheiro desmatando uma floresta ou extraindo madeira de uma floresta do que protegendo e conservando uma floresta.”
Ainda assim, o Brasil mostrou que é possível conter o desmatamento com vontade política e forte fiscalização. Agora, está propondo um novo fundo que pagaria aos países em desenvolvimento para manter suas florestas.
A Lista Vermelha também anunciou que o ouriço da Europa Ocidental, até agora considerado uma espécie de menor preocupação de conservação, deteriorou-se para a categoria “quase ameaçado”. A intensificação agrícola, as estradas e o desenvolvimento urbano estão impulsionando os declínios, dizem os cientistas.
Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.