100 anos de Bauhaus: um roteiro pela poesia visual alemã

Na Alemanha, percorrer as cidades-chave da escola arquitetônica é uma aula de arte e história. Veja por quê

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Prédio da escola de arquitetura de Bauhaus em Dessau, na Alemanha Foto: Mônica Nobrega/Estadão

Quando no comecinho da tarde o sol apareceu em Dessau, depois de uma manhã inteira nublada, decidi voltar ao letreiro. A ideia era aproveitar o céu azul intenso como contraste para fazer fotos melhores do ícone: as letras que formam a palavra Bauhaus na vertical, na face sul do prédio, uma das imagens mais marcantes da arquitetura do século 20. 

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Tive uma surpresa. Pelo ângulo, o sol não só destacava as letras, mas as duplicava, imprimindo a sombra delas na parede. Um momento de encantamento. O mais simbólico dos muitos que se sucederam em quatro dias de uma intensa viagem pelo centro da Alemanha, em busca do legado da escola de artes e arquitetura Bauhaus. 

Por causa da Bauhaus, que completa 100 anos de sua fundação, este 2019 é um ano festivo na Alemanha. Projeto intelectual com papel decisivo no modo de pensar o urbanismo, o design e as artes no Ocidente pós-guerras, a escola nasceu, floresceu e agonizou em apenas 14 anos, de 1919 a 1933. Durante a sua existência original, foi perseguida pelo nazismo em ascensão, que considerava a escola e seus professores perigosos propagadores de ideias abertas e democráticas, por desafiar dogmas conservadores e posturas políticas autoritárias. 

A sede da escola mudou de cidade duas vezes – começou em Weimar, foi para Dessau e terminou em Berlim, onde funcionou por 10 meses. Seu legado pode ser visto também em outros pontos do país, como Celle, onde ocorre um resgate do arquiteto Otto Haesler, que ajuda a iluminar os fundamentos da Bauhaus. Entre eles o incontornável “a forma segue a função”, espécie de certidão de nascimento dos conjuntos habitacionais para a classe trabalhadora que se espalharam pela Alemanha industrial do século 20 e que, com seus acertos e erros, estão entre os principais produtos da Bauhaus. 

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O criador, primeiro diretor e principal expoente da escola, Walter Gropius, além de Ludwig Mies van der Rohe, Wassily Kandinsky, Paul Klee e Henry van de Velde são nomes que aparecem em destaque de formas variadas nos edifícios e espaços artísticos deste roteiro. As celebrações se estendem por todo o ano e incluem as inaugurações de dois museus: o Museu Bauhaus de Weimar está aberto desde abril, e o de Dessau estreia em setembro. 

Tour pela Universidade Bauhaus em Weimar Foto: Mônica Nobrega/Estadão

Em Berlim, está fechado para a construção de um novo prédio o Arquivo Bauhaus, que guarda a maior coleção relacionada à história da escola. Com reabertura prometida para 2022, a programação festiva da capital alemã conta com tours e mostras de itens selecionados do acervo em outras galerias e espaços. 

Como organizar o roteiro

Reaberta nos anos 1990, a atual Universidade Bauhaus é um enclave criativo e diverso, uma escola de excelência. Pública, não cobra mensalidades, tem câmpus em Weimar e Dessau, com cursos de arquitetura e urbanismo, artes e design, engenharia civil e meios multimídia, e é uma das escolas mais internacionais da Alemanha. Tem alunos de mais de 70 nacionalidades entre os mais de 4 mil matriculados. Há tours guiados por eles, pelos estudantes, que oferecem explicações orgulhosas e bem informadas. 

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Este roteiro segue a linha do tempo da Bauhaus. Cobre uma distância aproximada de 640 quilômetros pelo centro da Alemanha e 21 atrações ligadas à Bauhaus em quatro cidades. Um projeto de roteiro turístico denso, intenso – e que você não precisa seguir na íntegra. 

As cidades aqui listadas têm também atrações não diretamente relacionadas ao tema arquitetura, e uma notável concentração de patrimônios da Unesco. Além disso, são facilmente acessíveis a partir de Hamburgo, Hannover, Leipzig e Berlim. Dá para fazer bate-voltas inseridos em roteiros variados, de acordo com seus interesses. Afinal, segundo a própria Bauhaus, a forma segue a função.  Sem esquecer que tudo começou como uma escola de artes, com a ambição de unir as criações dos artistas às habilidades dos artesãos.

Assim, mesmo com todo o minimalismo utilitário, a estética sempre foi um tema caro à Bauhaus. Algo que fica evidente na poesia visual criada pelo letreiro na parede ensolarada, que parece flutuar – e convidar as percepções do viajante a fazerem o mesmo. Para conferir o roteiro completo, clique aqui.

Coordenadas

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Como ir

Voe a Frankfurt (direto com Lufthansa e Latam), a Berlim ou Hamburgo, conforme o ponto de partida do roteiro. 

Sites úteis

bauhaus100.de, página das comemorações dos 100 anos da Bauhaus, com programação e sugestões de visitas; celle-tourismus.de, atrações de Celle; weimar.de (há uma seção só para tours guiados); bauhaus-dessau.de, história, programação, tours e informações turísticas práticas da Bauhaus em Dessau; bauhaus.de/en, site do Arquivo Bauhaus, com informações e tours em Berlim. 

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A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DO CENTRO DE TURISMO ALEMÃO

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