Basta sair do Brasil para relaxar. O celular pode ficar no bolso, a bolsa pode ficar mais solta e a atenção pode sair dos pertences para se concentrar nas atrações turísticas. Quer dizer, poder, não pode. Mas temos a falsa impressão que estamos livres dos males cotidianos assim que desembarcamos em outros países. Não é bem assim.
Furtos e roubos (como os que viraram notícia em Orlando no mês passado) não são o único tipo de problema que transforma as tão sonhadas férias em pesadelo. Na realidade, do planejamento à volta para casa, há uma série de variáveis que podem dar errado – e não se trata de pessimismo, de atrair o azar (toc, toc na madeira) ou de excesso de zelo. Prevenir é melhor que remediar, já diria o ditado favorito das vovós, e tomar alguns cuidados simples – que listamos nesta edição – faz a diferença.
Antes da compra. É preciso ficar atento já na compra do pacote, hotel ou aéreo. Você viu uma promoção irresistível na internet e fechou o negócio por impulso, com medo de a oferta acabar. Algo arriscado, de acordo com a assessora técnica do Procon, Leila Cordeiro. Segundo ela, é importante ler atentamente as regras das promoções e pesquisar antes sobre a empresa em questão, tanto nas redes sociais como no site do órgão de defesa do consumidor (procon.sp.gov.br) – o Reclame Aqui (reclameaqui.com.br) é outro bom termômetro da idoneidade da companhia.
“Verifique se a empresa tem reclamações, se elas foram ou não resolvidas”, indica. “Hoje os meios sociais são um canal a mais para o consumidor. As empresas também estão de olho nisso.” Como atualmente muitas das reservas são feitas pela internet, Leila aconselha a testar os canais de comunicação antes de concluir a compra. “Veja se há um endereço físico, pergunte algo por e-mail ou telefone.”
Guardar todo o material publicitário também é importante caso o pacote oferecido não corresponda ao encontrado pelo cliente. “Se a promessa não for cumprida, o consumidor está resguardado com a documentação.”
Mas a regra é válida só para empresas brasileiras, que precisam cumprir o Código de Defesa do Consumidor. Quem reserva um hotel no exterior sem a intermediação de uma agência está sujeito às regras do país em questão. Já as companhias aéreas que operam no Brasil, mesmo estrangeiras, devem seguir as normas brasileiras, ainda que o problema ocorra fora do território nacional.
É proibido cochilar. Se antes da viagem a empolgação pode atrapalhar seu julgamento, durante, o excesso de boa-fé e o cansaço trabalham juntos em prol das decisões erradas. “Li no Lonely Planet Marrocos que era conveniente levar uma corrente com cadeado para amarrar a mala no trem”, conta a professora universitária Maria Lucia Cardoso de Almeida, de 59 anos, que visitou o país em 2008. “Ri bastante, imaginando que fosse coisa de paranoico.” Mas bastou ela adormecer para a mochila ser roubada. “Me disseram se tratar de um golpe clássico e percebi que a tal corrente teria sido uma boa ideia.”
Maria Lucia tinha um seguro-viagem, que foi acionado e ajudou a minimizar a dor de cabeça da perda da bagagem. Munir-se de informações – de guias, agentes, amigos e locais – é fundamental para não cair em ciladas.
Muitas vezes, contudo, seu feeling vai dizer para não seguir nenhum desses conselhos. Certa vez, um amigo e eu saíamos do Forte Vermelho, em Nova Délhi, quando um senhor nos abordou, oferecendo um tour a pé por Old Délhi, ali pertinho. Aceitar esse tipo de oferta não é recomendado, mas negociamos o preço e topamos. Passamos uma hora ouvindo histórias e percorrendo ruas estreitas onde os indianos compram flores, tecidos, doces e bugigangas. Ao final, ele se despediu com um sorriso e agradeceu a confiança. “Os golpistas atrapalham quem quer trabalhar.”
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.