ANGRA DOS REIS - No caminho a Angra dos Reis, um roteiro de novela digna de Manoel Carlos dominava meu imaginário. O protagonista é um saudoso turista habitué da Costa Verde que, desavisado do decorrer dos anos, havia decidido seguir num Ford Landau pela Rio-Santos até o luxuoso Hotel do Frade. Estava, quem sabe, em busca de torneio de biriba? Ou de um passeio por Ilha Grande a bordo de um saveiro? Ou querendo desfrutar dos pratos franceses do Chez Dominique?
Corte na cena, volta à realidade. Depois de quase cinco horas de viagem, esta repórter se via diante do cenário imaginado a partir de fotos daqueles anos 70, quando o Hotel do Frade, localizado na Praia do Frade, em Angra, se transformava em sonho de consumo dos brasileiros. O ano, porém, já era este 2018. Apesar de a praia ser a mesma, tudo ali mudou, inclusive o hotel. Agora o refúgio luxuoso da Costa Verde atende pelo nome de Hotel Fasano Angra dos Reis.
Construído – sim, tudo foi demolido e refeito – no mesmo local onde funcionou o Hotel do Frade por 40 anos e inaugurado em 28 de dezembro de 2017 – novíssimo, portanto –, o primeiro resort da marca Fasano mistura nostalgia e os novos tempos.
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Novidades e diferenças.
A nostalgia faz parte da experiência de visitar o novo Fasano, em Angra. A gerente geral Gabrielle Espíndola conta que hóspedes de agora perguntam sobre ícones do passado, como o bistrô francês Chez Dominique – ainda em funcionamento.
Mas a saudade desse glamour do passado logo cede espaço ao impacto das novidades. O projeto assinado pelo escritório de arquitetura Bernardes & Jacobsen (hoje, são duas firmas independentes) resultou em 60 apartamentos, divididos em quatro categorias: os mais compactos têm 42 metros quadrados, os maiores, 106 metros quadrados. Todos têm varandas com vista para o campo ou para o mar – difícil escolha de vida, não?
Cuidado com a cama: ela é um abrigo tão bom que você corre o risco de perder a hora do café da manhã, como esta repórter.
A decoração prioriza cores claras e tons amadeirados nas poltronas, tapetes e objetos feitos com materiais nacionais e por criadores brasileiros, seguindo conceito que, segundo Gabrielle, orienta todo o hotel: “respeito à regionalidade”. Já na recepção encontram-se peças do design moderno de Jorge Zalszupin e do contemporâneo de Hugo França. Curiosa, fiz questão de me esparramar numa poltrona amarela em formato similar ao de uma rampa, de Sérgio Bernardes.
A regionalidade está também na cozinha chefiada por Pedro Franco, o “cozinheiro”, como ele mesmo diz, que assume toda a parte gastronômica da unidade de Angra depois de anos trabalhando no Fasano de São Paulo. “Eu tiro da água o ingrediente, corto e sirvo”, brinca Franco sobre seu trabalho, baseado em criar pratos originais com ingredientes da região – e que meu paladar classificou como excepcional.
São dois restaurantes, Crudo e Praia, ambos abertos a não hóspedes e, em breve, uma padaria Fasano no boulevard do condomínio. Dica: escape da tentação de pedir uma massa; vá de peixe ao sal no primeiro restaurante e de moqueca no segundo.
O que fazer.
As antigas piscinas redondas deram lugar às novas, retangulares, com borda infinita e aquecidas. Os passeios de barco deixaram de ser em saveiros, mas continuam sendo o ponto alto da viagem. O hotel os agenda com empresas como a
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O campo de golfe da época do Frade continua lá, assim como os caminhos para as cachoeiras. São três: a Palmital, a da Corda e uma sem nome, a respeito da qual o simpático Caetano Karasiaki, funcionário da recepção, disse: “é a mais top”. Podemos chamá-la de Cachoeira Top. Dá para ir caminhando desde o hotel ou contar com o auxílio dos carrinhos do Fasano (R$ 400).
O spa oferece dez tratamentos corporais, estéticos e banhos partindo dos R$ 300. A flutuação – técnica que faz o corpo flutuar sem esforço graças à adição de sal na água – promete ser cobiçada. Mas a massagem relaxante já me fez muitíssimo feliz.
A diária para dois, com café da manhã, custa entre R$ 1.860 e R$ 5.460. Mais:
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De família.
Foi em 1971, quando a família Borges decidiu fazer do espaço de sua fazenda uma hospedagem, que Angra dos Reis começou a mudar de status. Com 32 apartamentos e quatro chalés, abriram o Hotel do Frade numa área linda, mas ainda sem energia elétrica e sem a BR-101 para facilitar o acesso. Já na década seguinte, o Frade era o queridinho de muitos turistas e começava a ser cenário de filme e de telenovelas (entre elas
Mulheres de Areia
e
Celebridade
).
Por causa da competição com os resorts do Nordeste e os custos altos de manutenção, os Borges venderam o empreendimento. O Fasano, então, se associou ao fundo imobiliário Polo Capital, novo dono do terreno, para operar seu hotel pé na areia. “Não queríamos criar um destino, mas somar a um consagrado”, diz a gerente geral Gabrielle Espíndola. Para o verão de 2019, o Fasano prepara a abertura de um resort em Trancoso.
DA CRIAÇÃO À MESA: CONHECENDO VIEIRAS
Uma das paradas do passeio de barco foi a Praia de Jaconema, em Ilha Grande, onde fica a Nautilus, fazenda de vieiras e peixes bijupirá. Lá, a aquicultora Patrícia Merlin ensina como funciona a produção das espécies e suas características principais - você descobre, por exemplo, que tem peixe que toma banho. Depois, vale muito sentar-se no restaurante do local para degustar vieiras grelhadas (R$ 115) e outros pratos deliciosos (24-99858-2304; para passeio na fazenda marinha é preciso agendar).
*A repórter viajou a convite do Fasano Angra dos Reis.
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