O Parque Nacional da Serra do Cipó, com seus 33.800 hectares, já tem seu lugar no livro dos recordes da natureza: abriga o maior número de plantas por metro quadrado do mundo. A maioria das espécies floresce de janeiro a agosto, numa profusão de cores e aromas. Considerada um dos conjuntos naturais mais exuberantes do planeta, a reserva ambiental - que fica a mais de uma hora de Belo Horizonte (MG) - é cortada pelo Rio Cipó e seus afluentes. Abrange os municípios de Jaboticatubas, Itambé do Mato Dentro, Santana do Riacho (onde fica a portaria), Morro do Pilar e Nova União. O relevo acidentado recolhe as águas e forma com elas numerosas corredeiras, quedas, cascatas e poços, ideais para o banho. Ao redor do parque, na Área de Proteção Ambiental, também existem várias cachoeiras e paredões apropriados para o rapel. Apesar de situarem-se em propriedades particulares, eles estão abertos à visitação. É o caso do Morro da Pedreira, onde é feito o treinamento para rapel e canyoning. Vale a pena fazer a trilha principal do parque. Ela começa na portaria e percorre o Capão dos Palmitos, em meio ao cerrado, passando pela Cachoeira do Palmital, numa caminhada de quatro quilômetros. Mais 8 km e chega-se à Cachoeira da Farofa, com 270 metros de desnível em três quedas. Se o fôlego agüentar, vale a pena ir em frente até o Cânion das Bandeirinhas, um desfiladeiro com 80 metros de altura, cortado pelo Rio Mascates. A trilha é tranqüila e tem 4 km. Toda a andança é feita em meio aos campos floridos, com margaridas, bromélias, orquídeas e sempre-vivas. Elas brotam como desenhos alucinantes bordados num tapete gigantesco, que tem como fundo um capinzal cor de laranja. Para aguçar ainda mais os sentidos, no meio da trilha surge a Lagoa Comprida, cheia de peixes, onde o banho é proibido. Mas é grande o ranking de cachoeiras encontradas no parque e no seu entorno. As mais conhecidas são Grande, Véu de Noiva e Congonhas (boas para canyoning), Confins, Tomé, Juquinha, Gavião, Braúnas, Riachinho, Travessão e Capivara. Ainda para quem gosta de água, uma boa opção é a canoagem no Rio Cipó ou na Lagoa Dourada. Na portaria do parque, é possível alugar cavalos ou bicicleta para fazer as trilhas. Todo esse trecho montanhoso já foi fundo de um oceano primitivo, na era pré-cambriana (há 1,7 bilhões de anos). Isso explica as condições geológicas particulares que deram lugar às maravilhas locais, com predominância de quartzo, formado pelas areias no leito do antigo mar. Verdadeiros obeliscos esculpidos na pedra, apontando para o céu, tornaram-se marcas registradas do Cipó. São as rochas de dobramento. As formas geológicas peculiares e a abundância de cristais atraem esotéricos e místicos, que consideram esse solo sagrado e aeroporto de discos voadores. A sensação, misticismos à parte, é de estar numa pintura do francês Monet. Os rios, ribeirões e riachos mantêm um volume constante de água durante todo o ano, garantindo o equilíbrio do ecossistema e sua diversidade biológica. Para apimentar ainda mais a imaginação, inúmeras inscrições rupestres datadas de milhares de anos podem ser vistas em grutas e cavernas. Os marcos arqueológicos atraíram estudiosos como o dinamarquês Peter Wilhelm Lund, que viveu por lá durante 50 anos e está enterrado em Lagoa Santa, cidade próxima. No século 19, Lund descobriu, dentro das cavernas, esqueletos de animais pré-históricos. Mas uma ameaça paira sobre toda essa maravilha: a coleta predatória de plantas. A fiscalização não dá conta dos abusos cometidos pelos piratas da flora, que arrancam bromélias, orquídeas e outras flores raras para vender às margens da rodovia. "Além de investir na fiscalização, é preciso conscientizar o povo para não comprar plantas coletadas clandestinamente", alerta a bióloga Miriam Pimentel, do Jardim Botânico de Belo Horizonte. Como muitas espécies são endêmicas (ou seja, só encontradas ali), qualquer desequilíbrio pode acarretar o fim de uma planta rara. Razão mais do que suficiente para conhecer e ajudar a cuidar dessa serra, que o paisagista Burle Marx batizou tão apropriadamente de "o jardim do Brasil".