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Turismo ganha contornos domésticos

Imagem negativa do Brasil na condução da pandemia vai dificultar volta dos visitantes estrangeiros aos cartões-postais nacionais

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Por Redação
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Os desdobramentos da pandemia na indústria do turismo continuam sendo os maiores da história. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o impacto econômico do setor — responsável por um em cada 10 postos de emprego no mundo — encolheu cerca de 80% no ano passado. E os prognósticos preveem uma lenta recuperação até 2024.

Após o baque, o setor assumiu as perdas e tenta agora olhar para o futuro. No cenário brasileiro, de acordo com a FecomercioSP, há um entendimento geral dos empresários do turismo nacional de que a recuperação só começará quando houver uma vacinação em massa da população – o que ainda pode levar bastante tempo. “Em cada lugar do mundo, o turismo vai voltar em um ritmo diferente; e, por conta da ausência de uma gestão organizada da pandemia no Brasil, é possível que figuremos entre os últimos países a de fato recuperar o ritmo do turismo nacional e internacional”, alerta Mariana Aldrigui, pesquisadora na EACH/USP e presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP.

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O turismo doméstico no Brasil registrou queda de quase um terço (30,2%) do faturamento em janeiro de 2021, em comparação com o mesmo mês do ano passado — um prejuízo de R$ 4,5 bilhões segundo o Conselho de Turismo da FecomercioSP. No geral, o turismo brasileiro perdeu R$ 55,6 bilhões em faturamento e 110 mil postos de trabalho em 2020, em comparação ao ano anterior. A retração mais expressiva aconteceu na aviação civil que, sozinha, já perdeu R$ 2,5 bilhões em meio à pandemia.

Uma das demandas do setor, para tentar amenizar um pouco os prejuízos, é a aprovação do Projeto de Lei (PL) 5.638/2020 no Senado. A lei, uma vez aprovada, poderá dar sustentação a um tripé (liquidez, manutenção dos empregos e crédito) para impedir o colapso do setor. O projeto estabelece também a prorrogação da Lei 14.046/2020 que, entre outros pontos, dispensa a necessidade de reembolso imediato ao consumidor de eventos ou viagens cancelados e estabelece regras menos rígidas para remarcações e cancelamentos.

Perto da casa

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Um dos caminhos que possibilitaram um pequeno alívio para o setor, apesar de os casos de contaminação e de as mortes estarem em alta por causa do coronavírus em boa parte do País, é o crescimento do turismo doméstico. Estudo da Travel Consul divulgado agora em março mostrou um aumento de 43% em viagens nacionais. Uma pesquisa do Airbnb divulgada no começo de 2021 mostra que uma em cada cinco pessoas deseja que seu destino esteja perto de casa.

“No turismo doméstico, sem dúvida nenhuma, a pandemia foi benéfica”, afirma Jacque Dallal, proprietária da Be Happy Viagens. “Vários passageiros que não olhavam para o Brasil como opção de viagem acabaram olhando, experimentaram, gostaram e estão repetindo.”

Mas parte do setor tem dúvidas de que a tendência permaneça quando os impedimentos de entrada em outros países não existirem mais. “Um grupo grande que estava habituado a viajar para outros países se dedicou a pesquisar sobre o Brasil e descobriu coisas interessantes, mas não mantém o mesmo padrão de gastos aqui. Assim que puderem, voltam para os destinos internacionais”, defende Mariana Aldrigui.

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Além disso, algumas mudanças estruturais são necessárias para consolidar e impulsionar a retomada do turismo doméstico. “O que pode realmente impactar o turismo doméstico é se, para compensar a baixa irremediável nas viagens de negócio, as companhias aéreas redesenharem suas malhas pensando nos viajantes a turismo. Novas rotas com voos duas vezes por semana ligando capitais e cidades de porte médio diretamente a destinos turísticos podem abrir novos caminhos para o turismo doméstico de massa”, afirma Ricardo Freire, sócio do portal Viaje na Viagem.

A retomada do turismo estrangeiro no Brasil segue sem previsões consistentes e preocupa o setor. “A imagem corrompida, manchada, especialmente por questões sanitárias, é muito difícil de reverter. Já não éramos uma potência em termos de atração de turistas internacionais. Ficamos mais de uma década estagnados nos 6 milhões de visitantes, dos quais pelo menos 40% eram turistas de negócios. Público que deve ser o último a retornar”, alerta Mariana Aldrigui. “É preciso entender que todas as medidas de contenção da contaminação e aceleração das vacinas são urgentes”, afirma.

Retomada vai durar anos

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Levantamentos internacionais da McKinsey&Co e da Euromonitor preveem lenta recuperação da indústria turística no próximos anos, com retomada mais consistente a partir de 2023 e 2024, dependendo do país.

O mercado que envolve viagens a lazer, que foi o primeiro a iniciar a retomada de atividades ainda em meados do ano passado, provavelmente será o primeiro a se recuperar, principalmente no mercado de luxo. “Há vontade e recursos para viajar neste segmento”, diz Simon Mayle, executivo do setor. “Mas vale lembrar que algumas pessoas só ficarão confortáveis para viajar após a segunda dose da vacina”, conclui. Segundo o estudo da Travel Consul, mais da metade das pessoas (60%) ainda está adiando suas viagens no mundo todo. Dentre elas, 33% ainda não veem data favorável definida para voltar a viajar.

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O setor de eventos, por sua vez, deve ser o último a se recuperar globalmente. “O cenário das viagens corporativas e negócios vai demorar mais para voltar. A mudança da dinâmica de trabalho vai interferir também, porque o home office vai continuar para muita gente”, explica Simon.

A maioria das agências de viagem estima poder ver um número maior e mais consistente de reservas somente após as vacinas serem administradas mais amplamente —inclusive para as viagens nacionais.  “Se até o fim do ano a gente recuperar a autonomia de viajar pelo Brasil sem riscos (e sem culpa), já terá sido uma grande conquista. O que vai acontecer no turismo internacional ainda é uma grande incógnita. Se tivermos sorte, em algum momento do segundo semestre talvez possamos viajar para alguns países com uma combinação de vacina + PCR negativo”, avalia Ricardo Freire.

Na retomada pós-pandemia, não devem ocorrer grandes mudanças de comportamento por parte do viajante brasileiro, segundo Freire. “Os viajantes reagem às condições vigentes, às oportunidades, ao câmbio, suas necessidades e desejos. O viajante médio continuará viajando para onde o seu tempo e o seu dinheiro puderem levar. Viajar para o exterior continuará sendo o objeto do desejo; e, depois de dois anos ‘preso’, mais ainda.” Para o empresário, uma hora, tudo deve se normalizar. “Quando a pandemia acabar, vai ser a vez de quem ficou em casa fazer viagens de réveillon fora de hora. Vai chegar um dia em que viajar vai deixar de ser fuga para voltar a ter o significado que tinha antes para cada um”, afirma Ricardo.