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Por que é tão difícil reciclar o vidro e o que pode mudar a partir de agora?

Nova entidade foi lançada junto com a Estratégia Nacional de Economia Circular e tem o objetivo de reaproveitar o material aumentando a coleta seletiva e a reciclagem

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Foto do author Beatriz França

Mais de 1 milhão de toneladas de vidro são produzidas anualmente no Brasil e cerca de apenas 25% são efetivamente recicladas, conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro). No último dia 27, o governo federal implementou a Estratégia Nacional de Economia Circular e foi lançada, oficialmente, a entidade Circula Vidro, que tem como objetivo facilitar questões logísticas e desviar os vidros dos aterros sanitários para o seu reaproveitamento, por meio da coleta seletiva e reciclagem.

“Pretendemos chegar a 40% de vidros reciclados no Brasil até 2032. É bastante difícil, mas, se não mirarmos alto, não vamos andar o suficiente”, afirma Fábio Ferreira, diretor executivo da Circula Vidro.

Garrafas separadas para reciclagem no projeto Recicleiros. Foto: Divulgação/Recicleiros

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Se a taxa de reciclagem do vidro não aumentar, há o temor de que o mercado entre em colapso, com a falta do material nos próximos anos. A Circula atua para qualificar cada vez mais as pessoas para o manuseio do vidro. O objetivo é criar interesse maior de as pessoas recolherem o vidro e, assim, aumentar o índice de reciclagem.

“Não basta colocar toda a responsabilidade na indústria da cerveja, por exemplo. Ela não pode entrar na sua casa e falar: ‘vi que tem uma garrafa ali no fundo’. Temos de criar a consciência no consumidor de que ele tem de fazer o descarte adequado”, reforça Ferreira.

A entidade também tem programas de educação ambiental para as escolas. “Disponibilizamos gratuitamente esse módulo para os professores para que em cinco, dez ou 15 anos, a gente não precise bater na mesma tecla.”

Ferreira explica que o preço do quilo do vidro é bem mais baixo do que o do papelão ou do alumínio. “No Brasil, há um sistema que depende do trabalho de operadores, coleta seletiva, garis, captadores, uma série de pessoas, muitas vezes em situação de vulnerabilidade. Faz diferença trabalhar com material que tem valor um pouquinho maior. Fora o custo logístico de transporte, que é alto”, diz.

Renato Paquet é fundador da POLEN, empresa que desenvolveu um NFT sustentável para ajudar empresas com a reciclagem de resíduos sólidos e a cumprir a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Para ele, falta investimento e estratégia consolidada.

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“A pouca infraestrutura hoje é proveniente de empreendedores que quiseram absorver o vidro para suas operações. Precisa de investimento e planejamento para que haja o efetivo avanço na cadeia da reciclagem de vidro”, diz Paquet, ecólogo formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Implementação da Estratégia Nacional de Economia Circular

Cooperativa Acobraz do Reciclar Pelo Brasil, um programa que participa da Circula Vidro. Foto: ANCAT/Reciclar pelo Brasil/Divulgação

Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirmou que a nova Estratégia “busca promover a transição para uma economia circular, incentivando o uso eficiente dos recursos naturais e práticas sustentáveis na cadeia produtiva”.

A pasta acrescenta que o objetivo é “reduzir a geração de resíduos, propor instrumentos financeiros de auxílio à economia circular e promover maior articulação interfederativa e o envolvimento de trabalhadoras e trabalhadores da economia circular”.

Os principais desafios de reciclar vidro no Brasil

Erich Burger está há 17 anos no mercado da reciclagem é diretor de desenvolvimento de negócios da Recicleiros, uma organização da sociedade civil. Uma das missões da entidade é capacitar prefeituras para que elaborem e implementem suas políticas públicas para a coleta seletiva.

Para ele, o processo de reciclagem do vidro evoluiu pouco nos últimos anos. “Se não houver responsabilização direta do setor empresarial, com metas claras e firmes, a reciclagem vira assunto de segunda ordem e não evolui”, diz.

Burger reforça que a dificuldade de reciclar o vidro está no processo logístico devido a suas densidade e massa altas. “Ele é pesado, volumoso, dificulta o transporte e aumenta os riscos de ferimentos. Com baixa demanda e valor relativamente baixo no mercado, os catadores priorizam materiais mais rentáveis.”

Processo de reciclagem do vidro na Massfix, da Recicleiros. Foto: Massfix/Divulgação

Para melhorar o processo, a Recicla.se tem algumas abordagens, como a otimização da logística, hubs de destinação, uso de tecnologia de rastreamento para monitorar a coleta e o transporte, e parcerias com indústrias que utilizam vidro reciclado.

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Danielle Malta, co-founder e COO, analisa que a reciclagem do vidro, vinculada à logística reversa, oferece à empresa a oportunidade de reduzir custos. “A reutilização do vidro diminui o consumo de energia e o impacto ambiental, evitando o descarte inadequado dos produtos.”

Fábio Ferreira explica que uma garrafa de vidro retornável pode ser usada 25 vezes e, só depois, ir para a reciclagem — o que faz lembrar da política dos 3 R’s (reduzir, reutilizar e reciclar): “Quando a garrafa chega no final da vida útil, você não joga fora. Pega aquela garrafa e devolve para reciclagem.”

Como incentivar a população a reciclar o vidro

Programa Glass is Good, da ABRABE, parceiro da Circula Vidro. Foto: Glass is Good/Divulgação

O processo de reciclagem do vidro começa desde a separação do lixo em casa. Renato Paquet reforça que o descarte correto para a coleta seletiva ou em pontos de entrega voluntária é uma forma de ajudar.

“O mercado pode estimular pagando valor relevante pelo material e também remunerando catadores e gestores de resíduos pelo serviço de gestão deste vidro até que chegue às indústrias recicladoras”, diz.

Para o ecólogo, há algumas formas que funcionam em países onde a reciclagem de vidro se mostra ativa. São elas:

  1. Remuneração do consumidor pela embalagem entregue em bom estado nos pontos de entrega voluntária;
  2. Multa para consumidores que descartam incorretamente e estabelecimentos comerciais que não fazem a gestão adequada dos vidros e seu encaminhamento para a reciclagem;
  3. Obrigação para empresas que colocam embalagens de vidro no mercado a pagar pela coleta e inserção do vidro na cadeia produtiva;
  4. Investimento pelos fabricantes de vidro na infraestrutura recicladora.

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