Foto: Ed Viggiani/Estadão
Apresentador conversou por sete horas com repórteres do jornal em 1987
Foto: Ed Viggiani
“Eu entrei uma vez num circo de bairro e o domador, meio bêbado, me disse: “O povo é uma fera, mas você domina o povo. O povo sente o que você é, sente a tua firmeza, o teu pulso. Você tem essa facilidade de domar o povo, de domar a fera. Sou domador e sinto isso em você. Eu nunca mais esqueci isso. Fazem 30 anos. É o que eu faço na televisão”.
Foto: Ed Viggiami/Estadão
“Já ganhava algum dinheiro apostando nos tacos dos caras que jogavam sinuca nos bares. A sinuca era separada por uma geladeira frigorífica, menor de idade não podia entrar, então eu ficava o dia todo do outro lado, olhando e apostando. Mas aí minha mãe chegou e disse: “Vai ter de trabalhar, senão leva porrada!” Foi aí que virei camelô”.
Foto: Ed Viggiani/Estadão
“Eu fazia mágica, engolia dedal, tirava moedas da orelha e do nariz das pessoas, ajuntava 200 pessoas. Aí eu oferecia as canetas, nunca ganhei tanto dinheiro. Trabalhava só das 11 até 11h50, enquanto o guarda municipal almoçava, e ganhava por dia o equivalente a três salários mínimos. Desde então eu nunca soube o que era falta de dinheiro. Sempre tive mais do que precisei”.
Foto: Acervo Estadão
“Posso ser locutor?” Podia. Fui para rádio Continental em Niterói e de madrugada voltava para o Rio sozinho na barca. Vinha com as prostitutas na última barca, uma porção de mulheres e eu sozinho, a barca deslizando, um lugar bonito, só faltava a música. Então montei um serviço de alto falante na barca, virei locutor da barca, contratei quatro locutores depois, fui ser corretor de anúncios para alimentar a barca, vendi cerveja e guaraná na barca, era dinheiro que não acabava mais.”
Foto: Ed Viggiani/Estadão
“Nessa altura eu já fazia a Caravana do Peru que Fala. É. Eu trabalhava só até meio dia. O Manoel da Nóbrega era o apresentador principal e me gozava muito. Eu não tinha ainda este desembaraço, tinha vergonha, ficava vermelho. O Nóbrega me chamava de Peru. Ele tinha uma caravana — ele, o Ronald Golias e o Carlos Alberto, mais o Canarinho, e a Tânia Castilho — que iam de circo em circo. Às vezes eu ia junto, mas não gostava, pois sempre desconfiei que os donos do circo roubavam na bilheteria. Eu não queria dividir assim”.
Foto: Ed Viggiani/Estadão
A partir daí o Baú só cresceu. Mas o Manoel da Nóbrega ficou assustado. É. Disse: “Sílvio, você é muito aventureiro. Não posso mais. Com o Alemão, paguei do meu bolso; com você não posso pagar. Morro, vou para a cadeia! Então ele saiu do Baú. No cadastro que a Estrela pediu a meu respeito, e que vi depois, estava escrito: “Cidadão muito loquaz (tive até de ir no dicionário, ver o que significava loquaz), ótimo vendedor, mas cuidado, o negócio dele é perigoso, muito risco.”
Foto: Ed Viggiani/Estadão
“A Íris, minha mulher, me chama de moralista. Ela é menos do que eu. Gostaria que minhas filhas se casassem virgens, e a Íris acha que não. Sou machista.”
Foto: Ed Viggiami/Estadão
Um dia cheguei aqui em casa e tinha um casal esperando na porta. “Senhor Sílvio, o meu filho morreu...” Mas morreu de quê? “Eu tinha o Ciam e ele morreu”. O senhor sabe, eu não tenho culpa, eu não sou médico. “Não, eu sei, mas o meu filho morreu...” Fiquei sem saber o que falar. Aí fiquei pensando: quando o cara vem reclamar que recebeu uma panela furada, eu ligo para o João Pedro e devolvo a panela. Quando vieram reclamar que o cara vendeu títulos de capitalização e mentiu, dizendo que o comprador ia ganhar uma casa, eu mando devolver o dinheiro. Mas como vou fazer quando vieram na minha casa reclamar uma vida humana? Eu não posso devolver o filho. Aí eu disse: “Vou parar com isso”..