UE ameaça romper com a COP-27 se não houver acordo para limite de 1,5°C de aumento da temperatura

Nas conferências climáticas da ONU, todas as decisões devem tomadas em comum acordo; COP teve último dia oficial na sexta-feira, mas tratativas continuam neste sábado

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Por Redação
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SHARM EL-SHEIK (EGITO) - As negociações na Conferência do Clima da ONU, COP-27, no Egito, entraram em uma fase crítica neste sábado, 19, depois de a União Europeia ter condenado o que considera um “retrocesso inaceitável” em relação a compromissos anteriores. O bloco europeu ameaçou romper com a COP-27 e abandonar a reunião se não forem firmados, no documento final, os compromissos de não ultrapassar o limite de 1,5 Cº de aquecimento global.

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A informação foi dada pelo vice-presidente executivo da Comissão Europeia (CE), Frans Timmermans, durante encontro improvisado com a imprensa, após a rodada de negociações na sexta-feira, 18. O encontro também reuniu vários ministros e funcionários europeus de alto escalão, incluindo a vice-presidente do governo espanhol, Teresa Ribera, que apoiou o anúncio.

“Seremos claros. Os parceiros da UE estão aqui para trazer um bom resultado. Preferimos não ter uma decisão a ter uma decisão ruim”, disse Timmermans, visivelmente chateado.

Conferência do Clima da ONU, COP-27, realizada no Egito.  Foto: Mohammed Salem/Reuters

Em uma clara mensagem de pressão, o também responsável pela Comunidade do Pacto Verde acrescentou que a UE pretende chegar a um resultado positivo, mas não quer um resultado a qualquer preço. “Não vamos aceitar resultados que nos levem de volta, precisamos seguir em frente e não recuar. E todos os ministros e eu estamos preparados para seguir em diante”, disse ele.

Timmermans argumentou que ainda acredita que será possível obter um resultado positivo neste sábado, mas que a UE está preocupada com indícios de que as negociações estejam retrocedendo.

“É por isso que é importante lembrar que nós, europeus, estamos dispostos a continuar trabalhando para encontrar o caminho para garantir o cumprimento dos nossos compromissos de solidariedade e redução de emissões de gases, apesar das dificuldades objetivas que a Europa enfrenta”, acrescenta Teresa.

A COP-27 deveria ter terminado oficialmente na sexta-feira, mas tratativas continuaram neste sábado.

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O bloco europeu se opõe a uma proposta da presidência egípcia que, em sua opinião, reverte o compromisso dos quase 200 países membros da COP de continuar reduzindo a emissão de gases de efeito estufa, conhecido como o capítulo da mitigação.

“A grande maioria das partes me indicou que considerava o texto equilibrado e que pode levar a um consenso”, respondeu pouco depois o chanceler egípcio Ameh Shukri, que preside a COP-27.

A mitigação é essencial para manter ‘vivo’ o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. “Não estamos aqui para fazer declarações, mas para manter viva a meta de 1,5ºC”, exigiu a chanceler alemã, Annaelena Baerbock.

A 27ª conferência climática da ONU foi aberta em 6 de novembro com um tema dominante na agenda: a possibilidade de criar um fundo para perdas e danos causados pelas mudanças climáticas.

As negociações aceleraram depois que Timmermans propôs, em sessão plenária na quinta-feira, 17, abordar a criação de um ‘Fundo de Resposta’ aos desastres climáticos, dedicado aos países mais vulneráveis, em troca de basicamente duas condições.

Primeiro, ampliar a base de doadores, ou seja, integrar aqueles países que se tornaram grandes emissores, como a China.

E em segundo lugar, um forte e explícito compromisso de mitigação, para manter esse objetivo de 1,5 ºC como limite para o aumento da temperatura.

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Estas ligações entre um fundo de reparação, que para ele contribui, e a mitigação das emissões, acabaram por paralisar as negociações, segundo várias fontes consultadas pela AFP.

O texto de negociação gerado por uma grande maioria ainda não havia sido publicado até o meio da manhã de sábado (horário local), apurou a agência.

Conferência teve último dia oficial na sexta-feira, 18, mas tratativas entraram em debate neste sábado, 19. Foto: UN Climate Change/Youtube

Um rascunho anterior incluía até três opções nesse fundo.

Uma fonte negociadora latino-americana alertou sob condição de anonimato que todo o capítulo sobre mitigação “explodiu”, com demandas muito contraditórias.

“Como você pode imaginar, nenhum dos grupos pode dizer que todos os seus interesses estão cobertos”, explicou Shukri.

“Há insatisfação de todos os lados, mas há uma grande maioria que defende o texto”, insistiu o chanceler egípcio.

Nas conferências climáticas da ONU, todas as decisões devem tomadas em comum acordo. “Estamos prontos para ficar o tempo que for necessário” em Sharm el Sheikh, disse Timmermans.

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Os Estados Unidos estão calados diante dos debates, embora sejam ativos nas salas de negociação, segundo as fontes consultadas.

O enviado especial do clima dos EUA, John Kerry, testou positivo para a covid-19, o que pode dificultar sua participação.

Compensar os países que historicamente emitiram menos gases de efeito estufa, mas que sofrem as consequências de eventos climáticos extremos, é uma aspiração antiga dos países do Sul.

“As contribuições devem incluir todos os grandes emissores, como China, Arábia Saudita ou Catar”, declarou o ministro canadense do Meio Ambiente, Steven Guilbeault.

O delegado chinês no plenário, Zhao Yingmin, limitou-se a pedir que o Acordo de Paris “não seja reescrito”.

Esse acordo histórico de 2015 lançou as bases do atual compromisso contra as mudanças climáticas, mas lembrou que a responsabilidade é comum, embora diferenciada, ou seja, que os países desenvolvidos devem contribuir muito mais com base em seu histórico de emissões e uso de recursos naturais.

Entre os países em desenvolvimento, há uma considerável desconfiança em relação às promessas não cumpridas.

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Em 2009, os países desenvolvidos prometeram que, a partir de 2020, US$ 100 bilhões por ano seriam gastos para ajudar os países pobres a se adaptarem às mudanças climáticas e reduzirem suas emissões, enquanto embarcavam na transição energética.

E esse montante de 100 bilhões de dólares, que não foi concluído, deve ser aumentado em princípio a partir de 2025. /EFE e AFP

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