Trancoso tem uma tradição natural de acolher, de envolver. Em 1586 chegaram os portugueses, seguidos pelos hippies nos anos 1970 e o hype, já no século 21. O mesmo ocorreu com a gastronomia. Base da culinária baiana, peixes, frutos do mar e dendê ganharam, com o tempo, a companhia de ingredientes refinados e saberes internacionais. A 76 quilômetros ao sul do aeroporto de Porto Seguro, o distrito amplia a oferta de opções a cada temporada, mas mantém casas e pratos queridos do visitantes. Há sempre algo gostoso por descobrir.
É inegável em Trancoso uma tradição de bem comer e isso se deve, sem dúvidas, à fatura de ingredientes e ao seu bom uso por alguns restaurantes precursores. Um exemplo é o Capim Santo (capimsanto.com.br), aberto pela arquiteta paulista Sandra Marques em 1985 e que desde 1998 tem filial em São Paulo, comandado por sua filha, a respeitada chef Morena Leite. "Trancoso é uma esquinazinha do mundo, com deliciosas opções gastronômicas, restaurantes estilosos e aconchegantes", conta Morena.
Mesmo respeitando os clássicos, Trancoso está sempre se reinventando nos sabores. Entre as criações mais sofisticadas estão os pratos do Uxua Restaurante (uxua.com). Em pleno Quadrado, a praça mais histórica e emblemática da região, a jovem chef Juliana Pedrosa propõe um menu bem formulado, lançando mão de elaboradas técnicas e produtos locais. Com passagem pelo Manioca, em São Paulo, da chef Helena Rizzo, a talentosa cozinheira surpreende com receitas como o polvo grelhado com arroz vermelho cremoso com páprica defumada e pimenta biquinho (R$ 94).
A sazonalidade de ingredientes e o conhecimento de colegas convidados são a base dos menus temáticos para o jantar de toda quarta-feira, no evento batizado de Quarta no Quadrado. "A cena gastronômica está mudando, deixando de lado a competição para agregar na troca de experiências entre cozinheiros", explica Juliana, que já desenvolveu menus inspirados no mar, em produtores locais e em matérias-primas exclusivamente brasileiras.
Evento gastronômico
Por sinal, essa proximidade com os produtores locais do Sul da Bahia, a preocupação com o frescor dos ingredientes e o uso de produtos livres de agrotóxicos são os pilares da primeira edição do Organic Food Festival. Morena Leite e Juliana Pedrosa, além da festejada chef carioca Roberta Sudbrack, estão entre os cozinheiros convidados do evento, que ocorre entre 27 e 30 de setembro. Almoços e jantares com menus de coautoria, workshops, aulas de culinária para crianças e visita guiada a um produtor orgânico estão na programação. Mais informações pelo e-mail info@uxua.com.
Para além dos pratos mais sofisticados, alguns clássicos se perpetuam. Vai do gosto de cada um eleger qual a melhor moqueca de peixe, mas a da Silvana & Cia (R$ 150; silvanaecia.com.br) costuma estar entre as favoritas. As pizzas do Empório Maritaca (desde R$ 80; 73-3668-1702) são uma quase unanimidade na cidade. Outro consenso é a habilidade do sushi man Anderson Otani, do Aki Sushi Bar (combinados a partir de R$ 85; 73-99116-5926), em escolher e preparar ótimos sashimis com os peixes mais frescos.
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Outras opções podem soar mais singelas, mas combinam muito com o clima quente e praieiro de Trancoso. Os beirutes vegetarianos do Lá no Dom (73-3668-1924) são ótimos e fartos – e a pastinha de berinjela defumada merece o título de patrimônio local. Já os hambúrgueres do São João Batista são outra instituição informal dos moradores e frequentadores da cidade. O mesmo título pode ser atribuído à Tapioca da Elma (R$ 15), bem na entrada do Quadrado, com textura tenra e sabores para além dos convencionais. Logo adiante, a loja Can-Can abriga a Tao Chá (19-99639-7744), casa de chás aberta em julho e que convida a viajar por vários blends da bebida – o cafezinho orgânico também é uma boa pedida.
Mais distantes do epicentro do Quadrado, três destaques, um novo e dois consolidados. A novidade é o Balaio Hostel e Bistrô (73-3668-1724), albergue com ares jovens e um ótimo bar, reduto de moradores descolados de Trancoso. Da cozinha, a chef Narjara Pianis manda às mesas pratos com nomes criativos e afetivos, como o acalanto – escondidinho de inhame com shitake, tomates assados, espinafre e provolone gratinado (R$ 25). O atendimento espirituoso e a culinária despojada prometem se consolidar no segundo verão da casa.
Encravado na entrada da cidade pela Rua Principal, o Sabor do Mundo (73-9104-9473) pode até assustar com seus mais de 80 pratos. Porém, as opções só justificam as inúmeras referências de seu chef e proprietário, o holandês Bartholomeu Pinners.
Durante vários anos, Pinners rodou o mundo e mescla Ásia com Bahia em vários pratos. O peixe enrolado na massa de cerveja acompanha arroz, feijão, farofa de banana, vinagrete e fritas (R$ 40, para duas pessoas) e impressiona o paladar.
Por sua vez já muito firmada no radar gastronômico da região, o Restaurante da Silvinha é uma experiência completa. Não apenas pelos sabores, com referências e toques de vários cantos do mundo, mas pela localização. Encravada à beira-mar na Praia do Espelho, a 24 quilômetros de Trancoso, a casa tem duas mesas apenas e só funciona com reservas (73-9985-4157). Usa ingredientes fresquíssimos em pratos inventados naquele mesmo dia. Ah, claro, almofadas e espreguiçadeiras para esperar a comida e/ou relaxar depois. Uma síntese da experiência de comer e viver por essas bandas.
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