Uma das caminhadas mais famosas do Nepal tem como principal atração uma janela para o Monte Everest, o ponto mais alto do mundo. Durante cerca de 12 dias, o visitante percorrerá trilhas de tirar o fôlego até atingir o acampamento-base da montanha. A aventura ocorre dentro do Parque Nacional Sagarmatha, colado à fronteira com o Tibete, numa rota traçada no vale do Khumbu, nome de um glaciar enorme que desce do ventre do gigante. O trajeto é considerado de nível médio pelos guias. Não é preciso ser atleta para completá-lo, mas alguns meses de atividade física constante são recomendáveis antes da viagem. É comum encontrar pelas trilhas grupos grandes, com pessoas de idades que variam entre 25 e 50 anos. Em outubro, a melhor época para o trekking, a temperatura varia entre 15°C e -12°C. A aventura começa em Lukla, um pequeno povoado a 2.800 metros de altitude. A primeira visão de Lukla é chocante. Guias acostumados às trilhas contam que a região está entre as poucas do mundo onde as altitudes são tão abruptas. Ao mesmo tempo, vê-se um rio dois quilômetros abaixo e uma montanha cujo pico está quatro quilômetros acima. As dimensões são majestosas. O caminho percorrido é uma espécie de vai-e-volta. Dos 12 dias, 9 são gastos na ida e apenas 3 no retorno. A subida torna-se longa, sobretudo pelo esforço exigido em altitudes acima de 3 mil metros. Com menos oxigênio, fica mais difícil caminhar. A trilha é movimentada e por ela transitam homens com cargas de até 60 quilos nas costas, crianças, mulheres nepalesas e o yak, um bovino pequeno, indispensável à sobrevivência dos habitantes. O caminho também está repleto de rios e pontes. Há vãos vertiginosos. Os alojamentos do meio da trilha são simples e tornam-se cada vez mais rústicos à medida que se avança rumo ao topo. No começo, são de pedra, depois, de madeira. Às vezes há quartos. Em outras, apenas divisórias separando os visitantes. Os banheiros, invariavelmente, não são mais do que um buraco no chão. E também não há chuveiros, mas banhos quentes em baldes podem ser providenciados em quase toda a trilha. Nas vilas pequenas às margens do caminho, almoça-se fartamente. Muito macarrão, ovo, pão e fritura, além de sopas e chá à vontade. No quinto dia de caminhada, chega-se ao monastério de Temboche, maior templo budista do vale. Pouco depois, surge o Everest, com seus 8.850 metros de altitude. No sétimo dia atinge-se Dimboche, o último vilarejo permanente do Khumbu, a 4.200 metros. A partir dali, as florestas, que já ficaram para trás, dão lugar a arbustos de um vermelho intenso que se mesclam às várias tonalidades de bege das rochas e ao branco e azul dos picos nevados. Estamos perto do Shangri-lá verdadeiro e muito próximos do nosso objetivo, o Kalla Pattar. Trata-se de um ponto de observação para o acampamento-base dos escaladores do Everest e para o próprio gigante. As pessoas ficam emocionadas e, dali para baixo, no caminho de volta a Lukla, é como pisar em nuvens.
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