SÃO PAULO - Em um ano, o trecho considerado “morto” do Rio Tietê, o maior e mais importante do Estado de São Paulo, cresceu 33,6% alcançando a marca de 163 km de poluição, a maior dos últimos seis anos. Os dados são do relatório Observando o Tietê, divulgado anualmente pela Fundação SOS Mata Atlântica.
É considerada trecho morto a parte do rio que apresenta Índice de Qualidade da Água (IQA) classificado como ruim ou péssimo. O indicador é obtido por meio da soma de parâmetros físicos, químicos e biológicos achados nas amostras de água. No trecho morto, não há condição de vida para peixes e a água não pode ser usada para lazer, irrigação ou consumo.
O relatório aponta que a ampliação da mancha é resultado de uma série de fatores, como urbanização intensa, falta de saneamento ambiental, perda de cobertura florestal, insuficiência de áreas protegidas e baixo registro de chuvas. O levantamento indicou que a condição ambiental do rio está imprópria para o uso, com qualidade da água ruim ou péssima, em 28,3% de sua extensão – que totaliza 576 quilômetros.
O governador João Doria (PSDB) promete despoluir o Rio Tietê até 2027 e o Rio Pinheiros, até 2021. Entre as ações já adotadas este ano pela pasta para despoluir Tietê e Pinheiros estão o uso de ecobarcos coletores de lixo e a retirada de resíduos. De janeiro a abril, foram retiradas 2,2 mil toneladas de resíduos dos dois rios.
“Apesar das promessas, que não são só de agora, nós estamos caminhando na contramão. Mais venenos estão sendo liberados, houve diminuição da fiscalização de desmatamento e aumento de famílias em áreas irregulares e sem acesso a saneamento ambiental com a crise financeira que vivemos”, disse Malu Ribeiro, especialista em água da SOS Mata Atlântica.
É a maior mancha de poluição já registrada no rio desde 2013, quando ela alcançou 177 quilômetros. Além disso, é o primeiro ano, desde 2015, que o trecho poluído voltou a crescer. “Extremamente preocupante também foi que tivemos o primeiro aumento da mancha no trecho de cabeceira do rio (na região do Alto Tietê, entre Mogi das Cruzes e Suzano). O aumento da poluição nessa região compromete a qualidade de toda a bacia hidrográfica”, diz Malu.
A região do Alto Tietê, apesar de altamente adensada, ainda concentra maior porção de Mata Atlântica preservada, em 21% do seu território. Nas demais regiões, não chega a 10%.
Nessa área, segundo ela, a poluição teria sido causada sobretudo pela baixa cobertura de saneamento ambiental, especialmente em municípios não operados pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). “Esse aumento é reflexo do baixo engajamento desses municípios e também da falta de integração entre eles”, diz.
Eventos climáticos extremos no Estado também são apontados como causa para mais poluição. As bacias do Alto e Médio Tietê registraram volumes de chuva 20% inferiores à média dos últimos 23 anos, o que fez com que rios e reservatórios perdessem a capacidade de diluir poluentes. O outro extremo também prejudicou: temporais atípicos em fevereiro e julho. O grande volume de chuva resultou na abertura de barragens, com exportação de enorme carga de poluição, sedimentos e resíduos sólidos para toda a extensão do rio.
Segundo Malu, a situação só não é pior do que a de 2013 porque houve aumento da quantidade de água classificada como ruim – e não como péssima. “É uma situação visível para a população, pois, embora a água seja imprópria, ela não causa um mal-estar com odor forte ou irritação nas vias respiratórias.”
Estado diz investir em saneamento e desassoreamento
Em nota, a gestão João Doria (PSDB) diz que o programa para despoluir o Rio Pinheiros está em andamento, que editais para obras de saneamento estão publicados e os trabalhos de desassoreamento ocorrem desde agosto.
Em paralelo, acrescenta o governo, o projeto Tietê “vem contribuindo para a redução da mancha de poluição do rio, que apresenta tendência de queda histórica desde a década de 1990, ainda que apresente algumas flutuações momentâneas”. Segundo a nota, a melhora na qualidade da água beneficiou 500 mil pessoas de cidades às margens do rio.
O Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) realiza o desassoreamento de três trechos do Tietê, que somam 85,2 quilômetros, para minimizar o impacto das chuvas e revitalizar o curso d’água. De janeiro a agosto, foram removidos 305,2 mil metros cúbicos de sedimentos, o equivalente a 122 piscinas olímpicas.
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