Estranho Caminho
?Que estranho caminho, pai, eu tive de trilhar para te encontrar?. Esta frase se encontra no novo filme de Guto Parente - não vou dizer se no início, meio ou fim.
Dá título ao filme e, de imediato, lembra a frase de um clássico de Robert Bresson, Pickpocket, que, por sua vez, é uma citação de Dostoievski. Mas, durante a projeção, me lembrou outra frase famosa, pelo menos parecida a esta: ?Não está vendo, pai,que eu queimo?? Essa frase foi relatada a Freud por um paciente. O homem perde o filho e, exausto, adormece durante o velório. Em seu sonho, o filho o admoesta com a frase famosa: ?Pai, não está vendo que eu queimo?? Assustado, o homem desperta e vê que, de fato, uma vela havia caído sobre o caixão do filho e ateado fogo aos tecidos que vestiam o corpo do menino. A história comovente está no clássico da psicanálise, A interpretação dos sonhos. Ilustra um bom número de aspectos do psiquismo humano, mas também evoca esse elo entre pais e filhos, que parece ir além da distância, e mesmo além dos limites entre a vida e a morte - e não é preciso ser religioso para acreditar nisso.