SP vê seca começar mais cedo e alta de incêndios: qual o plano do Estado para estiagem?

Ao menos 4 municípios paulistas já têm fornecimento de água afetado; Sabesp diz nega risco de desabastecimento, mas orienta uso consciente. Especialista prevê falta de chuva por dois anos

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Com a seca atingindo grande parte do Estado, o governo de São Paulo criou um plano com diretrizes para mitigar efeitos da estiagem. O Estado tem dez cidades em emergência devido à seca e ao menos quatro - Bauru, Vinhedo, Artur Nogueira e São Pedro do Turvo - já têm o fornecimento de água afetado. O número de queimadas aumentou e a Defesa Civil diz ter intensificado ações de fiscalização e prevenção contra incêndios.

Vinhedo tem um rodízio preventivo por causa da estiagem Foto: Divulgação/Sanebavi

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O plano - cujo decreto foi publicado na segunda-feira 29 - prevê ações para garantir o abastecimento de água potável à população e apoiar a atividade agrícola nas regiões afetadas. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) diz que não há risco de desabastecimento neste momento nos 375 municípios que atende no Estado (o que inclui a capital e a região metropolitana), mas orienta o uso consciente da água (leia mais abaixo).

Segundo o tenente Maxwel Souza, porta-voz da Defesa Civil estadual, o período de estiagem, que normalmente começa em junho, este ano começou em abril. “A ausência de chuvas gerou um cenário desafiador, principalmente nas regiões central, centro-oeste e norte do Estado. Este ano tivemos, até agora, aumento de queimadas”, diz.

“Levantamento da Defesa Civil mostrou que o mês de junho foi o mais seco em 63 anos. Em cidades como a capital, São José dos Campos, Ribeirão Preto e Araraquara, tivemos zero de chuva”, afirma.

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Bauru, principal cidade do noroeste paulista, já convive com rodízio de água desde 9 de maio. Itu decretou intervenção em lagos e açudes privados. Vinhedo adotou rodízio preventivo em 23 de maio (com restrições à noite) e prevê multa para quem lavar carro ou regar jardim. (leia mais abaixo).

Com mananciais, como o do Braiaiá, abaixo da capacidade, a prefeitura de Itu decretou intervenção em açudes particulares. Foto: CIS/Divulgação

A previsão da Defesa Civil é de pouca chuva até o início de outubro. O Sistema Cantareira, que abastece parte da capital e Grande São Paulo, estava com 62,2% do volume operacional, na quarta-feira, 31, ante 78,9% no mesmo dia do ano passado.

Os outros sistemas que abastecem a região metropolitana de São Paulo também estavam em queda e com índices de chuva abaixo da média. O sistema Rio Claro, o mais crítico, estava com 30,3% do volume, ante 41,2% na mesma data de 2023.

Conforme o Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas (Ana), devido à persistência de chuvas abaixo da média, houve avanço da seca no oeste, centro e norte do Estado.

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Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), neste mês o Sistema Cantareira está classificado em seca hidrológica de intensidade severa, mas em situação estável quando comparado ao mês anterior.

Última previsão do Cemaden, publicada em 3 de julho com previsão para o mês, indicava seca extrema em 70 municípios das regiões central, norte e noroeste do Estado.

Segundo a Sabesp, a região metropolitana de São Paulo é abastecida pelo Sistema Integrado Metropolitano, composto por 7 mananciais: Cantareira, Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço. Desde a crise hídrica de 2014/2015, o sistema ficou mais flexível, sendo possível abastecer áreas diferentes com mais de um sistema.

A Sabesp destaca a gestão integrada de recursos hídricos e a ampliação da infraestrutura, como a interligação entre as represas Jaguari (Rio Paraíba do Sul) e Atibainha (Sistema Cantareira), ampliação da capacidade de tratamento do Sistema Guarapiranga, inauguração do Sistema Produtor São Lourenço e o novo Sistema de Abastecimento de Água Sapucaí Mirim, inaugurado em julho de 2022, em Franca.

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Houve ainda a retomada das obras de aproveitamento do Rio Itapanhaú, do Sistema Alto Tietê, e ainda a construção da nova adutora Vila Alpina e da Barragem de Botucatu, além do início das obras dos reservatórios em São Sebastião e Ubatuba, no litoral norte.

A Sabesp aponta também reforço no abastecimento do Guarujá por tubulação subaquática ligada ao sistema de Santos e nova captação de água no Rio Trindade, devido à baixa incidência de chuvas e às temperaturas altas neste inverno atípico. Também diz investir em ações para reduzir perdas e em ações ambientais para preservar e recuperar os corpos hídricos.

