Guanajuato e a sua alma universitária

Tida como um dos principais centros culturais do México, a cidade é terra natal do muralista Diego Rivera

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Foto do author Luciana Dyniewicz
Burburinho jovial nas escadarias do Teatro Juárez Foto: Luciana Dyniewicz/Estadão

Universitária e tida como um dos principais centros culturais do México – em grande parte, em razão da realização anual do Festival Internacional Cervantino, que reúne diferentes tipos de arte –, Guanajuato vibra como as cores das fachadas de seu casario colonial. Suas calçadas estão repletas de mexicanos e turistas; suas ruas, carregadas de trânsito; e seus morros, tomados por vielas que se desencontram.

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Essas ruas de Guanajuato, iluminadas pelo sol quente e margeadas por casas alaranjadas, roxas e verdes, contrastam com as dezenas de túneis escuros que cortam essa cidade que já foi o maior centro de mineração de prata do mundo. Os túneis, entretanto, não têm a ver com a história de mineração: foram construídos a partir do século 19 para que a água de um rio escoasse, evitando inundações

Do passado mineiro, sobrou a mina San Ramón, já desativada, aberta a visitação – é possível adentrar cerca de 60 metros. Quase ao lado está a igreja La Valenciana, construída a partir de 1765 no alto de um dos morros da cidade (o melhor é ir de táxi). O altar do templo é decorado com ouro, recordando o tempo áureo da mineração.

No centro, prédios coloniais lembram a parte histórica da baiana Salvador e rodeiam uma diminuta praça com um chafariz e a catedral. A uma quadra da igreja, o imenso prédio da Universidade de Guanajuato se espreme entre ruas estreitas. O edifício excêntrico – apesar de ter apenas 65 anos, seus traços remetem a um castelo – estampa a nota de mil pesos mexicanos e é símbolo da cidade, com sua escadaria que recebe sessões de cinema ao ar livre durante o Festival Cervantino, em outubro.

‘Callejonear’ As tradições culturais e estudantis de Guanajuato também aparecem na forma de “callejoneadas”, passeios pelas ruas históricas acompanhados de músicos com vestes europeias medievais. O costume nasceu nos anos 1960, quando estudantes da universidade montaram um grupo para tocar música antiga espanhola, com bandolim e baixo acústico. A brincadeira se espalhou e, hoje, profissionais organizam o passeio para entreter turistas. O ponto de encontro é diante do Teatro Juárez (um dos mais impressionantes do México), ao anoitecer.

Imponente e de estilo eclético, o teatro foi construído ao longo de 31 anos no fim do século 19. Sua fachada é neoclássica, mas o interior remete ao estilo mudéjar (movimento arquitetônico espanhol com influência árabe). Preste atenção nos detalhes do lustre em formato de estrela e nos pórticos dos camarotes.

O teatro fica quase em frente a uma praça cercada de árvores, cujas copas enormes se aglutinam e quase não permitem que você veja seu interior. As praças são justamente outro ponto alto de Guanajuato. A de San Fernando, por exemplo, reúne restaurantes e cafés com mesinhas na calçada, que se destacam mais pelo ambiente agradável e pela arquitetura do que pela comida em si. Já a de Los Ángeles conta com casinhas coloridas e lances de escadas em que os locais costumam descansar.

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Beco do Beijo Próxima às duas praças fica o Callejón del Beso (Beco do Beijo, em português), a via mais estreita da cidade e um dos pontos turísticos mais visitados. A rua é, na verdade, uma escada, e as sacadas das casas que são separadas por ela praticamente se encostam. Segundo a lenda, o beco foi cenário de uma versão Romeu e Julieta local. Em uma dessas casas vivia uma família afortunada cuja filha se apaixonou por um mineiro. Proibido de ver sua amada, o jovem alugou a casa da frente e, como elas estão tão próximas, eles podiam se beijar sem saírem de suas sacadas.

Diego Rivera Guanajuato é ainda a cidade natal do muralista Diego Rivera, um dos principais artistas mexicanos do século 20. A casa onde ele nasceu foi transformada em museu e exibe alguns de seus trabalhos e esboços, além de recriar a decoração da casa da família no fim do século 19. É um bom passeio para fãs de Rivera ou para aqueles que queiram sentir ainda mais a atmosfera cultural dessa cidade de menos de 200 mil habitantes, que vibra como se fosse bem maior.

Leia mais: A Coyocán de Diego Rivera e Frida Kahlo

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Casa del Mayorazgo de La Canal Construído entre o final do século 17 e o início do século 19 em estilo barroco, o palacete que pertenceu à família La Canal é patrimônio da humanidade da Unesco. Ali já funcionou um hotel e, hoje, trata-se de um centro cultural, no centro de San Miguel de Allende. Veja a programação: casasdeculturabanamex.com/casadelacanal.

Os murais de David Siqueiros são alguns dos destaques do Instituto de Bellas Artes, em San Miguel del Allende Foto: Walker Simon/ Reuters

Museus  Em San Miguel de Allende, confira os murais de David Siqueiros no Instituto de Bellas Artes – no local, há ainda exposições de artistas locais, já que a cidade é conhecida por suas artes. Em Guanajuato, o Museu das Múmias guarda 111 múmias de moradores da cidade, que tiveram os corpos preservados por causa das características do solo da região. Mais: momiasdeguanajuato.gob.mx.

Espécie de Capela Sistina mexicana, Santuário de Atotonilco é patrimônio da Unesco Foto: Walker Simon/ Reuters

Santuário de Atotonilco Considerado como uma espécie de “Capela Sistina mexicana”, o Santuário do século 16 também é patrimônio da Unesco e fica a 14 quilômetros de San Miguel de Allende. Repare nas pinturas do teto, por Rodriguez Juárez, e os murais de Miguel Antonio Martínez de Pocasangre. As celebrações da Semana Santa se destacam.

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Perto de Cancún, Mérida mantém clima colonial

Rua decorada com sombrinhas de Mérida, cidade próxima à badalada Cancún Foto: Luciana Dyniewicz
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San Miguel de Allende e Guanajuato são apenas duas das dezenas de cidades coloniais do México. Há várias outras opções que valem conhecer espalhadas pelo país. Próxima à badalada Cancún, por exemplo, Mérida foi fundada no século 16 pelos espanhóis, em uma região que havia sido dominada pela civilização maia. Mérida enriqueceu no fim do século 19 graças à exploração do agave, planta usada na fabricação de cordas e tapetes.Durante o rico período do “ouro verde”, foi criado o Paseo de Montejo, uma rua que corta a cidade, construída para ser uma espécie de Champs-Elysées local. Os casarões, inspirados na arquitetura europeia, resistiram ao tempo e hoje abrigam desde Starbucks a estabelecimentos mais sofisticados, como a Casa T’ho, um espaço compartilhado por marcas de moda local e restaurantes.

Aos domingos, o Paseo de Montejo é fechado ao trânsito e moradores e turistas tomam a via, num clima bastante interiorano. Na praça central, a Casa de Montejo é outro exemplo do período áureo da cidade. A 10 quilômetros dali, no fim da Calle 60, fica o Grande Museu do Mundo Maia, que em sua exibição de 1.100 peças revela uma faceta completamente diferente dessa região em seu edifício contemporâneo.

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