O Qatar chamou a atenção de todo o mundo ocidental quando deixou claro, meses antes de sediar a Copa do Mundo, que existem regrinhas de vestimenta no país sim. Tanto para turistas quanto para residentes.
Para mulheres, a regra é cobrir ombros e joelhos e ficar de olho no decote e, para os homens, cobrir os joelhos. Os qataris gostam de chamar isso de "se vestir de forma modesta".
Apesar da regra, a fiscalização não é tão acirrada assim. Talvez na entrada de algum restaurante, museu ou outro estabelecimento, o segurança local peça que você se cubra caso não esteja de acordo. Mas ninguém vai preso nem nada por conta dessas regras.
De qualquer maneira, quem viaja pelo país acaba se impressionando com a maneira de se vestir das mulheres qataris, que vão além das regras modestas para uma mais conservadora. Elas costumam estar vestidas com abbayas pretas, uma espécie de túnica até o pé, e o hijab na cabeça, que é o famoso véu cobrindo os cabelos.
Se engana quem pensa que são obrigadas. A obrigação de usar o véu hoje só ocorre em dois países do mundo: Afeganistão e Irã.
É difícil para o mundo ocidental entender a
, principalmente num país onde as temperaturas no verão podem ultrapassar os 45 graus.
Na minha passagem pelo Qatar, conversei com duas mulheres de perspectivas diferentes sobre a forma de se vestir.
Shaikka, de 22 anos, nasceu no país, é jornalista e explica o significado da sua escolha: "Eu não vejo o hijab como algo que é forçado a mim. Minha família sempre usou, então quando eu era adolescente, eu mesma cheguei dizendo à minha mãe que também gostaria de usar. Foi uma escolha pessoal. Mas, agora, como adulta, eu a encaro como uma escolha religiosa. Eu louvo a Deus quando escolho usar o hijab".

Religião é uma perspectiva. Mas para quem se habitua com o uso das roupas modestas, o significado pode variar e até ganhar novas interpretações.
É o caso de Nada Zeidan, de 46 anos, muçulmana mas com escolhas mais flexíveis: "Eu não sou contra o hijab. Sou uma pessoa de fé, mas ainda não tive vontade de usar. Eu prefiro usar a abbaya e me sinto mais sexy e elegante quando visto ela. Já percebi que chamo até mais atenção ao usá-la do que vestindo uma calça".
Se a sua cabeça entrou em parafuso e ficou difícil de entender como tudo funciona, eu acho que tá tudo bem. Do lado de cá só nos resta aceitar e respeitar um lado do mundo que pensa diferente.
Amanda Noventa é comunicadora e viajou ao Qatar a convite da Turkish Airlines que têm voos diários para o país com conexão em Istambul.