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Zeca Pagodinho tem projeto de hortas e plantas medicinais: ‘Ensina a plantar e gerar comida’

Instituto do sambista cedeu terreno de 8 mil m² para produção de alimentos; iniciativa garante também permeabilidade do solo e espaço verde em Xerém

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Por Edison Veiga

“Só sei que se come na mesa de poucos, fartura adoidado; mas se olhar pro lado, depara com a fome”, canta o sambista Zeca Pagodinho. Criado pelo cantor há 25 anos, agora o Instituto Zeca Pagodinho (IZP) entrou de vez na luta para garantir um prato de comida na mesa de quem não tem.

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E, como não podia deixar de ser, a iniciativa ocorre em Xerém, distrito de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, que está afetivamente ligado à trajetória do músico — ele tem um sítio no local.

Pelo projeto, que beneficia inicialmente 100 famílias do município, o IZP cedeu um terreno de 8 mil m² para a instalação de uma horta comunitária, destinada à produção de alimentos e plantas medicinais.

Instituto Zeca Pagodinho tem o objetivo não só de levar alimentos básicos à população, mas também se transformar em um centro de irradiação de conhecimento sobre sustentabilidade. Foto: Guto Costa

O cronograma, em estágio de execução e com ações previstas até 2025, parte de um diagnóstico socioambiental e prevê caracterização das práticas locais de cultivo com:

  • mobilização comunitária para ganhar em escala as formações propiciadas;
  • processos educativos e formativos;
  • cursos de capacitação, orientação técnica, implantação e fortalecimento de unidades produtivas;
  • gestão coletiva das unidades produtivas;
  • formação de redes para a organização dos quintais agroecológicos.

A horta de Xerém deve se tornar um símbolo da Política Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana, sancionada em julho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Trata-se de uma ideia que compreende vários escopos: do combate à fome pela produção comunitária de alimentos básicos à melhoria da qualidade ambiental, garantindo em áreas urbanas permeabilidade do solo e espaços verdes. No meio disso tudo está a capacitação de novos agricultores, com técnicas contemporâneas, e o próprio fortalecimento dos laços comunitários.

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No lançamento, ocorrido em Duque de Caxias, em julho, Zeca Pagodinho disse que era “muito bacana poder contribuir com o alimento para as famílias”. “A gente sempre ajudou e ajuda o povo de Xerém com distribuições de cestas básicas para quem a gente sabe que precisa. Esse projeto é legal porque além de ensinar a plantar vai gerar comida na mesa de muita gente”, comentou.

O evento teve a participação do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, que afirmou desejar que iniciativas do tipo se espalhem pelo País. Para Teixeira, isto representa “uma enorme resposta, em um momento que o Brasil tem um desafio […] de tirar o povo brasileiro do mapa da fome”.

O Brasil tinha saído do chamado “mapa da fome” — relatório sobre o tema publicado sistematicamente pela Organização das Nações Unidas (ONU) — em 2014. A partir de 2019, o País voltou a frequentar o nada honroso rol dos lugares onde a fome é um problema social grave.

“Comida farta e de qualidade na mesa do povo. E nada melhor do que ter a imagem do Zeca Pagodinho estimulando a produção de alimentos, a produção de alimentos nas cidades, a chamada agricultura urbana e periurbana, um alimento de qualidade que também resulta num movimento no Brasil, de busca ativa de todos que estejam em insegurança alimentar”, ressaltou o ministro.

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Teixeira acrescentou que o sambista “empresta prestígio” à iniciativa “para que todo o País possa replicar experiências como essa”. Na ocasião, o ministério convidou Zeca Pagodinho a ser o embaixador da Agricultura Familiar e Plantas Medicinais. Ele aceitou.

Ao Estadão, o diretor-geral do IZP, Louiz Carlos da Silva, filho de Zeca Pagodinho, conta que a iniciativa é consequência do programa de sustentabilidade que já vinha sendo empreendido pelo instituto. “O objetivo é desenvolver diversos projetos socioambientais e tornar o IZP um centro de irradiação de conhecimento sobre o tema”, diz ele.

Em nota enviada à reportagem, o Ministério do Desenvolvimento Agrário ressaltou que o instituto “já tinha em sua atuação um programa de sustentabilidade, que vinha se estruturando para desenvolver diversos projetos socioambientais para tornar Xerém um centro de irradiação de conhecimentos em agroecologia, produção de alimentos saudáveis, recuperação de saberes ancestrais e organização coletiva de famílias para a superação de condições de vulnerabilidade”.

Em 2023, o IZP realizou a primeira turma de um curso chamado Cultivo em Pequenos Espaços. Para a entidade, foi o marco zero do projeto. E eles viram a oportunidade de se alinhar à pasta do governo federal, já que a ideia da agricultura urbana e periurbana passou a ser encarada como prioritária.

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“O Instituto procurou o ministério na intenção de conceder uma área de 8 mil metros quadrados para a implantação de uma horta comunitária em Xerém, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para que ali fossem desenvolvidas ações junto aos agricultores locais”, enfatiza o órgão, na nota.

De acordo com Silva, na área cedida deve ser priorizado o cultivo de “hortaliças e frutíferas nativas da Mata Atlântica”. O plano é beneficiar diretamente 100 famílias.

“Entre elas estão os alunos que vão ser capacitados pelo projeto, famílias em vulnerabilidade social que serão cadastradas para receber parte da produção das hortas, escolas públicas e creches”, enumera o diretor do IZP. “Os alunos estão sendo capacitados para desenvolverem as hortas, que vão dar origem a uma agrofloresta no terreno cedido”, conta Silva.

Para o ministério, a iniciativa “tem o objetivo de capacitar agricultores e agricultoras locais, estruturar unidades produtivas e promover a produção de alimentos, oportunizando não somente o autoconsumo para as famílias envolvidas, mas também a oportunidade de geração de renda, com comercialização da produção de hortaliças e frutíferas”.

Além do governo federal e do IZP, o projeto tem parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de uma emenda parlamentar. No total, há um orçamento de R$ 1,5 milhão para ser investido no programa.

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“Serão beneficiadas, diretamente, 100 famílias com acesso a conhecimentos para implantação ou ampliação de práticas de cultivo de alimentos e plantas medicinais, bem como orientação técnica para organização em associativismo e cooperativismo, visando acesso a mercados”, ressalta a pasta, lembrando que as famílias “poderão também ser beneficiárias dos programas voltados para agricultura familiar, como acesso ao crédito, aquisição de máquinas e equipamentos, bem como inserção da sua produção nas compras públicas”.

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