A erosão não é uma novidade no Estado de São Paulo. As primeiras ocorrências significativas foram identificadas há mais de 60 anos no Oeste paulista e apareceram depois do desmatamento intensivo na região para o plantio de café, algodão e amendoim, e do surgimento de núcleos urbanos próximos às rodovias e ferrovias.
Mas o problema foi posto em evidência com crateras de centenas de metros que colocam em risco municípios no Estado e em várias partes do País, como em Lupércio, no interior paulista. Ali, uma voçoroca chegou a 300 metros de extensão, 25 de largura e 15 de profundidade, e preocupa moradores por sua proximidade à Rua Dr. Adamastor Ferreira Costa e da Avenida Santo Inácio, a principal da cidade.
Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) Claudio Ridente, enviado ao local na quarta-feira, 24, para uma vistoria, a evolução da voçoroca foi contida parcialmente por uma medida emergencial da prefeitura: o reaterro da cabeceira e a proteção na tubulação que lança as águas pluviais com uma lona resistente, o que deve ser suficiente para atenuar o impacto de chuvas moderadas sobre o buraco.
Ridente encontrou sinais de que a fenda também está aumentando lateralmente, o que não ameaça edificações, mas pode levar à perda de áreas que estavam sendo utilizadas para a agricultura.
Segundo ele, o relatório elaborado pelo IPT vai propor medidas complementares para conter o processo, incluindo o monitoramento da área para que a Defesa Civil tome providências, que podem incluir a remoção de pessoas, caso a erosão se agrave. Passada a fase emergencial, cabe ao município contratar estudos mais aprofundados sobre a área e obras para sua recuperação definitiva.
Estudo identificou 40 mil ‘buracos’ causados por erosão no Estado
Órgão vinculado à USP e ao governo do estado de São Paulo, o IPT estuda os processos erosivos locais desde 1953. Nos anos 1980, realizou o primeiro diagnóstico amplo sobre a questão, elaborando um mapa de erosão com a suscetibilidade de todas as bacias do estado ao desgaste.
O levantamento mais recente desse tipo foi realizado pelo instituto entre 2010 e 2011, e identificou 1.398 processos erosivos lineares (os “buracões” chamados de ravinas e voçorocas) em áreas urbanas e 39.864 em áreas rurais do Estado.
O instituto não dispõe de atualização desses dados. Um dos autores do estudo, o pesquisador Gerson Salviano afirma que “a erosão é muito dinâmica. Você conserta uma, e aparecem outras duas, três”, diz.
O solo arenoso, mais propenso à erosão, também ajuda a explicar essa incidência no estado.
Além da voçoroca: três impactos da erosão
A erosão acontece pela remoção da cobertura vegetal e da camada superficial do solo, principalmente em decorrência da degradação ambiental causada pela expansão não planejada das cidades e das práticas inadequadas de manejo na agricultura.
A voçoroca é um estágio avançado desse processo em que a formação erosiva já atingiu o lençol freático e por isso aumenta “sozinha”, mesmo sem a ação da chuva e do vento. Sua evolução é ainda mais acelerada em períodos chuvosos, que tendem a se intensificar com as mudanças climáticas.
“A gente se preocupa com o buraco, mas (a erosão) têm consequências ainda maiores. O solo que saiu dali foi depositado em algum lugar, em córregos, ribeirões, rios, barragens”, diz Gerson Salviano.
- Aumenta inundações
Segundo levantamento de 2011 do IPT, mais da metade dos municípios paulistas passaram a ter inundações que não ocorriam antes em função do transporte de sedimentos, que são depositados nos leitos e diminuem a profundidade dos cursos d’água, levando ao seu transbordamento.
- Cria nuvens de areia
Em um mapeamento preliminar ainda em curso, realizado pelo IPT na região de Ribeirão Preto, mais de vinte municípios apresentaram susceptibilidade à erosão eólica, que contribui para fenômenos como as nuvens de areia.
- Gera gastos com desassoreamento e obras de contenção
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, foram gastos 145,8 milhões em 2023 com a retirada de resíduos dos rios Tietê e Pinheiros. Embora as obras também compreendam a retirada de lixo e outros dejetos, grande parte da areia sedimentada nos rios decorre de processos erosivos, segundo Salviano.
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