Foi só o último ataque na França acontecer, somado ao recente ataque no aeroporto de Istambul e alguns ataques (não-terroristas) na Alemanha, que pipocaram algumas perguntas no meu e-mail sobre cancelar uma viagem para a Europa. Eu não cancelo e te conto o porquê.
Na semana passada, num papo via Skype com uma amiga que mora há anos em Paris, aproveitei para perguntar como ela se sentia após o ataque terrorista de Nice somado a dois outros ataques recentes ao país (Charlie Hebdo e Bataclan em 2015). Dentre muitos comentários feitos por ela, achei este o mais interessante: "Agora nós sabemos que não estamos seguros em quase nenhum lugar do mundo. No Brasil vivemos uma ameaça de violência civil, na França vivemos ameaças de ataque terrorista".
Um ótimo comentário para lembrar que cada lugar no mundo vive problemas e ameaças diferentes. Mas irrelevante para quem está apenas viajando para a Europa. No entanto, tem gente que continua usando esse tipo de argumento para colocar sua viagem em questão.
Andrew Shaver, que trabalhou como analista do Pentágono e relações internacionais dos EUA, disse algo interessante num artigo publicado no Washington Post logo após o ataque do Bataclan em Paris no ano passado: "O terrorismo está fazendo o que o próprio nome diz: despertando medo. Mas uma análise objetiva dos fatos mostram que o terrorismo é um perigo insignificante à maioria das pessoas no Ocidente. Você, sua família e seus amigos correm mais riscos em outras situações do que com o terrorismo. Por exemplo, enquanto o ataque de Paris deixou 130 mortos, um número três vezes maior de franceses morreu no mesmo dia de câncer". E assim ele lista uma série de outros riscos maiores do que o terrorismo para países do Ocidente. Os americanos, por exemplo, que passaram pelo onze de setembro e continuam sendo ameaçados de outros ataques estão mais suscetíveis a morrerem num acidente doméstico envolvendo um móvel da casa do que de ataque terrorista.
Então qual é a chance de você viajar para a Europa e morrer num ataque terrorista?
Não tenho este número, mas provavelmente é insignificante e incomparável à chance de você morrer assassinado aqui no Brasil - já que um brasileiro é assassinado a cada nove minutos segundo o Atlas da Violência de 2016, sendo o 11º país em taxa de homicídio do mundo.
Mas você não é o único com medo dos ataques. O número de visitantes internacionais na França, o país mais visitado do mundo, caiu 11% nos últimos cinco meses segundo a ForwardKeys, uma empresa de inteligência em viagens.
Na Turquia, o sexto país mais visitado do mundo, as reservas de viagens para Istambul vem caindo a cada semana desde o início do ano. Após o ataque terrorista no aeroporto, os turistas diminuíram em 69% (eu, pessoalmente, manteria a minha viagem em alerta mais pela situação política do que pelo ataque terrorista em si).
Muitos veículos de noticia, as redes sociais e a sua mãe vão continuar insinuando de que é o mundo é perigoso. O site da CNN, por exemplo, de onde tirei esses dois dados acima, começou o artigo de forma sensacionalista (acho, na verdade, que o jornalista não sabia como começar e começou da pior forma possível) com a frase: "O mundo é um lugar assustador". Mas não é. Há inúmeros estudos (este é um deles) comprovando que o mundo, em geral, nunca foi tão seguro como é hoje. O que mudou é que hoje você tem maior acesso a informações e, como se não bastasse, elas vêm acompanhadas de opiniões, redes sociais e sensacionalismo onde as coisas tomam uma proporção maior.
Portanto, se é a taxa de homicídios no Brasil que segue quebrando recordes e as chances de você morrer num ataque terrorista ainda são mínimas, não faz sentido você cancelar a sua viagem para a Europa, faz?
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