No ano passado, o corpo da turista americana Sarai Sierra, de 33 anos, foi encontrado em Istambul depois de ser morta por um homem que tentou beijá-la e foi rejeitado. Era a primeira vez que ela viajava para fora do país e estava sozinha, para praticar fotografia. E ela não fez nada de errado. Não estava andando em um lugar perigoso, se colocando em uma situação de risco. Mas mesmo assim, o pior aconteceu.
O caso de Sarai Sierra mostra que, além de corrermos todos os riscos que uma viagem implica, as mulheres estão sujeitas à questões ainda mais complexas. Em muitos países, e às vezes até no Brasil, a sociedade se comporta de forma patriarcal e machista, como se a mulher fosse propriedade do homem. E nesse caso, é comum pensar que a culpa é da mulher por estar viajando sozinha, ou que provavelmente estava flertando para o ataque acontecer. Ou ainda que o homem tem o direito de fazer o que quiser com ela. Além disso, existe um mapa mundi diferente, no qual temos que nos preocupar com o comprimento da saia ou se podemos usar shorts em alguns países.
É difícil encontrar estatísticas sobre mulheres que sofrem algum tipo de ataque enquanto viajam sozinhas, mas o Serviço Britânico para Estrangeiros, por exemplo, possui alguns números que mostram que as queixas nos consulados sobre agressão sexual de mulheres aumentaram em até 12%. Mas isso não quer dizer muita coisa. Afinal estamos cada vez viajando mais! As mulheres são a maioria (55%) dos viajantes solitários que se hospedam em albergues, de acordo com a Federação Brasileira de Albergues da Juventude.
Confesso que quando me planejo para uma viagem sozinha não penso muito em medos e riscos. Eu compro a passagem, arrumo a mala e vou embora. Sempre tive mais medo de me sentir solitária do que de fato que algo ruim acontecesse comigo. Nunca me aconteceu nada, mas quando vejo histórias terríveis de algumas mulheres, fico pensando em como podemos minimizar os riscos em uma viagem desse tipo.
Existem algumas maneiras práticas como, por exemplo, fazer uma boa pesquisa sobre o lugar para onde vai viajar, escolher a hospedagem em uma localização segura e não ficar sozinha em locais vazios. Mas o mais importante acredito que seja seguir os seus instintos. Não faça nada que o seu bom senso não ache seguro. Mesmo tendo coragem para fazer uma viagem assim, não tem jeito, sempre que chego no lugar me pego pensando o que estou fazendo lá sozinha. E isso é ótimo! Significa que meus instintos estão ligados. E o medo é uma excelente forma de proteção. Então, por exemplo, se os europeus andam pelas ruas de madrugada numa boa mas você não se sente confortável em fazer isso, não faça. Vá de táxi. Mesmo porque viajar é relaxar, e você não vai curtir o passeio se tiver que ficar olhando para os lados com medo.
Acho que você deve ter percebido que a maneira de se comportar quando viaja sozinha não é muito diferente do que você já faz no Brasil. Infelizmente vivemos num país onde andamos com medo e temos que nos proteger a todo momento. Mas podemos tirar vantagem dessa "escola" e levar na mala o que aprendemos no dia a dia sobre proteção. Eu ainda sigo com o pensamento de que coisas terríveis podem acontecer comigo enquanto viajo, mas coisas terríveis podem acontecer comigo nas ruas de São Paulo. Já o inverso nem sempre é verdadeiro. Há surpresas e experiências incríveis que só numa viagem sozinha.
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