Lagoa de captação do Rio Batalha em Bauru; população da cidade convive com o rodízio no abastecimento há mais de 70 dias. Foto: DAE/Divulgação - 12/11/2021

Para o especialista em engenharia hidráulica e ambiental Antônio Carlos Zuffo, a pouca chuva no Estado deve continuar por dois anos. “O período chuvoso começa no fim de setembro e início de outubro, mas se vier o La Niña (fenômeno climático que interfere nos padrões de chuva e temperatura), teremos um período de chuvas mais curto”, diz.

“Ainda que chova em março e abril, não será suficiente para a recarga completa dos aquíferos. Estamos vindo de anos mais secos e o volume disponível está sendo consumido. Com menor recarga, haverá menos vazão nos rios”, acrescenta ele, professor associado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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Segundo ele, vão sofrer mais as cidades que não têm reservatórios e que fazem a captação direta em rios. Zuffo lembrou que uma nova crise hídrica já era esperada. “É o ciclo de Schwabe (fenômeno solar em que eventos se sucedem em períodos de 11 anos). Tivemos a crise hídrica energética em 2002/2003, a crise hídrica em 2014/2015. Se somar mais 11 anos, há uma provável crise hídrica em 2025/2026. Já alertamos para isso lá atrás”, disse.

Emergência hídrica

Segundo a Defesa Civil estadual, cidades decretaram situação de emergência hídrica:

  • Santa Cruz do Rio Pardo
  • São Pedro do Turvo
  • Alvinlândia
  • Espírito Santo do Turvo
  • Ribeirão do Sul
  • Vera Cruz
  • Ubirajara
  • Campos Novos Paulista
  • Vinhedo
  • Bauru

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Vinhedo, Bauru e São Pedro do Turvo levaram em conta o baixo nível dos mananciais e risco para o abastecimento. Nas demais, a decisão foi tomada devido ao forte impacto no campo, com o secamento de açudes, perda de lavouras e impossibilidade de cultivo.

Em Itu, a prefeitura decretou intervenção em 36 lagos e açudes privados para garantir a retirada da água necessária para o abastecimento da população em caso de emergência. Conforme o município, a medida é preventiva diante da estiagem. A Companhia Ituana de Saneamento disse que os mananciais operam com 65% da capacidade e não há risco de racionamento.

Em Bauru, principal cidade do noroeste paulista, a população convive com o rodízio no abastecimento há mais de 70 dias, principalmente devido à queda no nível do Rio Batalha, que abastece quase um terço da cidade. Algumas regiões já são abastecidas por caminhões-pipas. O Departamento de Água e Esgoto (DAE) informou que atua para minimizar efeitos da estiagem.

Em Vinhedo, na região de Jundiaí, a prefeitura decretou estado de crise hídrica em maio, autorizando o serviço de água a utilizar poços e reservatórios particulares. Usar água para lavar carro, calçada ou regar jardim rende multa de R$ 663, valor que dobra em caso de reincidência.

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A mesma medida foi adotada pelo município de Artur Nogueira, na região de Campinas. O problema, segundo a prefeitura, está no baixo nível da Represa Cotrins, principal manancial de abastecimento.

Conforme Souza, da Defesa Civil, o plano do governo é preventivo e tem como principal ação engajar a população para que economize água. “Vamos começar com uma campanha maciça pelos meios de comunicação e pela internet apelando para o consumo consciente para que não falte água. No momento, estamos em uma condição de neutralidade climática, até a chegada do La Niña, mas a previsão é de chuvas menos regulares”, disse.

O plano prevê ainda auxílio direto aos municípios fornecendo, por exemplo, caminhões-pipa para abastecer áreas críticas, além de recursos para perfurar poços e construir estações de tratamento de água compactas. Já para as populações rurais afetadas pela seca, o governo vai incentivar a prática de reúso da água e pode até fornecer ajuda humanitária, como cestas básicas onde for necessário.

Ações contra incêndios

Uma das ações de prevenção de incêndios é a realização dos “aceiros negros”, quando os capins são retirados por meio de fogo controlado. Foto: Fundação Florestal

Ao mesmo tempo, segundo o porta-voz da Defesa Civil, serão intensificadas as ações de fiscalização e prevenção contra incêndios. “No ano passado, identificamos que 90% dos incêndios florestais resultaram de ação humana, sendo as principais causas a queima de lixo, lançamento de bitucas (de cigarro) acesas, soltura de balões e práticas agrícolas inadequadas, como usar fogo para limpar terreno. Vamos focar nessas ações”, disse.

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Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os satélites registraram mais de 1,7 mil focos de incêndio desde janeiro no Estado, 130% a mais que em 2023. Jaú teve o maior número de queimadas no Estado – 26, seguida por Itapeva (24) e Campinas (21).

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