O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), divulgou a primeira estimativa preliminar do custo para a reconstrução inicial de grande parte do território após a maior tragédia ambiental do Estado: quase R$ 19 bilhões. O desastre ambiental e a crise humanitária seguem em curso, com quase 1,5 milhão de afetados e aumento do número de municípios atingidos dia a dia, com 428 das 497 cidades gaúchas impactadas. Ao menos 164,5 mil gaúchos estão desalojados.
Embora tenha divulgado inicialmente como de reconstrução, o montante é dividido em quatro etapas, segundo detalhado em coletiva de imprensa à tarde. As quatro fases são: resposta (R$ 218,6 milhões), assistência (R$ 2,4 bilhões), restabelecimento (R$ 7,2 bilhões) e reconstrução (R$ 8,9 bilhões).
Em resposta, o montante é dividido em reforço de segurança e estrutura de governo emergencial. A parte de assistência envolve o funcionamento de abrigos, o atendimento em saúde para os impactados e benefícios emergenciais para população mais vulnerável.
Em restabelecimento, estão a limpeza, a remoção de escombros, a destinação de resíduos, a demolição de estruturas comprometidas, a desobstrução de vias, a construção de acessos alternativos e o reestabelecimento de serviços essenciais (água, energia e comunicação). Por fim, em reconstrução, a estão obras de rodovias, equipamentos públicos afetados, reurbanização, medidas de recuperação de ecossistemas degradados, apoio a empresas e apoio à agricultura.
O cálculo não inclui todos os danos materiais dos atingidos, dentre empresas, residências e outros espaços. Na prática, o impacto será ainda maior para uma recuperação. Uma linha de crédito de R$ 7 bilhões para empreendedores individuais e empresas de todos os portes no Banrisul.
A sucessão de chuvas extremas, deslizamentos, vendavais e enchentes bloquearam centenas de vias, estradas, pontes e acessos diversos pelo Estado. Somente em rodovias, são 254 bloqueios.
A destruição deixou municípios praticamente inteiros debaixo d’água. Onde as cheias baixaram, a devastação começa a ficar ainda mais evidente, como no Vale do Taquari, porém há previsão de novos temporais e repique nas cheias a partir desta sexta-feira, 10. Grande parte dos municípios vivem crise no abastecimento de água, energia e mantimentos.
Custo total de reconstrução pode ser próximo de R$ 100 bilhões, diz economista
Para especialista ouvido pelo Estadão, o custo da reconstrução ficará mais claro após o fim da tragédia ambiental, quando as águas baixarem e toda a destruição estiver mais evidente. Serão necessários estudos e levantamentos variados para identificar os impactos, assim como para avaliar mudanças e adaptações para evitar que situações tão graves se repitam.
Cálculos preliminares do economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter B, indicam que a reconstrução exigirá ao menos R$ 92 bilhões ou 0,8% do PIB.
O especialista destaca que o Rio Grande do Sul tem cerca de 5% da população brasileira, e que o estoque de infraestrutura do País chega a 36% do PIB. “O Estado deve refletir a média do País ou pouco menos, algo em torno de 1,5% do estoque (da infraestrutura). Se metade foi destruída ou danificada ao ponto de ter de ser reconstruída, podemos então indicar que o custo seria cerca de 0,8% do PIB ou R$ 92 bilhões”, afirmou.
Como as novas obras terão que levar em consideração o risco climático, o gasto tende a ser maior. “O custo de reconstruir com maior resiliência (às chuvas) é possivelmente maior do que o foi no passado. Além disso, nem toda infraestrutura urbana que foi fortemente afetada está refletida naquele nível de estoque, a exemplo de vias urbanas e prédios públicos. Logo, o número pode ser maior do que R$ 92 bilhões”, afirmou.
Ele entende esse número como um ponto de partida, um dado que indique o tamanho do desafio que será a reconstrução após a tragédia. “É uma estimativa em termos de ordem de magnitude. Só saberemos de fato quando as águas baixarem e se puder fazer uma avaliação criteriosa”, afirmou.
Segundo ele, o governo federal precisará remodelar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para direcionar parte dos recursos para o estado. Além disso, as emendas parlamentares terão que se concentrar no essencial, com análises baseadas no custo-benefício de cada projeto. “Neste momento, precisamos nos afastar do populismo fiscal e do patrimonialismo com dinheiro público”, afirmou.
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